Os mais recentes dados da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), a agência de tempo e clima do governo dos Estados Unidos, reforça o entendimento da MetSul Meteorologia de que não se pode garantir a ocorrência de um evento de La Niña nos próximos meses e que, caso ocorra, tende a ser muito fraco e no limite da faixa de neutralidade, além de ser muito breve.
O Centro de Previsão Climática (CPC) da NOAA publicou ontem a sua atualização mensal com as estimativas de probabilidade para La Niña, neutralidade e El Niño durante os próximos meses e os cálculos indicam que o Pacifico deve ficar entre La Niña muito fraca ou uma situação de neutralidade, que é a condição atual.
De acordo com a atualização mensal, Para o trimestre outubro a dezembro as probabilidades informadas pelo CPC são de 71% de La Niña, 39% de neutralidade e 0% de El Niño. Já para o trimestre de novembro de 2024 a janeiro de 2025 o indicativo da NOAA é de 75% de probabilidade de La Niña, 25% de neutralidade e 0% de El Niño.
Para o trimestre climatológico de verão, de dezembro a fevereiro, as probabilidades de acordo com a NOAA são de 71% de La Niña, 28% de neutralidade e 1% de El Niño. No trimestre de janeiro a março de 2025, as estimativas informadas foram de 60% de La Niña, 38% de neutralidade e 2% de El Niño. Em fevereiro a abril, 46% de La Niña, 51% de neutro e 3% de El Niño.
Já para o trimestre climatológico de outono de 2025, que compreende os meses de março a maio, as estimativas da NOAA são 32% de La Niña, 63% de neutralidade e 5% de El Niño. Para o trimestre abril a junho de 2025, os valores informados foram 20% de La Niña, 68% de neutralidade e 12% de El Niño. Finalmente, no trimestre de maio a julho do próximo ano, 18% de La Niña, 63% de neutralidade e 19% de El Niño.
A atualização de outubro da NOAA apenas confirma o que a MetSul Meteorologia vinha destacando reiteradamente: as estimativas de La Niña pela agência norte-americana estavam superdimensionadas com probabilidades acima do provável.
Basta comparar o boletim da NOAA de outubro com os dos últimos meses. Para este trimestre setembro a novembro, a agência norte-americana projetava em julho 78% de chance de La Niña. Em agosto, o número caiu para 66%. Em setembro, subiu para 71% de novo. E, agora, baixou para 60%.
O que acreditamos irá ocorrer
Hoje, de acordo com o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, publicado no começo desta semana, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central-Leste (região Niño 3.4) está em -0,4ºC. O valor está na faixa de neutralidade (-0,4ºC a +0,4ºC).
Se a La Niña se formar, o que consideramos possível porém duvidoso, a declaração se daria muito mais tardiamente que o habitual, normalmente no inverno ou mais tarde no começo da primavera.
Aliás, a tendência, de acordo com o nosso entendimento na MetSul Meteorologia, é de continuidade da fase neutra do Oceano Pacífico ao menos no curto prazo. Não projetamos que de forma iminente seja declarado um evento, considerando as condições atuais.
Embora a NOAA estime probabilidades de até 75% de La Niña, não estamos convencidos na MetSul Meteorologia de uma probabilidade tão alta. A NOAA tem superestimado as probabilidades de La Niña por meses, como destacado.
O que enxergamos para os próximos aponta dois possíveis cenários e são dois justamente porque as condições que esperamos são limítrofes, numa faixa muito perto de La Niña e neutralidade, ao redor de -0,5ºC de anomalia.
No primeiro cenário, um evento de La Niña se instala entre a segunda metade da primavera e o verão, mas seria muito fraco e breve com possibilidade ainda de aquecimento do Pacifico Leste na costa peruana que contraporia os efeitos do resfriamento no Pacífico Central. Já no segundo, o Pacífico segue em neutralidade, mas com anomalias de temperatura do mar negativas e perto de valores de La Niña, borderline, mas sem um caracterização do fenômeno.
Mesmo se os norte-americanos vierem a declarar um declarar um evento de La Niña, muito provavelmente os australianos não o farão. Isso porque o patamar mínimo para La Niña da agência norte-americana (NOAA) é de -0,5ºC enquanto para a agência de Meteorologia da Austrália (BoM) é de -0,8ºC.
O que é o fenômeno La Niña e como impacta o Brasil
O fenômeno tem impactos relevantes no sistema climático global, sendo caracterizado por temperaturas abaixo do normal na superfície do Oceano Pacífico equatorial central e oriental. Essa condição contrasta com o El Niño, sua contraparte quente, e faz parte do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que influencia os padrões climáticos em todo o mundo.
Durante um evento La Niña, as águas do oceano Pacífico equatorial central e oriental ficam mais frias do que o normal. Isso tem efeitos significativos nos padrões de vento, precipitação e temperatura ao redor do globo. A última vez em que a fase friaesteve presente foi entre 2020 e 2023 com um longo evento do fenômeno que trouxe sucessivas estiagens no Sul do Brasil e uma crise hídrica no Uruguai, Argentina e Paraguai.
No Brasil, os efeitos variam de acordo com a região. O Sul do país geralmente experimenta menos chuva enquanto o Norte e o Nordeste registram um aumento das precipitações. Cresce o risco de estiagem no Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, embora mesmo com a La Niña possam ocorrer eventos de chuva excessiva a extrema com enchentes e inundações.
Além da chuva, o fenômeno também influencia as temperaturas em diferentes partes do mundo. No Sul do Brasil, o fenômeno favorece maior ingresso de massas de ar frio, não raro tardias no primeiro ano do evento e precoces no outono no segundo ano do episódio. Por outro lado, com estiagens, aumenta a probabilidade de ondas de calor e marcas extremas de temperatura alta nos meses de verão no Sul.
Em escala global, quando o fenômeno está presente há uma tendência de diminuição da temperatura planetária, o que nos tempos atuais significa menos aquecimento da Terra. O aquecimento do planeta, entretanto, foi tamanho recentemente que a temperatura média do planeta hoje em um evento de La Niña forte tende a ser mais alta que em um evento de forte El Niño décadas atrás.
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