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Foto mostra homem jorrando água na cabeça durante onda de calor no Rio de Janeiro

Aquecimento do planeta favorece períodos quentes mais extremos e prolongados no Brasil sem necessariamente tornar o país inabitável por suas temperaturas | FÁBIO TEIXEIRA/ANADOLU/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Você possivelmente deve ter lido nos últimos dias alguma manchete ou reportagem sobre o clima no Brasil no futuro, destacando que o nosso país vai ficar inabitável até 2070 devido ao aquecimento do planeta, citando um suposto estudo da NASA, a agência espacial dos Estados Unidos.

Então, é verdade que a NASA prevê que o Brasil ficará inabitável devido às mudanças no clima até 2070? Não. As muitas matérias publicadas pela imprensa afirmam o que não está no estudo original publicado e com tom fatalista noticiam o que não estudo algum demonstrando irá ocorrer.

Vamos entender o que aconteceu? Surpreendentemente, como uma onda, a imprensa nacional passou a noticiar nos últimos dias que o Brasil se tornará inabitável até 2070 pelo aquecimento do planeta.

Por que surpreendente? O estudo original foi publicado em 2020, portanto quatro anos atrás, e do nada um veículo atrás do outro começou a informar a tal previsão sem oferecer o devido contexto ao leitor.

Mas como surgiu esta suposta previsão? No ano de 2020, logo quatro anos atrás, três pesquisadores publicaram na revista Science, uma das mais respeitadas do mundo, um estudo intitulado “The emergence of heat and humidity too severe for human tolerance” (em tradução livre “O surgimento de calor e umidade severos demais para a tolerância humana”).

Em 2022, uma das páginas da NASA na internet publicou uma nota intitulada “Quente demais para lidar: como as mudanças climáticas podem tornar alguns lugares quentes demais para se viver”. Aí começa a confusão feita por vários veículos de imprensa.

O artigo original de 2020 não faz qualquer menção ao Brasil, mas a nota da NASA de dois anos depois traz o Brasil em seu texto. O que diz a nota? “As áreas mais vulneráveis incluem o Sul da Ásia, o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho por volta de 2050; e o Leste da China, partes do Sudeste da Ásia e o Brasil até 2070”.

Em nenhum momento, contudo, a nota da agência espacial dos Estados Unidos informa que o Brasil inteiro se tornará inabitável até o ano de 2070. O clima brasileiro varia muito de uma região para outra e o país possui uma área de proporções continentais, assim que a temperatura pode se tornar extrema demais no futuro em algumas áreas do Brasil, mas não em todo o território nacional.

O estudo original de 2020 mapeou episódios de calor extremo ou excepcional ao longo de várias décadas no mundo. Os pesquisadores do estudo da Science se valeram da chamada temperatura de bulbo úmido com patamar acima de 35ºC.

A temperatura de bulbo úmido não é a mesma do ar circulante, que estamos habituados a ver na previsão do tempo, sendo um dado que leva em conta a temperatura e umidade, o que permite avaliar o estresse térmico para a fisiologia do ser humano.

Embora temperaturas acima de 35ºC do bulbo úmido sejam muito perigosas para a saúde das pessoas com risco até de mortes por choque de calor, elas não significam a extinção da vida. Tanto que já ocorreram em áreas do Oriente Médio como do Golfo Pérsico, e mesmo no subcontinente asiáticos, em países como Índia e Paquistão, onde o período de transição entre o calor extremo de março a maio para as monções pode gerar calor úmido excepcional.

No ano passado, um outro estudo na mesma linha de suportabilidade do calor inclui o Brasil em áreas de risco no futuro devido às mudanças climáticas. O trabalho, publicado na revista Nature e divulgado à época pela MetSul Meteorologia, afirma que o aquecimento global tirará bilhões de pessoas do seu “nicho climático” no qual a humanidade floresceu por milênios.

O estudo inédito afirma que o aquecimento exporá uma enorme parcela da população mundial a temperaturas sem precedentes e climas extremos que tornaria o calor intolerável em várias áreas do planeta. Entre as áreas de maior risco estão o Norte e o Nordeste do Brasil, especialmente na região amazônica.

O que diz a ciência consolidada? Os relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) prognosticam que o Brasil inteiro deve aquecer durante as próximas décadas com temperaturas médias mais altas, mais ondas de calor intensas e prolongadas e, dependendo dos cenários de emissões, maior ou menor aquecimento. A região amazônica, em particular, é de grave risco nos piores cenários.

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