O Nordeste dos Estados Unidos enfrenta um desastre natural como poucas vezes se viu até hoje na região. A depressão tropical Ida trouxe inundações repentinas e tornados com dezenas de mortes confirmadas até o final da tarde desta quinta em Connecticut, Maryland, Nova York, Nova Jersey, Pensilvânia e Virgínia, mas o número de vítimas deve aumentar.
Em Nova Jersey, 23 pessoas morreram na tempestade, de acordo com o governador Phil Murphy. A maioria foi de pessoas que foram apanhadas em seus veículos pelas enchentes repentinas e foram “engolidas pelas águas”, disse. Em Nova York eram 13 mortes confirmadas até o final da tarde desta quinta, 12 apenas na cidade de Nova York. Connecticut tinha uma vítima fatal, mesmo número em Maryland e a Pensilvânia contabilizava três mortes.
Na cidade de Nova York, as chuvas transformaram as ruas em rios e inundaram dezenas de milhares de casas e apartamentos. O serviço de metrô praticamente parou com estações tomadas pelas águas. O escritório do Serviço Meteorológico Nacional em Nova York declarou uma emergência de inundação repentina, aviso raro para situações em que a inundação está “levando a uma grave ameaça à vida humana e danos catastróficos” que jamais tinha sido emitido para a área de Nova York.
As mortes e destruição da quarta-feira no Nordeste dos Estados Unidos incluirão Ida na lista dos furacões catastróficos da história dos Estados Unidos como Camille de 1969 e Ivan de 2004 que primeiro causaram desastres na Costa do Golfo do México e depois inundações enormes na costa Leste norte-americana. O rio Schuylkill, no centro da Filadélfia, atingiu hoje seu nível mais alto desde a famosa tempestade Saxby de 1869, logo após o fim da Guerra Civil Americana.
Bilhões de litros de água por hora
Na cidade de Nova York, o mapeamento da chuva nos cinco boros da cidade mostrou 213 mm em Staten Island, 201 mm no Bronx, 191 em Manhattan, 196 mm no Queens e 170 mm no Brooklin. De acordo com cálculo feito pela rede de televisão norte-americana CNN, considerando uma média de 6,8 polegadas (173 mm) de chuva que caiu e a área, choveu na cidade de Nova York 132 bilhões de litros de água entre 19h de quarta e 0h de hoje, o equivalente a 50 mil piscinas olímpicas em apenas cinco horas.
Os volumes foram excepcionalmente altos em curtos períodos. Com base na estação oficial do Central Park, a chuva em uma hora de 80 mm tem recorrência de 200 anos. O volume de 118,1 mm em duas horas recorrência de 500 anos. Os registros de 132,0 mm em três horas e de 173,2 mm em seis horas igualmente possuem recorrência estimada de 500 anos. O total de chuva na estação na quarta foi de 181,1 mm e o normal do mês é 109,4 mm.
Nova York tem dados desde 1869. A estação anotou semana passada seu recorde de chuva em apenas uma hora de 49,2 mm com a tempestade Henri e só uma semana após o recorde caiu com 80 mm de Ida. Os 118,1 mm da quarta em Nova York fizeram do 1/9/ 2021 o segundo dia mais chuvoso já registrado em setembro, só superado pelos 210,3 mm de 23/9/1882. Nas últimas duas semanas, de 21 de agosto a 3 de setembro, o Central Park registrou 403,8 mm, superando os 386,8 mm de 11 a 24 de setembro de 1882 como a quinzena mais chuva da cidade já registrada desde o começo das medições em 1869.
Muito perto da cidade de Nova York, a precipitação total da quarta-feira de 213,6 mm em Newark, Nova Jersey, foi a maior em qualquer dia do calendário nos registros da cidade que datam de 1843, de acordo com o historiador do clima Christopher Burt. De acordo com Burt, é o maior registro diário de qualquer uma das estações de referência da região de Nova York, superando os recordes diários de chuva das estações do Aeroporto de La Guardia (169,9 mm em 15/4/2007), do eroporto Internacional John F. Kennedy (198,1 mm em 14/8/2011) e do Central Park (210,3 mm em 23/9/1882).
Situação excepcional, evento extraordinário
O Nordeste dos Estados Unidos teve evento extraordinário de chuva porque experimentou situação excepcional. O que restou do furacão Ida, uma depressão tropical, foi intensificado por corrente de jato (vento) ao Sul dos Grande Lagos. Com Ida, a região tinha aporte de umidade tropical, vinda do Golfo do México, um rio voador que trouxe enorme umidade.
A Física explica mais eventos extremos de chuva. É a relação Clausius-Clapeyron. O ar mais quente pode reter mais vapor de água com cerca de 7% a mais de vapor por 1ºC de aquecimento. Quanto mais quente o planeta, mais vapor d’água reterá a atmosfera e maior o risco de eventos extremos de chuva.