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Grande tempestade atingiu Dubai na terça-feira com precipitação equivalente a dois anos em apenas 30 horas. Chuva extrema não se limitou a Dubai e atingiu vários países do Golfo Pérsico. | DUBAI MEDIA OFFICE

Dubai está submersa. Fortes tempestades causaram inundações repentinas em toda a região dos Emirados Árabes Unidos, levando a cenas que impressionaram o mundo. Centenas de voos foram cancelados no movimentado aeroporto internacional de Dubai, e pelo menos 18 pessoas morreram no vizinho Omã.

O acumulado de chuva em Dubai chegou a 162,8 mm em apenas 30 horas com volume de 142 mm em 24 horas. Choveu em 30 horas o equivalente à média de dois anos de precipitação. Estações meteorológicas registraram ainda 170 mm em Qumaira 🇴🇲, 145 mm em Fujairah e 130 mm no Aeroporto Internacional de Sharjah, perto de Dubai.

Diante de tamanho dilúvio numa área desértica começaram a surgir comentários e especulações na imprensa e até por especialistas em clima no Brasil e no exterior sobre a possibilidade de a técnica de semeaduras de nuvens realizada na região ter influenciado a chuva extrema;

Então, não há qualquer evidência fática ou científica nesse sentido. Os Emirados Árabes Unidos têm um programa em andamento para tentar extrair mais chuva das nuvens que passam sobre a região normalmente árida com equipe de pilotos que pulveriza partículas de sal em tempestades.

Ocorre que os fatos conhecidos não sustentam uma relação entre o dilúvio de Dubai e a semeadura de nuvens. Os Emirados Árabes Unidos realizaram missões de semeadura de nuvens nesta semana, afinal são mais de 300 por ano, mas o Centro Nacional de Meteorologia dos Emirados Árabes informou que não semeou nuvens antes da tempestade da terça-feira.

A técnica de semeadura de nuvens é controversa quanto aos seus benefícios e mesmo as avaliações mais otimistas afirmam que pode aumentar a precipitação em um máximo de 25 por cento anualmente. Em outras palavras, teria chovido demais de qualquer maneira, e isso se a semeadura de nuvens tivesse algum impacto.

Além disso, a eficácia da técnica é muito contestada em climas quentes, e ainda que funcione, a semeadura de nuvens não pode produzir chuva do nada, só poderia aumentar o que já está no céu. Não bastasse, no caso dos Emirados Árabes, as operações de semeadura tendem a acontecer no Leste do país, longe de áreas mais populosas como Dubai. Isso se deve em grande parte às restrições por tráfego aéreo, logo improvável que quaisquer partículas de semeadura ainda estivessem ativas quando as tempestades alcançaram Dubai.

O consenso entre os cientistas que acreditam na técnica é que o impacto da semeadura de nuvens tem efeito muito pequeno e localizado, sendo improvável que cause inundações em outras áreas. Assim, como a chuva intensa a extrema ocorreu numa área muitíssimo ampla, compreendendo quatro países, logo impossível que a semeadura tenha sido a causa da chuva volumosa numa área tão abrangente.

NCM

A prova cabal de que a semeadura de nuvens não foi a causa do dilúvio em Dubai é justamente o fato de que choveu em toda a região e muito. Omã não fez nenhuma semeadura de nuvens, mas foi ainda mais afetado pelas inundações que os Emirados, com 18 mortes. A chuva na estação de 302 mm in Mahadha, em Omã, chegou a impressionantes 302 mm. Choveu com volumes extremos ainda em Bahrein e no outro lado do Golfo, no Irã.

PAK WEATHER

O Centro Nacional de Meteorologia (NCM), uma força-tarefa do governo responsável por missões de semeadura de nuvens nos Emirados Árabes Unidos, negou relatos de que realizou a técnica de modificação do clima antes das fortes tempestades em todo o país, exacerbando assim as inundações em lugares como Dubai.

A organização disse à rede norte-americana CNBC que não despachou pilotos para operações de semeadura antes ou durante a tempestade que atingiu os Emirados Árabes Unidos na terça-feira. Omar AlYazeedi, diretor-geral adjunto do NCM, afirmou que “um dos princípios básicos da semeadura de nuvens é que você tem que direcionar as nuvens em seu estágio inicial antes de chover, se você tiver uma situação de tempestade severa, então é tarde demais para realizar qualquer operação de semeadura”.  O diretor-geral adjunto acrescentou: “Levamos muito a sério a segurança de nossa população, pilotos e aeronaves. O NCM não conduz operações de semeadura de nuvens durante eventos climáticos extremos.”

Segundo a agência Associated Press, relatos de meteorologistas locais dão conta de que o Centro Nacional de Meteorologia realizou seis ou sete voos de “semeadura de chuvas” antes das tempestades. A agência de notícias localizou registros de monitoramento de aviões de pelo menos um desses voos.

Dubai, embora a sua modernidade e arquitetura futurista, é cidade muito mal preparada para enfrentar chuva excessiva. A cidade se expandiu rapidamente ao longo das últimas décadas, com pouca atenção dada no passado à infraestrutura de macrodrenagem, como galerias pluviais. É em grande parte de concreto e vidro, e há muito pouco espaço verde para absorver a chuva.

No entanto, as mudanças climáticas também podem estar desempenhando um papel. À medida que o planeta se aquece, as dinâmicas climáticas complexas da região estão se alterando e mudando de formas que podem trazer tempestades mais violentas. Os urbanistas ao redor do mundo estão tentando tornar suas cidades mais “esponjosas” para ajudar a lidar com inundações repentinas e salvar mais água para partes mais secas do ano.

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