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Uma das mais populares contas da rede social X, antigo Twitter, especializada em notícias de fofocas de televisão, publicou que “com transição de El Niño para La Niña, Brasil não deve ter mais ondas extremas de calor em 2024”. A informação não é verdadeira e não tem sustentação na história climática do país e tampouco na ciência.

Para entender. Neste momento, oficialmente, de acordo com os critérios da agência de tempo e clima do governo dos Estados Unidos (NOAA), o fenômeno ainda atua no Oceano Pacífico Equatorial e com fraca intensidade.

Nos últimos meses, o fenômeno El Niño provocou sucessivas ondas de calor no Brasil e com quebra de recordes históricos de temperatura máxima em diversas cidades, incluindo a maior do país que é São Paulo.

Foram meses seguidos em que a temperatura média no Brasil foi recorde, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia, acompanhando uma tendência mundial desde o ano passado de aquecimento acelerado do planeta, em parte pelo El Niño e em parte consequência das mudanças climáticas induzidas pelo homem, tal como é consenso na comunidade científica.

Nas próximas semanas, o episódio do fenômeno El Niño declarado em junho de 2023 vai chegar ao fim e o Pacífico Equatorial ingressará numa fase de neutralidade, ou seja, sem El Niño e La Niña. Será o período de transição para um esperado evento de La Niña que deve atuar a partir do segundo semestre no Pacífico.

O fim do El Niño e o retorno da La Niña, entretanto, não significam que o Brasil deixará de experimentar ondas de calor extremo. A história mostra que ondas de calor muito intenso ou extremo ocorrem no país sob qualquer fase do Pacífico: El Niño, neutralidade ou La Niña.

A maior temperatura registrada oficialmente até hoje no Brasil foi de 44,8°C em Nova Maringá, Mato Grosso, em 4 e 5 de novembro de 2020, na grande onda de calor daquele ano no Centro-Oeste e no Sudeste, que tiveram uma primavera excepcionalmente quente. Naquele momento, o Oceano Pacífico estava em condições de La Niña com o chamado ONI (Oceanic Niño Index) de -1,3ºC no último trimestre de 2020, valor que corresponde a La Niña com intensidade moderada.

Em 27 de fevereiro de 2022, a máxima de 42,9ºC em Uruguaiana passa a ser o novo recorde oficial absoluto de temperatura máxima no Rio Grande do Sul desde o começo das medições em 1910, superando os recordes anteriores de 42,6ºC em Alegrete em 19/1/1917 e em Jaguarão em 1º de janeiro de 1943. Tratou-se também do novo recorde oficial de calor para fevereiro no Rio Grande do Sul. E, ainda, recorde absoluto de máxima para fevereiro e qualquer mês do ano em Uruguaiana, batendo as marcas de 42,2ºC de 1986 e 42,0ºC de 1943.

No verão de 2022, as condições no Pacífico eram de La Niña, fenômeno que nos meses quentes do ano favorece ondas de calor mais intensas e prolongadas no Rio Grande do Sul e em países vizinhos porque o clima fica mais seco, proporcionando dias de maior aquecimento em que tempo seco e calor se retroalimentam.

Um mês antes, em janeiro de 2022, sob La Niña, o Rio Grande do Sul enfrentou 15 dias seguidos com temperatura máxima acima de 40ºC. Jamais, em mais de um século de medições, tinha se observado um período tão prolongado de temperatura tão alta no Rio Grande do Sul, superando ondas de calor históricas como a de janeiro de 1943, que tem até hoje o recorde de máxima de Porto Alegre.

Assim, não tem qualquer procedência que com o fim do El Niño e o retorno da La Niña o Brasil deixará de ter ondas de calor. Além do planeta estar passando por um período de aquecimento acelerado, a história está repleta de exemplos de ondas de calor sob La Niña. No caso de áreas mais ao Sul do Brasil, a maioria das piores onda de calor dos últimos 100 anos se deu sob La Niña.

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