Vento Zonda castigou ontem o Norte da Argentina com intensas rajadas, umidade relativa do ar de apenas 1% e forte elevação da temperatura, o que resultou em estragos.
A região mais afetada pelo vento Zonda foi a província de Salta. As autoridades locais atenderam ocorrências de destelhamentos de casas, quedas de árvores e postes. Houve falta de luz em diferentes pontos. A visibilidade em alguns locais devido à poeira levantada pelo vento ficou perto de zero.
#Ahora Se cumple el alerta naranja por Zonda del @SMN_Argentina para sectores del NOA y en la Puna Jujeña no se ve nada debido al polvo levantado por este viento muy fuerte, seco y cálido.
Video de Met. Arg y Mundial. pic.twitter.com/VzPKtC2v9O— Nacho López Amorín (@MeteoNacho) June 23, 2021
O aeroporto de Salta (SASA) registrou às seis da tarde de ontem (21Z) uma temperatura de 29°C com ponto de orvalho de 31°C negativos, logo com um índice de umidade relativa do ar de apenas 1%. As rajadas de vento no horário eram de 89 km/h.
⚠ En las provincias del Noroeste Argentino se está registrando un evento de #zonda muy intenso. En colores amarillos se resalta la tierra y polvo en suspensión provocada por los fuertes vientos. La zona continúa bajo alerta https://t.co/GRjfngFWuF pic.twitter.com/dNg2stumhB
— SMN Argentina (@SMN_Argentina) June 23, 2021
Tempestad de polvo en el Altiplano, fuentes de polvo en Chile y Argentina, el polvo vuela sobre las nubes de Santiago Del E, y a media tarde ya recorrió 500km. Es posible que para mañana llegue a la costa Atlántica pero, probablemente se mantendrá elevado en altura. @MeteoNacho pic.twitter.com/UY7Qbj3S5x
— Santiago Gassó (@SanGasso) June 23, 2021
O Serviço Meteorológico Nacional da Argentina (SMN) havia emitido um alerta de forte episódio de vento Zonda para a região durante a quarta-feira.
O que é o vento Zonda
O Zonda é um vento típico do Oeste argentino e se caracteriza por ser persistente e com intensas rajadas. É muito quente e extremamente seco, não raro reduzindo a umidade relativa do ar a valores até abaixo de 5% a 10%. O Zonda descende das montanhas dos Andes e sua direção predominante é de Oeste.
Ocorre em regra quando há instabilidade no outro lado da Cordilheira dos Andes, no lado chileno da cadeia montanhosa. Rajadas acima de 100 km/h podem ocorrer e costumam ocorrer transtornos como falta de luz e destelhamentos, queda de árvores, além de alto risco de incêndios. A temperatura se eleva acentuadamente, especialmente na região de Mendoza.
De acordo com o Serviço Meteorológico Nacional da Argentina, o Zonda se produz quando o ar úmido do Oceano Pacífico ascende pela Cordilheira do Andes, deixa a sua umidade no lado chileno e descende no lado argentino com ar muito seco que esquenta rapidamente à medida que descende no setor argentino da cadeia montanhosa.
O SMN enfatiza que pode ocorrer em qualquer época do ano, mas é mais recorrente entre os meses de maio e agosto. Ainda segundo o órgão meteorológico argentino, é mais comum se dar em horas da tarde que em outros momentos do dia. Às vezes não alcança a superfície e se denomina de “Zonda de altura”.
Fenômeno semelhante ocorre em outras partes do mundo com cadeias montanhosas com diferentes nomes. São os casos do Chinook nos Estados Unidos e no Canadá, Foehn nos Alpes europeus, Canterbury na Nova Zelândia e vento Berg na África do Sul.
Impactos do Zonda nas pessoas
Segundo o SMN, o vento Zonda tem efeitos no ser humano e que são estudos pela chamada Biometeorologia. O vento muito seco e quente, diz o órgão, pode trazer alteração do ritmo cardíaco, irritabilidade, angústia e depressão, o que já foi documentado em diversos estudos em diferentes partes do mundo.
Ademais, existem estudos que apontam um aumento das ocorrências de acidente de trânsito, mortes por enfarte e atos e violência e criminosos. Na Europa, a legislação até considera a ocorrência do vento Foehn, quando do julgamento de delitos cometidos sob a sua incidência.
Rio Grande do Sul tem vento semelhante ao Zonda
O meteorologista da MetSul Luiz Fernando Nachtigall explica que o processo físico que leva ao vento no Oeste argentino é conhecido como aquecimento adiabático em que o ar ao descender a montanha com o forte vento se comprime e aquece, trazendo o calor.
“É o mesmo processo que traz calor durante a noite e madrugada com rajadas de vento Norte em Santa Maria e nos vales do Rio Grande do Sul quando há uma corrente de jato em baixos níveis precedendo uma frente fria ou acompanhando a formação de um ciclone”, destaca Nachtigall.