As marés baixas dos últimos dias secaram alguns dos canais de Veneza, oferecendo aos turistas o espetáculo incomum de gôndolas presas em bancos de lama. Este é um fenômeno “absolutamente normal”, disse Alvise Papa, chefe do centro de previsão de marés de Veneza, à AFP.

Canais de Veneza secaram com maré baixa | MARCO SABADIN/AFP/METSUL METEOROLOGIA

“Cerca de 70% dos fenômenos de maré baixa ocorrem justamente nesse período, de janeiro a fevereiro”, explicou Papa. As marés baixas não chegam a ser suficientes para secar os canais, mas este ano foram acompanhadas de alta pressão atmosférica no quadro de um anticiclone que impediu a chegada da chuva.

Até 2007-2008, este fenômeno “ocorria todos os anos, depois não houve marés baixas como as registadas nos últimos dias”, comentou. Os turistas ficam curiosos para ver claramente as fundações de alguns prédios que ficam à beira dos canais.

Desde outubro de 2020, um sistema de diques artificiais chamado MOSE (Moisés em italiano) foi implementado desde que a elevação das águas do Mar Adriático atinge um nível de alerta de 110 cm.

Questionado sobre uma possível relação entre a espetacular maré baixa dos últimos dias com o episódio de seca que afeta uma parte da Europa ou o aquecimento global, o especialista respondeu que não. “A partir de amanhã (quarta-feira), voltaremos à normalidade”, concluiu com otimismo.

Mas na França é a seca que impressiona. O país igualou seu recorde de seca de 31 dias sem chuvas significativas, informou o serviço meteorológico do país na terça-feira, em meio a preocupações com as reservas de água em partes da Europa que ainda sofrem com a forte seca do ano passado. O recorde anterior de um período de seca no inverno na França era de 22 dias em 1989.

Com chuvas em todo o país de menos de um milímetro por dia desde 21 de janeiro, o serviço meteorológico Meteo France disse que a ausência de precipitação iguala o recorde estabelecido na primavera de 2020. O inverno é normalmente um período crucial para recarregar os níveis das águas subterrâneas com chuvas.

Este número de dias sem chuva “nunca foi visto” no inverno antes em registros que remontam a 1959, disse a Meteo France na terça-feira. O mês passado foi o terceiro janeiro mais quente já registrado na Europa, com as temperaturas no dia de Ano Novo atingindo máximas históricas em algumas partes do continente, de acordo com o monitor climático Copernicus (C3S) da União Europeia.

Isso aconteceu depois que a Europa sofreu seu segundo ano mais quente em 2022, com França, Grã-Bretanha, Espanha e Itália estabelecendo novos recordes de temperatura média, agravados por uma seca severa. Safras foram perdidas e a seca histórica, sem precedentes em séculos, gerou uma intensidade recorde de incêndios florestais e colocou forte pressão na rede elétrica e nas reservas de água do continente.

O serviço World Weather Attribution calculou no ano passado que a seca agrícola e ecológica no Hemisfério Norte era pelo menos 20 vezes mais provável por causa da mudança climática causada pelo homem, alertando que tais períodos de seca extrema se tornariam cada vez mais comuns com o aquecimento global.

Na Espanha, um dos países europeus mais expostos ao risco de seca, também há preocupação com as atuais reservas de água. Barcelona e grandes áreas da região nordeste da Catalunha, na Espanha, impuseram restrições de água devido à falta de chuva. As medidas incluem a proibição do uso de água potável para lavar o extrior de casas ou carros ou para encher piscinas, e a redução da quantidade de água utilizada para irrigação. Mas o recorde do país em 1962, de 79 dias com não mais de 1 mm de chuva, ainda permanece.

Os Alpes italianos tiveram 53% menos neve do que o normal, reduzindo a quantidade de água derretida no Vale do Pó, o principal centro agrícola do país. A vazão do rio Pó estava chegando ao nível mais baixo de todos os tempos em pelo menos duas cidades na semana passada, de acordo com o órgão nacional que supervisiona a gestão de recursos de irrigação e terras.