Ciclone extratropical na imagem de satélite do último fim de semana quando estava sobre o Atlântico Sul na costa da América do Sul a Leste do Rio da Prata | NOAA

Um ciclone extratropical intenso no Atlântico Sul influenciou as condições do tempo e do mar no Brasil no começo desta semana. O sistema foi responsável por impulsionar uma massa de ar frio que derrubou a temperatura no Sul e parte do Sudeste do Brasil com geada e mínima de até 0ºC em Santa Catarina e 1ºC no Paraná. Em São Paulo, a temperatura no Sul da capital paulista baixou a 12ºC ainda no começo de abril.

Embora um noticiário na imprensa repleto de equívocos de que o ciclone chegou ao Brasil, o sistema na realidade se formou sobre o mar nas latitudes de Buenos Aires (Argentina) e seguiu sobre o oceano durante todo o tempo de sua atenção, em nenhum momento se aproximando da costa brasileira.

Como se tratava de um ciclone intenso no Atlântico Sul, com vento equivalente à força de um furacão em alto mar a uma grande distância do continente, a intensa ventania sobre o oceano acabou gerando forte ondulação no que é conhecido como swell e que atingiu os litorais do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro com ressaca e maré de tempestade.

Dois banhistas desapareceram no domingo nas praias de Bertioga e Guarujá, no litoral de São Paulo, durante a forte ressaca.  Segundo o Grupamento de Bombeiros Marítimos (GBMAR), um dos desaparecidos tinha 23 anos e era morador de Guarulhos (SP) e o outro não foi identificado. A vítima que se afogou no Guarujá entrou na água no bairro Pitangueiras, quando acabou surpreendida por ondulação na corrente de retorno e desapareceu. A outra vítima sumiu na praia de Bertioga.

Tratou-se de um ciclone bomba. O sistema originou-se a partir de um centro de baixa pressão na costa de Buenos Aires na sexta (31/3) e que no sábado (1/4) passou por um processo de rápido aprofundamento com queda da pressão atmosférica no centro do sistema de 24 hPa em 24 horas, conforme dados do modelo europeu, portanto configurando o que se denomina de um ciclone bomba. Na manhã do domingo, a tempestade no Atlântico Sul estava a cerca de dois mil quilômetros a Sudeste do litoral gaúcho nas coordenadas 36ºS e 35ºW. Sua pressão central estava ao redor de 982 hPa.

Os ventos intensos e o swell em alto mar do ciclone acabaram por provocar um resfriamento das águas do Atlântico Sul. Observe no mapa com a diferença de temperatura da superfície do mar nos últimos sete dias numa enorme área do Atlântico Sul entre os litorais da Argentina e do Sudeste do Brasil as águas ficaram mais frias nos últimos dias pela influência do sistema do começo desta semana.

O ciclone se afastou nos últimos dias da América do Sul e neste momento está ao Sul da África, aproximando-se da Antártida. Conforme dados do modelo meteorológico europeu, o ciclone atualmente encontra-se na latitude de 50ºS e na longitude de 10ºE.

FSU

Uma vez que a posição do ciclone agora é de 10º de longitude Leste, significa que o ciclone cruzou de Hemisfério e se encontra no Hemisfério Oriental do planeta. Como se formou ao redor da longitude 40º Oeste, o sistema já percorreu 50º de longitude na sua trajetória de Oeste para Leste da costa da América do Sul até áreas entre a Antártida e a África do Sul.

Não é incomum que ciclones percorram longas distâncias no Atlântico Sul e alcancem áreas perto da África, especialmente em se tratando de ciclones mais intensos no outono, inverno e primavera. A MetSul já viu casos de ciclones extratropicais que se formaram no Atlântico junto ao litoral da Argentina chegarem em latitudes mais a Oeste do Oceano Índico, ou seja, trocando de oceano.