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El Niño está de volta. Confirmando a previsão feita desde o ano passado, a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos anunciou na manhã de hoje o retorno do fenômeno El Niño após anos.

Conforme o boletim semanal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, divulgado na segunda-feira, a anomalia de temperatura da superfície do mar era de 0,8ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada oficialmente para definir se há um El Niño na forma clássica e de impacto global.

O valor está na faixa de El Niño fraco (+0,5ºC a +0,9ºC) e ficou 0,4ºC acima do medido no boletim da semana passada. A anomalia semanal da temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4 (5°S-5°N, 170-120°W) de +0,8°C é a mais alta desde a semana de 18 de março de 2020.

Por outro lado, a região Niño 1+2, estava com anomalia de +2,3ºC, em nível de El Niño costeiro forte a muito forte. El Niño costeiro não é El Niño clássico ou canônico.

Trata-se de evento oceânico-atmosférico de aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico equatorial nas proximidades das costas sul-americanas, junto ao Peru e Equador, que afeta o clima de países como Peru, Equador e às vezes o Chile.

A NOAA prevê o El Niño ao menos até o começo de 2024 e antecipa que deve se intensificar neste inverno do hemisfério Sul e verão no Norte. De acordo com as projeções da MetSul, o evento deve ter seu pico de intensidade no último trimestre deste ano, entre a primavera e o nosso verão.

O que é El Niño?

O Pacífico equatorial tem três fases: El Niño (quente), neutralidade e La Niña (fria). Em condições normais no Pacífico, os ventos alísios sopram para Oeste ao longo do equador, levando água quente da América do Sul para a Ásia. Para substituir essa água quente, a água fria sobe das profundezas em processo chamado ressurgência.

Durante o El Niño, os ventos alísios enfraquecem e a água quente é empurrada para Leste, em direção à costa Oeste das Américas, notadamente Peru e Equador.

Existem dois tipos principais de El Niño, o costeiro e o clássico (canônico). No costeiro, a água do mar aquece muito juntos aos litorais equatoriano e peruano.

Desde fevereiro um evento costeiro está em curso, trazendo inundações nos dois países. É um episódio de escala mais regional. Já o El Niño na sua forma clássica é marcado por um aquecimento mais abrangente na faixa equatorial do Pacífico e suas consequências são globais. É o que a maioria conhece, está em formação e vai marcar os próximos meses.

El Niño significa menino em Espanhol. Os pescadores sul-americanos notaram pela primeira vez períodos de água excepcionalmente quente no Oceano Pacífico por volta de 1600. O nome completo que eles usaram foi El Niño de Navidad (Natal), porque o El Niño normalmente atinge o pico por volta de dezembro.

Quais os efeitos principais do El Niño?  

O fenômeno muda o clima no mundo todo com mais extremos de chuva e seca, ou mais ou menos ciclones tropicais, conforme a parte do globo. Em escala planetária, o El Niño – pelo aquecimento oceânico – eleva ainda mais a temperatura do mundo. Por isso, é quase um consenso que o mundo pode ter em 2024 o ano mais quente já observado na era instrumental, se 2023 já não bater o recorde antes.

No Brasil, o El Niño reduz a chuva na Amazônia Legal, sobretudo no Norte e no Leste da região, e diminui também as precipitações na maior parte do Nordeste, com seca e temperatura muito alta. No Sudeste e Sul da região Centro-Oeste a influência na chuva é mais variável, mas a temperatura tende a ficar acima a muito acima da média. No Sul, aumento da chuva, mais no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com extremos de precipitação, cheias e enchentes.

Mais temporais?

Pode apostar que sim. Com a atmosfera mais aquecida e maior umidade no Sul do Brasil, a frequência e o risco de temporais fortes de vento e granizo vão aumentar nos próximos meses, especialmente no fim do inverno, com o período mais crítico de tempo severo na primavera e no verão. Podem ocorrer muitos temporais com estragos no Sul do país.

Quando a chuva aumenta?

Espera-se que a chuva aumente no Rio Grande do Sul no decorrer deste inverno, especialmente na segunda metade da estação, com risco de precipitações muito acima da média em vários momentos da primavera.

O verão também pode ter extremos de precipitação. Historicamente, o outono do ano seguinte ao começo do El Niño – no caso deste evento seria 2024 – igualmente tem um risco agravado de chuva acima da média e enchentes.

Episódio de forte intensidade no horizonte

O que a NOAA aponta hoje também confirma o que a MetSul vinha antecipando sobre a força deste evento  a caminho. Existe a possibilidade de evoluir para um episódio de forte intensidade mais tarde neste ano. A agência dos Estados Unidos não usa a terminologia de um Super El Niño, mas na avaliação da MetSul esta é uma possibilidade.

 

Não é possível ainda dizer que haverá um Super El Niño, apenas alertar para tal possibilidade, mas todos os episódios de Super El Niño trouxeram graves consequências nas latitudes médias da América do Sul com excesso de chuva e enchentes em alguns casos catastróficas.

O Centro e o Nordeste da Argentina, o Uruguai, o Sul do Brasil e o Paraguai sofreram com eventos extremos de chuva e períodos excepcionalmente chuvosos, além de muitas tempestades fortes a severas, em anos de Super El Niño.

Na primeira metade do século passado, 1941 foi um ano de Super El Niño. Entre 1982 e 1983 se instalou outro Super El Niño, o que se repetiu em 1997/1998.  O último evento foi em 2015/2016. O episódio de 1941 coincide com a maior enchente na história de Porto Alegre. Os três seguintes causaram grandes enchentes no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em outubro de 2015, o Guaíba em Porto Alegre atingiu o seu maior nível desde a enchente de 1967.

É consenso na comunidade climática que não existe uma correlação perfeita entre intensidade e severidade dos impactos. Isso porque em várias regiões do globo já houve graves consequências geradas por episódios fracos e que ocorreram em eventos fortes. No caso do Sul do Brasil, contudo, todos os eventos muito intensos produziram efeitos severos em precipitação.

De acordo com a base de dados da NOAA, no evento de Super El Niño de 1997/1998 a maior anomalia de temperatura superficial das águas do Pacífico Equatorial Centro-Leste (Niño 3.4) foi de +2,8ºC na semana de 26 de novembro de 1997. Já no Super El Niño de 2015/2016, a maior anomalia na mesma área foi registrada na semana de 18 de novembro de 2015 com +3,1ºC.