Andreia Copini/Prefeitura de Caxias do Sul

Tempestade severa atingiu no começo da segunda-feira, ao redor das 7h, os distritos de Caxias do Sul de Santa Lúcia do Piaí e Vila Oliva com chuva de granizo e vento destrutivo. Caxias do Sul vai decretar situação de emergência em consequência dos danos do temporal. De acordo com os relatos de moradores, o vento foi muito rápido e violento. Em alguns pontos, a ventania destrutiva teve duração de dois minutos e em outros locais a tempestade durou até dez minutos, segundo os depoimentos dos residentes nas regiões afetadas.

Balanço da Prefeitura indicou que 20 casas foram destelhadas em Santa Lúcia e outras 30 em Vila Oliva. Em Santa Lúcia, centro comunitário, salão paroquial, aviário e a escola sofreram danos. Em Galópolis, o temporal arrancou galhos e árvores, que obstruíram temporariamente algumas vias. “O vento forte parece ter passado em uma faixa”, descreveu Altemir Zanardi, coordenador distrital da Secretaria de Obras e Serviços Públicos (SMOSP) da Prefeitura de Caxias do Sul.

“É perceptível que tem uma linha de destruição. Algumas casas foram destelhadas e outras, próximas dali, não tinham nenhum estrago. Não tenho condições de afirmar que se trata de um tornado, mas o cenário é muito parecido com o registrado em 2017. O que podemos comemorar é que nenhuma vida foi perdida”, afirmou o chefe de gabinete da Prefeitura de Caxias do Sul Cristiano Becker da Silva em entrevista ao jornal Pioneiro.

O distrito de Vila Oliva foi atingido por um tornado em 8 de junho de 2017 que deixou dois mortos e causou danos mais graves que na tempestade severa de ontem. No episódio de três anos atrás, caminhão chegou a ser tombado pelo vento e houve um maior número de estruturas que colapsaram com a ventania. Algumas casas despareceram no tornado de 2017 e apenas o piso e as fundações permaneceram.

Região teve tornado e microexplosões

A análise da MetSul Meteorologia de dezenas de vídeos e imagens feitos pela imprensa e moradores da região revela que o interior de Caxias do Sul foi atingido por uma tempestade severa com vento destrutivo e que foi acompanhado de grande quantidade de granizo.

As imagens indicam que os danos se deram numa área muito extensa, em ao menos três distritos do município, e que os estragos variaram muito em magnitude de um ponto para outro. O dado acusa que o vento teve enorme intensidade com alto potencial destrutivo em alguns setores e foi apenas forte e sem maior probabilidade de gerar danos em outros.

As imagens de radar meteorológico das 6h50 da segunda-feira (20) mostravam núcleos de instabilidade muito isolados, porém intensos, no Nordeste do Rio Grande do Sul. Os mais fortes estavam justamente sobre a região de Caxias do Sul com altos valores de refletividade, consistentes com chuva intensa e granizo de maior diâmetro, cuja precipitação costuma vir acompanhado de vento forte. O radar mostrou o núcleo de instabilidade mais intenso atuando justamente entre os distritos de Santa Lúcia do Piaí e Vila Oliva que ganhou força após cruzar pela área urbana de Caxias do Sul e se aproximar com a divisa do município de São Francisco de Paula.

DECEA/Redemet

DECEA/Redemet

A avaliação da MetSul Meteorologia é de que não houve apenas um fenômeno severo de vento na Serra Gaúcha. As evidencias são claras em indicar que foram mais de um episódio de vento destrutivo e por diferentes causas. Os danos se deram em Galópolis, Santa Lúcia do Piaí e Vila Oliva, logo numa área muito extensa para que uma microexplosão ou tornado tenham sido a causa exclusiva dos estragos. Estes são fenômenos que produzem danos em áreas mais localizadas. Alguns pontos, com danos menores, tiveram apenas vento forte sem correlação com tornado ou microxplosão atmosférica.

Em nossa análise, houve a ocorrência de correntes descendentes de vento (downbursts ou microexplosões atmosféricas) acompanhando a forte precipitação de granizo entre Santa Lúcia do Piaí e Vila Oliva, mas as imagens sugerem também que um tornado passou pela região. A ocorrência dos dois fenômenos em um mesmo episódio de tempo severo é possível e fartamente documentada na literatura.

Os dados são consistentes em indicar a ocorrência de um tornado na região com os danos bem definidos numa faixa estreita do terreno com colapso de estruturas solidamente construídas enquanto a poucos metros outras edificações nenhum dano sofreram. As imagens mostram ainda a vegetação com trilhas de árvores com seus troncos totalmente decepados. A ocorrência de tornado é reforçada pelos danos terem ocorrido em pontos mais altos e não em locais mais baixos destas localidades. E, ainda, pelos depoimentos dos moradores de que o vento durou no máximo um ou dois minutos.

Uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera atuava no momento das tempestades severas. Este fenômeno, um corredor de vento a cerca de 1.500 metros de altitude que trazia ar muito quente e seco, gera um padrão de divergência vertical de vento na atmosfera que se denomina de cisalhamento e muito propícia para a formação de tornados.

A esmagadora maioria dos tornados que ocorrem no Rio Grande do Sul se dão sob a atuação de uma corrente de jato de baixos níveis.

A hipótese de que uma frente de rajada tenha atingido a região, como noticiado pela mídia, não tem qualquer mérito. Frentes de rajadas costumam acompanhar sistemas de escala sinótica maiores e não núcleos muito isolados de tempo severo, associados basicamente a uma única nuvem do tipo Cumulonimbus (Cb) isolada. Tivesse havido uma frente de rajada e os danos teriam sido registrados em muitos municípios e não apenas na Serra Gaúcha.

Os núcleos de enorme instabilidade que se formaram ao amanhecer na região de Caxias do Sul se deram em um ambiente de enorme instabilidade atmosférica com ingresso de ar muito quente de Noroeste e Norte com uma corrente de jato de baixos níveis ao mesmo tempo que uma frente fria se aproximava pelo Sul com um centro de baixa pressão e uma frente quente no Sul do Rio Grande do Sul.

Foi o mesmo cenário que gerou temporais em Porto Alegre e outras cidades do Estado no final do domingo e trouxe tempestades severas também nas áreas de Bom Jesus e São José dos Ausentes, igualmente com danos. A MetSul advertia para o risco de tempo severo no Rio Grande do Sul no começo da semana.