Um tornado foi a provável causa da destruição na comunidade de Estiva, reserva indígena do Guarita, no município de Redentora, no final da tarde de quinta-feira (4). É a conclusão da MetSul Meteorologia após análise dos danos e os relatos dos moradores. Pelo menos 45 casas foram destelhadas e outras 15 completamente destruídas na reserva, segundo a Brigada Militar. Até mesmo casas de alvenaria de construção razoavelmente sólida foram arrasadas. Uma igreja, uma escola e um posto de saúde também tiveram as telhas arrancadas pela força do vento. Ao menos 15 pessoas ficaram feridas, incluindo dois índios que sofreram fraturas expostas e um outro que foi internado em Tenente Portela após sofrer trauma na cabeça.


Danos foram severos na reserva indígena (fotos do portal Portela Online)

A meteorologista e sócia da MetSul Meteorologia, Mestre em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (USP), cuja pesquisa de dissertação versou sobre estudos de casos de tempo severo, observa sinais característicos e evidentes da passagem de um tornado na reserva indígena. “Foi um evento de curtíssima duração, com danos severos numa faixa muito bem limitada, com objetos pesados sendo levantados no ar e ainda indo parar a uma grande distância”, observa Estael Sias.

“Eletrodomésticos como refrigeradores e fogões foram parar no meio do campo”, ressalta. A expert da MetSul destaca, em especial, trecho de nota do portal Portela Online que, segundo ela, deixa escassa margem de dúvida que se tratou de tornado.

“Um pai não pensou duas vezes antes de pegar o filho no colo e sair correndo para fora de casa e se agarrar em um tronco de árvore em meio ao vendaval. Pouco segundos depois viu a casa voar cerca de 25 metros e espatifar-se no chão. O assoalho da casa só parou 50 metros adiante. O vendaval durou menos de um minuto, segundo o pai. A mãe também conseguiu sair ilesa”.

Casas de sólida construção foram arrasadas com apenas o piso intacto e objetos pesados foram parar a uma grande distância (fotos do portal Três Passos News)

A meteorologista da MetSuil Meteorologia Estael Sias enfatiza que fenômenos capazes de provocar vento destrutivo como frentes de rajadas e microexplosões têm como característica vento horizontal em superfície, não levantando uma residência mais de 20 metros no ar, como se testemunhou na reserva indígena do município de Redentora. “Chama bastante atenção ainda que na análise de danos se observa que centenas de metros adiante da região mais atingida nada ocorreu”, comenta.

Sequência de imagens de satélite do canal de vapor d’água mostra que (1) no meio da tarde da quinta-feira a região de Redentora ainda estava sob forte instabilidade com muita umidade de origem tropical, mas (2) no fim do dia ar muito seco, representado na cor vermelha, já ingressava pelo Noroeste do Rio Grande do Sul à medida que o sistema de baixa se deslocava para o Sul. Na madrugada de sexta-feira (3), o ciclone começava a tomar fora com ar mais seco já no Noroeste e forte instabilidade junto ao vórtice do sistema no Sul gaúcho e no Leste do Uruguai. Na manhã de ontem (4 e 5) o ciclone já estava configurado e grande parte do Rio Grande do Sul sob ar seco, sendo que na tarde de ontem (6) o ciclone já maduro sobre o Oceano Atlântico estava em processo de afastamento do continente.

A atmosfera se encontrava muito instável no Rio Grande do Sul durante a tarde da quinta-feira, quando se produziu o evento de tempo severo na cidade do Noroeste do Estado. Uma área de baixa pressão deslocava-se pelo território gaúcho e dava origem a um ciclone extratropical que se tornaria maduro no dia seguinte a Leste e Sudeste do Uruguai. Houve chuva intensa a extrema em diversas cidades gaúchas com transtornos para a população. De acordo com a meteorologista Estael Sias, a atmosfera na região atingida estava quente e úmida com baixa pressão, e o temporal se deu justamente no momento em que ar mais seco e frio impulsionado pelo sistema de baixa pressão começou a ingressar pelo Noroeste gaúcho e o Norte da Argentina, encontrando a atmosfera aquecida e instável na área de Redentora.