Anúncios

Temporais com chuva localmente forte a torrencial, raios e risco de vento forte serão muito frequentes em São Paulo (foto), parte do Rio de Janeiro e áreas de Minas Gerais nesta segunda metade da semana com a atmosfera muito instável sobre o Sudeste do Brasil | MAURICIO LIMA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A MetSul Meteorologia alerta para um período de muitos temporais de verão em grande parte do Sudeste do Brasil nesta segunda metade da semana. As tempestades comuns nesta época do ano, que se formam da tarde para a noite, serão numerosas entre hoje e o fim de semana na Região Sudeste com alta probabilidade de transtornos e risco para a população.

Quais as áreas de maior risco? De acordo com a análise da MetSul Meteorologia, os temporais devem ser frequentes nesta segunda metade da semana principalmente no estado de São Paulo, na Costa Verde e no Grande Rio, e no Triângulo Mineiro e Sul de Minas Gerais.

São Paulo é o estado que mais preocupa porque todo o seu território está na zona de risco de tempestades nesta segunda metade da semana. Assim, a capital, a Grande São Paulo e a região do litoral paulista estão incluídas nas áreas de risco de temporais.

Na região metropolitana de São Paulo, as pancadas de chuva torrenciais e os temporais de verão podem ser diários até o final da semana. Já na cidade do Rio de Janeiro e no Grande Rio, o quadro é de menor instabilidade e a frequência de chuva será muito menor que na capital paulista. Entretanto, o calor intenso pode dar origem a nuvens carregadas com chuva muito forte localizada, como ocorreu ontem à noite.

Onde menos deve chover e há risco muito menor de temporais no período é do Centro para o Norte de Minas Gerais, no Espírito Santo e no Norte fluminense. Em muitas áreas destas regiões é possível que sequer chova no período com predomínio do sol e muito calor.

O mapa acima mostra a projeção de chuva do modelo WRF de alta resolução da MetSul para 72 horas no Sudeste do Brasil. Observe como ele é extremamente “manchado” com múltiplos pontos bastante isolados de chuva de 100 mm a 200 mm em três dias. Isso é um claro indicativo de chuva localmente intensa que costuma acompanhar os temporais de verão.

Estes temporais de verão costumam ocorrer mais da tarde para a noite, às vezes na madrugada, e se caracterizam por trazer volumes muito altos de chuva localizados em curto período que são capazes de gerar alagamentos e inundações repentinas. A chuva costuma vir com muito raios e às vezes com ventania e granizo.

Como são formações muito localizadas, não é possível prever com antecedência onde vão se dar exatamente. É o típico cenário em que uma nuvem, por exemplo, despeja uma quantidade de chuva enorme na zona Sul de São Paulo e pouco chove no Norte da capital paulista. Ou que um temporal se abate sobre Diadema, mas não chove tanto em São Bernardo. Ou que chova muito em uma hora em Uberlândia e quase nada chova em Uberaba, no Triângulo.

Condição distinta do fim de semana no litoral paulista

O que ocorreu no fim de semana e levou ao desastre no litoral de São Paulo não foi temporal clássico de verão que é absolutamente ordinário pela combinação de calor e umidade. O que ocorreu no litoral paulista foi um evento extraordinário de chuva de natureza orográfica (induzida pelo relevo).

O que se espera nos próximos dias na região do desastre é o que ocorre normalmente nos meses de verão no litoral paulista com chuva mais da tarde para a noite e que, isoladamente, pode vir com pancadas fortes a torrenciais acompanhadas de raios. Trata-se, portanto, de chuva que os moradores da região estão acostumados a ver e que costuma ocorrer quase todos os dias nos meses quentes em que calor e umidade formam nuvens carregadas com risco de volumes altos isolados em curto intervalo.

No fim de semana passado, ao contrário, não era um temporal de verão. Era uma situação muito especial gerada por sistemas meteorológicos de grande escala com frente fria e um centro de baixa pressão na costa, gerando aporte de umidade do oceano para o continente que levou à chuva orográfica (induzida pelo relevo) com acumulados excepcionais na costa junto à Serra do Mar.

Litoral de São Paulo tem muitas áreas ainda cobertas de lama e mais chuva complica os esforços de busca de corpos e de apoio à população | NELSON ALMEIDA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Pancadas diárias e isoladamente fortes a torrenciais sobre a Serra do Mar no litoral de São Paulo trazem risco de novos deslizamentos e quedas de barreiras | FERNANDO MARRON /AFP/METSUL METEOROLOGIA

Com isso, o cenário nesta segunda metade da semana no litoral de São Paulo é de uma enorme variabilidade de volumes dentro de uma mesma localidade e chuva forte isolada de caráter passageiro. Assim, até o final da semana haverá pontos da costa em que pouco deve chover e outros em que pode chover muito. Por serem isoladas as formações, pode ocorrer de em um determinado dia cair uma pancada muito forte de meia hora no Guarujá e não chover em São Sebastião ou Ilhabela. Ou chover quase 100 mm em algum trecho de Serra de São Sebastião e não chover mais que 10 mm numa das praias do município.

O grande problema agora é que estas chuvas que serão frequentes, diárias ou quase diárias, na área atingida, se dão numa zona de desastre e sob risco geológico de deslizamentos que é extremo pelo fato de o solo estar saturado e extremamente instável. Portanto, o cenário segue absolutamente crítico para escorregamento de encostas e novos deslizamentos com a chuva que se alternará com horas de sol repetidamente durante os próximos dias.

O mecanismo que forma os temporais

A combinação de umidade mais elevada com temperatura alta proporciona que as condições se tornem propícias para a ocorrência de temporais isolados de chuva torrencial com elevados volumes em curto intervalo, vento forte e granizo nesta época do ano.

Estes temporais se dão principalmente da tarde para a noite, quando se formam nuvens de grande desenvolvimento vertical pelo aquecimento diurno que gera movimentos convectivos (ar ascendente) na atmosfera.

O mapa acima mostra a projeção do modelo norte-americano GFS para o índice CAPE na tarde desta quinta. O CAPE (Convection Available Potential Energy) é um dos diversos índices de instabilidade usados em Meteorologia para se avaliar o risco de temporais. Observa-se como os índices vão estar altos entre São Paulo e parte de Minas Gerais e do Rio, tendência é que diária de hoje até o fim da semana.

A convecção forma nuvens do tipo Torre Cumulus (TCu) e Cumulonimbus (Cb) que causam os temporais localizados e não raro muitíssimo isolados. Localmente, alguns destes temporais podem ser fortes a severos mesmo com risco de danos.

Quanto mais quente e atmosfera e menor a pressão atmosférica, maior é o potencial para haja a formação de nuvens muito carregadas e mais alta a probabilidade de temporais localizados de maior severidade. O ar quente e a umidade são os combustíveis para tempo severo e dias de calor mais intenso apresentam maior probabilidade de tempestades se a atmosfera não estiver muito seca.