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“A tempestade mal entra em Porto Alegre e já tem outra forte lá em Santa Maria e outra surgindo na fronteira”. A afirmação é do leitor da MetSul Ricardo Pigatto ao comentar em publicação nossa sobre a chuva que não dá trégua e os temporais em sequência no Rio Grande do Sul, que causam transtornos e problemas em dezenas de comunidades gaúchas, incluindo a capital.

METSUL

A percepção do leitor, mesmo não sendo um especialista, é absolutamente correta. O que ele descreve é exatamente o que vem ocorrendo no Rio Grande do Sul nas últimas horas.  E por quê? A resposta passa pela imagem de satélite do canal infravermelho do GOES-16, acima, das 5h30 da manhã desta terça-feira.

Observe atentamente na imagem como a instabilidade forte no Rio Grande do Sul se dá numa forma da letra “V”, mas invertida. Traçamos as linhas da letra “V” na imagem para que você melhor consiga visualizar o padrão que se registra na atmosfera do estado. A extremidade do “V” invertido está do Centro para o Oeste gaúcho e as duas linhas se estendem até o Norte da Lagoa dos Patos e a Serra Gaúcha.

É dentro da área do “V” invertido que está ocorrendo a chuva mais intensa, ou seja, o Centro-Oeste do Rio Grande do Sul, o Centro do estado (região de Santa Maria), os vales, a Região Carbonífera, o Norte da Lagoa dos Patos, a Grande Porto Alegre, parte da Serra e o Litoral Norte.

Por que esta configuração? A literatura técnica de Meteorologia estuda estes sistemas de tempestade em forma de “V” (V-shaped storms). Ocorrem, conforme os estudos, a partir do cisalhamento positivo do vento (divergência de vento em altitude).

Estas chamadas tempestades em forma de V são sistemas quase estacionários que provocam chuvas intensas e persistentes, sempre na mesma área. As tempestades em forma de V são sistema convectivos de mesoescala (formados por nuvens carregadas) por diversas células próximas umas das outras e em diferentes estados evolutivos, explica a literatura.

“Esses sistemas regenerativos que assumem uma forma de V nas imagens de satélite infravermelho são caracterizados por um vértice estreito (ponta do V) onde novas células convectivas são frequentemente formadas em uma sequência rápida, causando o pico máximo de precipitação, enquanto as células maduras e antigas aqueles se movem em direção aos ramos V, seguindo a direção do vento na altitude. Esses eventos provocam grandes quantidades de chuvas, caracterizadas por elevados valores de índices pluviométricos”, descreve um estudo italiano.

É exatamente isso o que vem ocorrendo no Rio Grande do Sul desde ontem à noite. As tempestades surgem na “ponta do V” no Oeste a todos momento e avançam para os dois ramos do V, ou seja, para o Centro e o Leste do território gaúcho, despejando grandes quantidades de chuva à medida que as nuvens carregadas não param se formar e avançar por uma mesma área, como um “trem de células de chuva forte e temporais”.

Por isso, cidades que estão fora do “V” na madrugada e manhã desta terça-feira não tiveram chuva excessiva. Dentro do “V”, somente entre a madrugada e a manhã de hoje, em apenas 12 horas, choveu 111 mm em São Gabriel, 94 mm em Tupanciretã, 82 mm em Santa Maria, 79 mm em Porto Alegre, 78 mm em Bento Gonçalves, 57 mm em Canela, 56 mm em Rio Pardo, 53 mm em Campo Bom e 52 mm em Camaquã.

Chuva acumulada em 12 horas até 11h desta terça | INMET

No Sul gaúcho, no extremo Oeste, na fronteira com o Uruguai e no Noroeste, portanto fora da área do “V” invertido, observe que os volumes de chuva das últimas horas ou foram baixos ou sequer choveu em diversas cidades. No Noroeste, atua uma corrente de jato (vento) a 1500 metros de altitude, que traz ar quente, e ajuda a formar o “V”. Por isso, o Noroeste está com vento Norte e quente.

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