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Sobrevoo na região da Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia), realizado em 30 de agosto, mostrou um grande incêndio em uma área com cerca de 8.000 hectares de desmatamento – a maior em 2022 – e que está queimando há dias | NILMAR LAGE/GREENPEACE/DIVULGAÇÃO

Setembro começou com muito fogo na Amazônia, mostram registros feitos por satélites. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), somente no primeiro dia do mês os satélites registraram 2.076 focos de calor.

Somente no estado do Amazonas, o dia 1º teve 542 focos de calor. O número assombra porque a média histórica do mês inteiro (1998-2021) é de 2.768 focos. Significa que tão-somente no dia 1º de setembro os satélites registraram quase 20% da média do mês inteiro.

Cenário semelhante no Acre que anotou somente no primeiro dia do mês 534 focos de calor, quando a média histórica mensal é de 3.224. E em Rondônia que no dia 1º teve 422 focos de calor, sendo que a média histórica de setembro inteiro é de 6.974 focos de calor.

“Realizamos um sobrevoo de monitoramento de queimadas e desmatamento na região onde convergem os estados do Amazonas, Acre e Rondônia (Amacro), e flagramos o maior desmatamento da Amazônia no último ano: cerca de 8 mil hectares, equivalente a 11 mil campos de futebol queimando. Participo desses monitoramentos há mais de dez anos, e nunca tinha visto um desmatamento tão grande e também com tanta fumaça”, relata Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil.


Do total de focos de calor do ano registrados de 1º de janeiro a 31 de agosto no bioma de 46.022, houve um aumento de 16,7% em relação ao ano passado, maior número acumulado para o período desde 2019. Desse total, 43% ocorreram apenas em dez municípios da Amazônia, sendo cinco deles localizados na região da Amacro, considerada a nova fronteira de expansão da economia da destruição na Amazônia e que vem acelerando as taxas de desmatamento e queimadas.

Muita fumaça na região

Satélites registraram uma grande quantidade de fumaça e densa na região amazônica na quinta-feira. Com o tempo aberto e escassa nebulosidade, o sensor de profundidade óptica ABI do satélite GOES-16 captou a densa fumaça (em marrom) cobrindo uma extensa área do bioma, sobretudo entre o Acre, Rondônia e Amazonas. Imagem foram divulgadas pela divisão de aerossóis da NOAA, a agência de clima do governo dos Estados Unidos, e pela Adam Plataform, da União Europeia.

A grande quantidade de fumaça está concentrada justamente na região onde estão ocorrendo as maiores queimadas intencionais neste ano. Trata-se da região entre os estados do Amazonas, Acre e Rondônia, conhecida como Amacro.

Pior agosto de fogo na Amazônia desde 2010

Conforme dados do Inpe, agosto terminou com 33.116 focos de calor na Amazônia. A estatística desde 1998 mostra que se tratou do maior número de focos de calor em agosto desde 2010, quando os satélites captaram 45.018 focos de calor.

Agosto foi ainda o mês, considerando todos os meses do calendário, com mais registro de fogo no principal bioma do Brasil desde setembro de 2017. Naquele mês, a estatística histórica traz 36.569 focos de calor. Em agosto de 2017, o bioma registrou 21.344 focos de calor. É o quarto ano seguido com mais fogo na Amazônia em agosto do que a média.

Com os 33.116 focos registrados, agosto superou a média histórica (1998-2021) de 26.299 focos de calor no oitavo mês do ano. Os números de 2022 superam os de 2019, quando houve grande comoção mundial pelas queimadas na Amazônia. Em agosto de 2019, o bioma registrou 30.900 focos de calor. O agosto de muito fogo se deve em grande parte do que ocorreu na segunda metade do mês, quando o número de queimadas cresceu enormemente na região.

Muitos dias de fogo

Somente no dia 22 de agosto foram 3.458 focos e no dia 24 os satélites identificaram 2.475 focos.  Os 3.458 focos de calor captados no dia 22 representaram o maior número diário para agosto na Amazônia desde 2002, conforme o Inpe. Em 23 de agosto de 2002, os satélites captaram 3.548 focos de calor. No dia 25 de agosto de 2002, outras 3.300 queimadas foram identificadas.

Nenhum outro dia de agosto desde então tinha superado os 3 mil focos de calor, até então. Nem no infame “Dia do Fogo”, em 10 de agosto de 2019, em que vários incêndios foram iniciados de forma proposital no Pará, o que acabou gerando investigação da Polícia Federal para identificar os responsáveis, concentrados na região de Novo Progresso.

Já houve anos muito piores

Os piores anos de fogo na Amazônia em agosto se deram de 2002 a 2007. Em 2002, agosto terminou com 43.484 focos. Em 2003, 34.765. Já em 2004, 43.320. Em 2005, o recorde da série histórica do mês com 63.764. Em 2006, 34.208. E, por fim, 2007 com 46.385 focos de calor em agosto. Em 2011, o menor número em agosto com 8.002 focos.

Temporada de fogo

Os meses de agosto a outubro marcam o pico das queimadas a cada ano no bioma amazônico. Diferentemente de outros biomas, quase todos os episódios de fogo na região amazônica são iniciados propositalmente pela natureza tropical e úmida da floresta, diferentemente do Cerrado em que o fogo pode se iniciar sem intervenção humana.

Florestas, como da Europa e dos Estados Unidos, não são de natureza tropical e pela característica de vegetação, possuem maior combustibilidade, o que torna comparações com a Amazônia indevidas. A Europa registra a maior área queimada desde o começo das medições por satélite em meio a sucessivas ondas de calor e a pior seca em meio milênio.

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