O ultimo verão foi marcado por extensas perdas nas culturas de soja e milho na América do Sul devido à forte estiagem que afetou grande parte do Cone Sul com prejuízos no Sul do Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina. Agora, uma outra área do planeta que está entre as principais produtoras de grãos do mundo sofre com a escassez de chuva que ameaça trazer quebras na principal safra do calendário. A situação do milho e da soja continua a se deteriorar a cada dia no Centro e no Leste do chamado “cinturão do milho” (Corn Belt) americano com mínima melhora nas áreas mais ao Norte e Oeste. O ar está muito seco e o percentual de umidade no solo bastante baixo, o que resulta em valores de ponto de orvalho com noites até frias, mas tardes muito quentes que aceleram a perda de umidade. Mais de 40% do território de Iowa tem hoje condições de umidade no solo inadequadas.

O tempo seco e quente ocorre após primavera no Meio-Oeste dos Estados Unidos que já foi muito quente e com irregularidade na chuva. As áreas com situação boa a excelente do milho caíram de 63% para 56% com melhora em Iowa, Minnesota e Dakota do Norte. Já as áreas com situação ruim a muito ruim aumentaram de 9% para 14%, sobretudo em Indiana, Missouri, Kentucky, Illinois e Ohio. Na soja, as áreas consideradas sob quadro bom caíram de 56% para 53% em uma semana. A situação em Iowa melhorou de 61% para 63%, mas piorou em outros estados. As regiões com condição ruim a péssima foram de 26% para 36% em Indiana, de 29% para 35% no Missouri, de 14% para 21% em Illinois, de 14% para 20% em Kentucky e de 15% para 20% em Ohio. O próximo balanço deve trazer números ainda piores.

A situação da agricultura americana sacudiu o mercado de commodities agrícolas nesta semana. As cotações do milho e da soja (gráfico da CME) dispararam. No Brasil, a soja chegou a casa dos R$ 70,00 em algumas praças. Nesta terça-feira, o preço do milho teve uma alta de 5% no mercado de Chicago, atingindo a maior cotação em oito meses, na maior alta de dois dias em mais de um ano. A tendência de chuva, irregular e mal distribuída neste fim de semana, ajudou a equilibrar o mercado de soja, mas a pressão sobre os preços continua. A inquietação do mercado não se dá à toa, afinal desde 1988, quando os Estados Unidos tiveram uma das piores estiagens da sua história recente, o quadro da soja e do milho não era tão delicado nesta época do ano.


O cenário futuro, conforme análise da MetSul Meteorologia. No decorrer deste verão, a chuva deve seguir bastante irregular no Meio-Oeste americano. O quadro tende a ter uma variação maior de um estado para outro à medida que pancadas de chuva trazem alívio mais localizado, criando condições muito diferenciadas dentro de uma mesmo estado (“manchados”). Fatalmente haverá prejuízos e as projeções de safra deverão ser revistas para baixo. A ameaça maior, segundo análise dos meteorologistas da MetSul, tal como se deu no Sul do Brasil, é para o milho, mas a soja passará também por um grande estresse.

O potencial maior de perda, segundo a MetSul, é para as áreas mais ao Sul e Oeste do Meio-Oeste, o que inclui Indiana, Iowa, Kansas e Missouri. Mais ao Norte, o quadro não deve ser o dos melhores, mas pode ter condição mais satisfatória. Modelo analisado pela MetSul Meteorologia (abaixo) indica para o trimestre julho a setembro chuva mais abundante sobre Illinois e Iowa, mas por outro lado acusa temperatura muito acima da média para Kansas e Nebraska, assim como o Oeste de Iowa, sinal que estas áreas podem ter tempo mais seco. Em síntese, no decorrer das próximas semanas quanto mais ao Norte do Meio-Oeste americano menor o risco e mais para o Sul e o Oeste é maior o potencial de perdas.

A projeção de chuva de modelo americano para as próximas quatro semanas (abaixo) não oferece um cenário positivo em grande parte da região. Enquanto áreas mais ao Norte como Wisconsin e o Norte de Illinois devem receber mais chuva, pontos mais ao Sul dos cinturões da soja e do milho tenderão a seguir sob forte estresse hídrico. O solo seco, ademais, é fator agravante para reduzir o potencial de convecção diurna e, assim, as pancadas de chuva, explica a equipe de meteorologistas da MetSul.


Historicamente, anos de transição de La Niña para El Niño tendem a registrar volumes de chuva abaixo do normal no Meio-Oeste americano. O retorno da chuva mais abundante e regular para a região dependerá muito da velocidade com que os efeitos do aquecimento no Pacífico passarem a ser sentidos na América do Norte com a mudança da inclinação da corrente de jato sobre o continente. A tendência, dizem os técnicos da MetSul, é que esta mudança se opere mais em direção ao final do verão americano no último trimestre de 2012.