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A MetSul Meteorologia alerta para um grave cenário meteorológico no Rio Grande do Sul com um rio atmosférico sobre o estado que trará chuva extrema e frequente que deve provocar alagamentos, enxurradas, inundações repentinas e, o mais grave, probabilidade de transbordamento de rios com enchentes.

Enchente por chuva extrema

Chuva extrema deve trazer acumulados incomuns de chuva para esta época do ano no Rio Grande do Sul com alagamentos, enxurradas, inundações repentinas e risco de cheias de alguns rios com possibilidade mesmo de enchentes neste fim de ano | PREFEITURA DE JAGUARI/ARQUIVO

O cenário extremo de precipitação é incomum para esta época do ano, uma vez que eventos de chuva excessiva tendem a ocorrer nos meses do outono, inverno e ainda na primavera, não no final do ano e muito menos sob condições de La Niña presentes no Oceano Pacífico.

O episódio de chuva excessiva terá como origem um Vórtice Ciclônico em Altos Níveis da Atmosfera (VCAN) sobre o Centro do Brasil que vai criar padrão de bloqueio atmosférico, o que vai canalizar a umidade da Amazônia para o Rio Grande do Sul nestes últimos dez dias de dezembro e, consequentemente, trazendo chuva frequente e volumosa.

O VCAN tem uma característica marcante: enquanto seu centro costuma gerar tempo mais firme, com menos nuvens e baixa umidade por causa do movimento descendente de ar, as bordas do sistema concentram instabilidade.

Nessas áreas periféricas ao Vórtice Ciclônico de Altos Níveis ocorre a ascensão de ar quente e úmido (convecção), o que favorece a formação de muitas nuvens carregadas, tempestades isoladas e acumulados irregulares de chuva com volumes localmente altos.

É por isso que o Centro do Brasil vai experimentar um fim de ano com chuva muitíssimo abaixo da média, quando normalmente deveria estar chovendo muito nesta época do ano, enquanto o Rio Grande do Sul vai enfrentar um período de chuva muitíssimo acima da média e fora dos padrões do fim de dezembro.

Serão muitos dias seguidos de instabilidade com chuva frequente no Rio Grande do Sul. A precipitação por vezes será forte a torrencial com elevados acumulados em períodos curtos, sobrecarregando macrodrenagens urbanas e causando alagamentos e enxurradas com risco de inundações repentinas em alguns pontos.

Em parte do Rio Grande do Sul, em alguns dias, a chuva poderá somar acumulados de 100 mm a 150 mm em apenas 24 horas, o que corresponde a dois terços a totalidade da média de precipitação do mês inteiro de dezembro em horas.

De acordo com a análise da MetSul Meteorologia, as regiões de risco mais crítico de chuva excessiva a extrema neste fim de ano serão aquelas do Centro para o Oeste do estado, onde em apenas sete a dez dias haverá pontos em que a precipitação pode somar duas a três vezes a média de dezembro todo.

Rio atmosférico vai causar a chuva extrema

Rio atmosférico vai favorecer a chuva extrema no Rio Grande do Sul neste fim de ano com instabilidade frequente e volumes excessivamente altos de precipitação. Modelos numéricos de previsão do tempo indicam que o rio atmosférico se instala no estado a partir deste começo de semana, o que já traz chuva neste domingo em várias regiões gaúchas, e vai persistir durante toda esta semana do Natal.

Rio atmosférico significativo canalizará enorme quantidade de umidade da região amazônica para o Rio Grande do Sul nesta semana | METSUL

Com o VCAN sobre o Centro do Brasil e um bloqueio atmosférico consolidado, o canal primário de umidade da América do Sul, que deveria estar nesta época do ano sobre o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil, vai estar direcionado para o Rio Grande do Sul com altíssimos índices de vapor d´água na atmosfera que vai causar a chuva volumosa sob ar tropical quente e enorme abafamanto.

Preocupa o indicativo de alguns modelos numéricos de que este rio atmosférico pode ser muito persistente sobre o território gaúcho. Há dados de modelagem numérica que apontam que o canal de umidade poderia seguir sobre o estado depois do Natal e até os últimos dias do ano, aumentando ainda mais os acumulados de precipitação.

Os rios atmosféricos são regiões longas e concentradas na atmosfera que transportam ar úmido dos trópicos para latitudes mais altas. O ar úmido, combinado com ventos de alta velocidade, produz chuva pesada.

A escala de intensidade desenvolvida na Califórnia classifica esses rios atmosféricos de AR-1 a AR-5 (sendo o AR-5 o mais intenso) com base em quanto tempo duram e quanta umidade transportam. A avaliação, com base nos dados de IVT (Transporte de Vapor Integrado) apontam para um rio atmosférico AR-3 a AR-4, ou seja, significativo.

Chuva poderá passar de 300 mm em algumas regiões

Como consequência do cenário atmosférico extremamente favorável à chuva volumosa, os acumulados de precipitação nos próximos dez dias devem ser excessivos a extremos com marcas por demais acima do que é normal para esta época do ano. É um cenário tão extremo que algumas cidades podem ter apenas nestes últimos dez dias do mês um quarto da média anual de precipitação.

A tendência é que várias regiões gaúchas podem somar nesta semana acumulados de 100 mm a 200 mm como consequência da instabilidade persistente que trará chuva por vezes forte a intensa. Em algumas cidades, em especial do Centro para o Oeste do estado, a chuva pode ficar entre 200 mm e 300 mm, ou até mais.

Os modelos de alta resolução WRF da MetSul Meteorologia inicializados com os modelos norte-americano GFS e europeu (ECMWF), apenas com totais de chuva para 72 horas até 21h de terça, já indicam acumulados de 200 mm a 300 mm e localmente superiores para área do Oeste gaúcho, em particular entre Barra do Quaraí, Quaraí, Uruguaiana, Itaqui, Alegrete, Maçambará e São Borja. Os volumes serão extremos ainda na província argentina de Corrientes e parte de Misiones.

METSUL

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O problema é que a chuva não vai se limitar ao período entre hoje e terça com previsão de instabilidade ainda na segunda metade da semana, o que vai aumentar ainda mais os acumulados de chuva no Rio Grande do Sul. Logo, os volumes totais da semana podem ser mais extremos a ponto de não se descartar que isoladamente os acumulados possam atingir marcas excepcionais para sete a dez dias.

Os mapa a seguir mostram as projeções de chuva para a semana dos modelos globais europeu, alemão, canadense e britânico em que se observa como todos indicam chuva excessiva para o território gaúcho na semana.

Projeção de chuva para a semana do modelo europeu | METSUL

Projeção de chuva para a semana do modelo alemão | METSUL

Projeção de chuva para a semana do modelo canadense | METSUL

Projeção de chuva para a semana do modelo britânico | METSUL

Há um consenso entre os dados de que muitas cidades gaúchas podem somar mais de 100 mm na semana e maioria das simulações aponta acumulados acima de 200 mm em parte do estado com marcas de 250 mm a 300 em alguns municípios, especialmente do Centro para o Oeste gaúcho.

Alagamentos, inundações repentinas e subida de rios

Alerta-se que a chuva excessiva a extrema nos próximos sete a dez dias deve trazer problemas e transtornos no Rio Grande do Sul. Estatísticas históricas do Brasil e do exterior mostram que o excesso de chuva causa mais vítimas fatais que vento forte ou tempestades, assim chuva extrema é situação de elevado perigo.

Enfatizamos que a chuva em alguns momentos deve ser forte a torrencial com acumulados muito altos em curto período (50 mm a 100 mm em poucas horas), o que pode trazer alagamentos e inundações repentinas tanto em áreas urbanas como em rurais.

A persistência da chuva por vários dias deve provocar ainda inundações e prováveis cheias de rios com prováveis enchentes. As bacias de rios do Centro para o Oeste do estado como Uruguai (ao Sul de São Borja), Ibicuí, Vacacaí, Jaguari e Quaraí são os de maior risco, mas outros rios do estado merecerão atenção.

Os dados não indicam chuva extrema na Serra, embora possa chover forte por vezes na região e com altos volumes. Assim, o risco de enchentes nos vales pelos rios que nascem na Serra ou perto (Taquari, Caí, Sinos e Paranhana) no momento é considerado baixo a médio.

Em Porto Alegre, o nível atual do Guaíba é de 0,90 metro, ou seja, muito abaixo da cota de transbordamento de 3,00 metros. Obviamente, com a chuva dos próximos dias, o nível subirá, mas não se antecipa um cenário no momento de gravidade para a área da capital.

Como consequência da chuva, algumas estradas, particularmente municipais e rurais, devem se tornar intransitáveis com prováveis trechos e pontilhões cobertos pela água ante o transbordamento de arroios e córregos no interior. Com a perspectiva de forte correnteza, trechos alagados devem se terminantemente evitados sob perigo de acidentes fatais.

Além da chuva extrema, risco de temporais isolados

A atmosfera muito instável sob ar quente e úmido com dias de calor e forte abafamento vai formar nuvens isoladas de grande desenvolvimento vertical. Estas nuvens são capazes de trazer temporais isolados ou muito isolados com grande incidência de raios e ainda rajadas de vento forte a intensas e queda de granizo.

Tais ocorrências, por serem muito isoladas, não podem ser antecipadas para um ponto exato com grande antecedência, mas apenas em curtíssimo prazo (nowcasting). Trata-se de uma situação bastante distinta da segunda-feira desta semana, quando havia uma frente fria com temporais em vários pontos e severos de vento.

Salientamos que, embora possam ocorrer temporais isolados de vento e granizo, o principal risco durante a semana será mesmo a chuva com acumulados muito altos a extremos e não tempestades severas. Os temporais, pelo intenso abafamento que trará condições térmicas um tanto desconfortáveis, vão ocorrer principalmente da tarde para a noite.

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