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Chuva extrema e neve castigam os Andes e áreas próximas entre o Chile e Argentina. Os volumes de precipitação em algumas áreas são extremos e os maiores em muitos anos. Os dois principais rios de Santiago do Chile, o Mapocho e o Maipo, transbordaram na sexta-feira em alguns setores após dois dias de fortes chuvas no centro do Chile, que deixaram 302 pessoas desabrigadas e forçaram o fechamento de estradas.

Moradores de Santiago observam o fluxo do rio Mapocho que saiu do leito em alguns pontos. Fortes chuvas estão afetando a zona central do Chile, fazendo com que vários rios transbordem, causando inundações, apagões e suspensão das aulas escolares. | MARTIN BERNETTI/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O Mapocho atravessa a capital chilena, onde vive cerca de metade dos 19 milhões de habitantes do país. El Maipo, por sua vez, é o principal fornecedor de água de Santiago. Ambos nascem na cordilheira dos Andes.

As chuvas intensas são as primeiras do ano nesta área do Chile e se concentraram em poucas horas em locais nas montanhas e sopés de serras, onde costuma cair a neve. Outros rios da zona central do Chile também transbordaram, como o Cachapoal, o Tinguiririca e o Teno.

“Esta é uma frente de precipitação complexa: é a primeira grande chuva da época e só ocorre (quase) em julho; temos uma seca estrutural que torna tudo mais difícil e é uma chuva muito intensa em muito pouco tempo, ” explicou a delegada presidencial da Região Metropolitana de Santiago, Constanza Martínez. Em algumas áreas das montanhas, a quantidade de chuva é a mais alta desde 1993, acrescentou.

Depois de dois dias de fortes chuvas, as autoridades relatam 302 pessoas com casas afetadas, 793 desabrigadas e 99 casas com grandes danos. Eles também anunciaram que neste sábado haverá um corte no abastecimento de água potável em grande parte dos municípios de Santiago, o que afetará mais de cinco milhões de pessoas.

O corte se deve ao aumento da vazão do rio Maipo que aumentou a turbidez de suas águas e isso dificulta o processo para que esse elemento seja consumido pela população. Até recentemente, o Mapocho era apenas um filete de água que corria cerca de 30 km de Oeste a leste de Santiago, devido à grande seca que atingiu o centro do Chile há uma década.

Chegou a registrar um déficit hídrico de 89% em relação à sua média histórica, segundo estimativas oficiais. Mas depois da queda de 150 mm em setores do sopé nas últimas horas, o leito do rio cresceu fortemente e a água transbordou em vários setores que ficaram alagados. O Maipo, por sua vez, viu seu fluxo aumentar 10 vezes nas últimas horas.

“No sopé da serra choveu em um dia e meio tudo o que choveu no ano passado em Santiago”, disse o governador da cidade, Claudio Orrego, em um último relatório sobre a situação do tempo das autoridades.

Vista do rio Maipo inundado em San Jose de Maipo, Santiago, Chile. Volume de chuva na região de Santiago é extremo e superior ao que caiu em todo o ano passado. | MARTIN BERNETTI/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Na altura do bairro de Pudahuel, as autoridades ordenaram o fechamento da via que liga Santiago à cidade de Valparaíso, porque a água cobriu a rodovia. No setor, acumularam-se toneladas de lixo arrastadas pelo rio Mapocho. O último grande transbordamento do Mapocho data de 2016.No Sul de Santiago, o Maipo é o principal rio da região metropolitana e também ali apresentou um aumento significativo de sua vazão, com transbordamento na altura do setor Peach. “Estávamos incrédulos, não pensávamos que ia ser tanto” apesar da chuva, disse à AFP Loreto Ochoa, 38, que foi evacuada de sua casa pelas autoridades durante a noite.

A trabalhadora independente lembra que na década de 1980 “era normal” ver a vazão do rio Maipo aumentar tanto durante o inverno, mas que há muitos anos não se lembra de ter visto chover com tanta intensidade.

A instabilidade também afeta a Argentina com chuva intensa e fortes nevascas na alta montanha, nos Andes. Há alerta vermelho por nevascas nos Andes em Mendoza e por chuva em Neuquén que foi emitido pelo Serviço Meteorológico Nacional.

As intensas precipitações de chuva e neve entre Chile e Argentina se devem a um rio atmosférico de grande intensidade que se origina no Pacífico e transporta enorme quantidade de umidade para os Andes. Uma vez que a isoterma está alta, ou seja, a temperatura só atinge 0ºC em elevada altitude, em muitos locais em que a precipitação deveria vir na forma de neve está caindo como chuva e com volumes excessivos.

CONICET

Os rios atmosféricos são regiões longas e concentradas na atmosfera que transportam ar úmido dos trópicos para latitudes mais altas. O ar úmido, combinado com ventos de alta velocidade, produz chuva pesada e neve, conforme a região no mundo.

Esses eventos extremos de precipitação podem levar a inundações repentinas, deslizamentos de terra e danos catastróficos à vida e à propriedade. Embora os rios atmosféricos tenham muitas formas e tamanhos, aqueles que contêm as maiores quantidades de vapor de água podem criar chuvas e inundações extremas, muitas vezes parando sobre bacias hidrográficas vulneráveis a inundações.

Tais episódios podem interromper estradas, induzir deslizamentos de terra e causar danos catastróficos à vida e à propriedade. Um exemplo bem conhecido de um rio atmosférico é o “Pineapple Express”, um forte rio atmosférico capaz de trazer umidade dos trópicos próximos ao Havaí para a costa Oeste dos Estados Unidos.