A Rússia alertou sobre inundações “sem precedentes” enquanto moradores de uma cidade parcialmente submersa pela subida das águas saíam às ruas em raros protestos contra a forma como as autoridades lidaram com a crise. O derretimento rápido do gelo e as chuvas torrenciais causaram o transbordamento de grandes rios – o Ural e o Tobol – perto da fronteira da Rússia com o Cazaquistão, com autoridades alertando que as águas das enchentes deverão subir perigosamente nas próximas 48 horas.
Dezenas de manifestantes na cidade de Orsk, que ficou submersa com metros de água da enchente no fim de semana após o rompimento de uma barragem, protestaram na segunda-feira contra a fraca resposta do governo, em uma rara demonstração de dissidência na Rússia.
Vídeos postados por canais de mídia social locais mostraram multidões gritando: “Vergonha! Vergonha! Vergonha!” e “Putin, ajude!”. O Kremlin disse na segunda-feira que o presidente russo não tinha planos de visitar as áreas inundadas.
As manifestações públicas contra o governo são ilegais na Rússia, sob estritas leis que limitam protestos. O gabinete do procurador regional de Orenburg, que cobre Orsk, alertou explicitamente na segunda-feira os residentes que poderiam ser presos se participassem em atos “não autorizados”.
Em Orsk, a cidade mais afetada até agora, 99 pessoas foram tratadas de ferimentos e nove pessoas foram hospitalizadas, disse a mídia estatal citando autoridades de saúde. Mais cidades, incluindo o centro regional de Orenburg, com uma população de 550.000 habitantes, preparavam-se para um aumento nos níveis da água nos próximos dias.
Governadores das regiões vizinhas de Kurgan e Tyumen decretaram emergência. “A previsão de cheias está a deteriorar-se rapidamente, muito mais água está a chegar e mais rapidamente”, disse Vadim Shumkov, governador da região de Kurgan, numa publicação no Telegram. Ele pediu às pessoas que evacuassem enquanto ainda podiam.
“Todos que vivem em assentamentos ao longo da planície de inundação do rio Tobol: evacuem. Não esperem que a água chegue. Ela virá à noite e de forma inesperada, chegando rapidamente na forma de uma grande onda”, disse Shumkov.
A capital regional, também chamada Kurgan, abriga 300 mil pessoas e fica às margens do rio. Os níveis da água estavam baixando em Orsk na segunda-feira, mas subiram para níveis perigosos na cidade de Orenburg. O Kremlin classificou a situação como “crítica” e disse que provavelmente “piorará”.
O Ministério de Emergências destacou que mais de 10.000 edifícios residenciais foram inundados, principalmente nos Urais, na área do Volga e no Oeste da Sibéria. O prefeito de Orenburg, Sergei Salmin, disse à televisão russa que a cidade “não via tanta água” há décadas. “A marca mais alta foi em 1942”, disse Salmin. “Desde então não houve inundações. Isto é sem precedentes”.
O centro meteorológico russo Rosgidromet disse que não espera que a enchente em Orenburg atinja o pico até quarta-feira. O rio Ural atravessa Orenburg e chega ao Cazaquistão, onde o presidente Kassym-Jomart Tokayev disse que as inundações foram uma das piores catástrofes naturais que afetaram o seu país em décadas. As autoridades de emergência também alertaram que o rio Irtysh provavelmente inundaria partes de Tobolsk, uma das cidades siberianas mais antigas da Rússia.
Putin, que tem sido um cético em relação ao clima durante grande parte do seu governo, ordenou nos últimos anos que o seu governo fizesse mais para preparar a Rússia para eventos climáticos extremos. O país sofreu graves inundações e incêndios nas últimas primaveras e verões.
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