Anúncios

Temporais com raios são absolutamente normais e ocorrem com frequência no Sul do Brasil em qualquer época do ano, especialmente nos meses da primavera e do verão que são os mais quentes da climatologia anual. Que ocorram em meio a uma densa camada de fumaça é muito pouco comum.

Raios em meio à fumaça de queimadas hoje de manhã em Caxias do Sul | DENIS GOERL

Foi o que se viu na manhã deste sábado na Serra Gaúcha. Em meio à densa fumaça vinda do Norte da América do Sul, nuvens carregadas se formaram e trouxeram descargas com raios nuvem-solo em Caxias do Sul e outras localidades serranas.

A instabilidade é consequência do ingresso de ar mais quente na Metade Norte do Rio Grande do Sul e que encontrou a atmosfera fria que ontem trouxe marcas abaixo de zero nos Campos de Cima da Serra.

O avanço do ar mais quente sobre o ar frio, como numa frente quente, acabou por gerar nuvens mais carregadas que provocaram as ocorrência de descargas atmosféricas em Caxias do Sul e outras cidades da Serra.

A instabilidade trouxe baixos volumes de chuva e em alguns locais houve apenas raios sem registro de precipitação com as descargas elétricas rasgando o céu enfumaçado da manhã deste sábado.

A fumaça acompanha correntes de vento vindas de Norte, pelo interior da América do Sul, a Leste da Cordilheira dos Andes, que traz também ar quente para o Sul do Brasil neste fim de semana com elevação acentuada da temperatura em muitas áreas.

Raios ocorrem sob corredor de fumaça

Imagens de satélite do começo da manhã deste sábado do GOES-16 da NOAA/NASA mostravam que o corredor de fumaça, tal como era previsto pela MetSul Meteorologia, voltou a atuar depois de dois dias de atmosfera limpa pela atuação de uma massa de ar frio.

NOAA/NASA

As imagens do GOES-16 indicavam uma grande quantidade de fumaça de queimadas chegando ao Sul do Brasil e com alta densidade ingressando a partir do Noroeste gaúcho, o que inevitavelmente vai levar à redução de visibilidade com aspecto de névoa no céu.

Estudos mostram efeito de fumaça em raios

Há muito é sabido que grandes incêndios florestais podem criar o seu próprio tempo com raios na área afetada pelo fogo, embora não seja este o caso desta manhã no Rio Grande do Sul porque o fogo que traz a fumaça está milhares de quilômetros distante.

A fumaça que percorre longas distâncias, entretanto, também pode interferir na ocorrência de descargas elétricas atmosféricas, conforme vários estudos. Isso porque o material particulado acaba por interferir na eletricidade das tempestades.

Ainda no final do anos 90, um estudo do MIT mostrou com a fumaça que estava vindo de incêndios no México interferiu com as características elétricas de tempestades distantes dos incêndios em estados norte-americanos. A fumaça causou três vezes o número normal de raios com carga positiva no solo nas planícies do Sul dos Estados Unidos, descobriram um pesquisador do MIT e seus colegas.

A fumaça que migrou para o vale do Rio Mississippi “pareceu ter uma influência substancial nas características elétricas das tempestades sobre o Centro dos Estados Unidos”, disse Earle Williams, principal cientista pesquisador do Laboratório Parsons do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental do MIT. “De alguma forma, a fumaça desses incêndios alterou significativamente as características elétricas de uma grande variedade de tipos de tempestades durante todas as fases de seus ciclos de vida.

“Normalmente, tempestades produzem flashes negativos no solo”, disse o Dr. Williams. “Por meses, eles mudaram para dominância positiva, o que é muito bizarro.” Outro exemplo de números elevados de flashes nuvem-solo de polaridade positiva ocorreu durante os incêndios severos no Parque Nacional de Yellowstone em 1988, ele disse.

Raios negativos se dão com a transferência de cargas negativas da nuvem para o solo e normalmente vêm de raios formados na base da nuvem.  Raios positivos se originam nas partes superiores da nuvem (bigorna) e são a transferência de cargas positivas para o solo. Raios positivos representam menos de 5% de todos os raios e são mais perigosos do que os negativos porque possuem campos elétricos maiores/mais fortes, duração mais longa e podem cair longe de uma tempestade, sem ouvir nenhum trovão.

Raios intensos sob fumaça hoje em Caxias do Sul | DENIS GOERL

As tempestades com fumaça também produziram números anormalmente altos de sprites ópticos mesosféricos. Esses brilhos fugazes em forma de água-viva vermelha são a assinatura de tempestades de grande intensidade.

A fumaça geralmente fornece partículas de matéria nas quais o vapor da nuvem se condensa, levando a gotas maiores de água que, por sua vez, podem afetar os mecanismos baseados em gelo responsáveis ​​pela separação a carga do raio, ele disse.

A névoa de fumaça e outros poluentes que paira sobre as cidades na camada de 500 a 1.000 metros só é limpa quando chove. Quando uma grande quantidade de fumaça, fuligem, contaminantes ou aerossóis está na atmosfera, eles podem ser “ingeridos” por tempestades e afetar a produção de raios.

A MetSul Meteorologia está nos canais do WhatsApp. Inscreva-se aqui para ter acesso ao canal no aplicativo de mensagens e receber as previsões, alertas e informações sobre o que de mais importante ocorre no tempo e clima do Brasil e no mundo, com dados e informações exclusivos do nosso time de meteorologistas.