Em 28 de março de 2024, um furacão tocou terra na costa do Sul do Brasil. O ciclone tropical batizado de Catarina deixou mortos e espalhou destruição entre o Litoral Norte do Rio Grande do Sul e o Sul de Santa Catarina. O evento extremo até hoje é um marco na Meteorologia.

Furacão Catarina na costa do Sul do Brasil em março de 2004 | NASA
Foi uma surpresa para a ciência. Em tese, furacões não deveriam se formar sobre as águas mais frias do Atlântico Sul e num região onde maior divergência de vento dificulta a formação de ciclones tropicais.
Ciclones tropicais, em regra, se formam em águas com temperaturas acima de 26,5°C e cisalhamento vertical (divergência) do vento abaixo de 8 m/s, de acordo com os experts em ciclones.
No entanto, essa ideia foi questionada após o ciclone Catarina atingir o Sul do Brasil em 2004, tornando-se o primeiro sistema de categoria 1 documentado na região. Embora eventos semelhantes possam ter ocorrido antes, não há registros na era dos satélites.
Estudos sugerem que um bloqueio atmosférico que favorecia uma estiagem à época reduziu o cisalhamento do vento, permitindo sua formação. Trabalhos apontam ainda uma ligação com a fase positiva do Modo Anular Sul (SAM).
A ocorrência do ciclone tropical Catarina em 2004 levanta a questão de uma possível ligação com as mudanças climáticas. No entanto, a resposta para essa questão não é conclusiva.
De acordo com análises, certeza apenas é que as mudanças climáticas são um fato. A atmosfera e os oceanos aqueceram significativamente nas últimas décadas, a quantidade de neve e gelo diminuiu, o nível do mar subiu e a concentração de gases de efeito estufa aumentou drasticamente, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU.
Com relação ao Atlântico Sul, o número de tempestades detectadas, que apresentam algumas características de ciclones tropicais, como os ciclones subtropicais, mas que não se desenvolveram completamente como tropical, aumentou na última década.
Em dezembro de 2024, o ciclone subtropical Biguá atingiu o Rio Grande do Sul com ventos fortes a intensos que provocaram significativos cortes de energia elétrica, em especial no Leste gaúcho.
Embora esse aumento possa ser um indício das mudanças climáticas, também pode ser apenas um reflexo da maior atenção dos meteorologistas a esses eventos. Cresceu muito o interesse por essas formações ciclônicas atípicas desde o Catarina e até listas com nomes para identificar os ciclones foram elaboradas.
Apesar disso, extremos como o ciclone tropical Catarina são extremamente raros por definição, e é impossível atribuir diretamente um evento isolado às mudanças climáticas. Não há evidências científicas suficientes para concluir se e como as mudanças climáticas estão influenciando eventos meteorológicos como o Catarina no Oceano Atlântico Sul.
Alguns pesquisadores teorizam que no futuro, pelo aquecimento do planeta e o maior calor latente dos oceanos, o litoral brasileiro poderia ser afetado por ciclones tropicais com maior frequência, especialmente nas costas do Sul e do Sudeste.
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