Anúncios

Canguçu, na Serra do Sudeste, já teve neve em alguns pontos hoje cedo, mas vai ser entre esta quarta e o começo da quinta que o fenômeno será muito mais amplo e pode ser registrado em um grande número de municípios do Sul do Brasil, em particular do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. A MetSul considera a possibilidade de ser o evento de neve com a maior abrangência geográfica desde 2013, caindo até em lugares em que não nevou há oito anos, podendo a neve inclusive até de acumular.

O período mais favorável para a neve será entre esta quarta e o começo da quinta, mas depois as nuvens se afastam e o tempo abre no decorrer da quinta-feira, o que vai gerar um amanhecer de frio excepcionalmente forte a extremo como poucas vezes se viu na história recente com marcas históricas e até recordes em algumas estações meteorológicas.


Mínimas abaixo de zero serão generalizadas, exceto por pontos próximos do oceano no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e o Paraná. Mínimas tão baixas quanto -8ºC a -9ºC são possíveis no estado gaúcho na sexta cedo, de -10ºC a -12ºC em pontos do Planalto Sul Catarinense e de -6ºC a -8ºC nos locais mais frios do Paraná, o que trará uma das geadas mais fortes em tempos recentes.

Antes, contudo, vem a neve e ela poderá cair em muito mais lugares que o habitualmente se dá. As chances já começam cedo da manhã nas áreas de maior altitude do Sul do Brasil, Uruguai, região da fronteira e na Campanha. No decorrer do dia cresce a chance em outras áreas, especialmente da tarde para a noite.

O que esperar da neve?

As áreas do Rio Grande do Sul com maior chance de nevar são a Serra Gaúcha e os Aparados/Campos de Cima da Serra, especialmente entre a tarde e noite desta quarta e a madrugada de quinta. É alta a probabilidade de acumulação em diferentes pontos de maior altitude. Outra área com elevadíssima probabilidade de neve é o Planalto Sul de Santa Catarina e o Planalto de Palmas, no Sul do Paraná.

A MetSul enfatiza que deve ser um evento de neve diferente do que normalmente ocorre, quando neva só em locais mais altos do Sul do Brasil, em regra com cotas de altitude acima dos 800 metros. Desta vez pode nevar em locais até de baixa e média altitude. Isso ocorreu poucas vezes na história recente dos últimos 20 ou 30 anos. Chance de neve do Sul gaúcho ao Paraná se viu, por exemplo, em 1984 e 2000, dentre outras raras ondas polares.

A possibilidade de nevar em locais fora das regiões tradicionais do fenômeno significa uma área desta vez muito maior com chance de neve. Conforme a análise da MetSul, esta área inclui pontos (não a integralidade destas regiões) da fronteira com o Uruguai, a Campanha, Serra do Sudeste, áreas a Oeste da Lagoa dos Patos como elevações situadas a Sudoeste de Porto Alegre, o Centro-Serra e outros pontos mais altos do Centro gaúcho, Planalto Médio e Alto Uruguai, e até encostas da Serra nos vales e no alto de morros no Litoral Norte, no Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina, no Meio-Oeste e Planalto Norte.

Projeção de neve do modelo WRF

Projeção de neve do modelo canadense

Projeção de neve do modelo americano

Projeção de neve do modelo WRF

Projeção de neve do modelo americano

Projeção de neve do modelo WRF

O avanço de nuvens e instabilidade com o ar extremamente gelado em altitude e o perfil mais seco perto da superfície não permite se descartar precipitação invernal isolada na forma de chuva congelada, graupel e neve granular em áreas de muito baixa altitude ou ao nível do mar, o que inclui a região da Capital e área metropolitana. O que ocorre?

Com o perfil vertical mais seco da atmosfera extremamente fria, o floco de neve que deixa a nuvem consegue se conservar por mais tempo mesmo encontrando camadas de temperatura positiva e por isso pode acaba nevando ou caindo graupel em locais baixos, mesmo com temperatura em superfície tão alta quanto 5ºC a 7ºC positivos.

Precipitação invernal no Sudeste?

E no Sudeste do Brasil, pode nevar? O Instituto Nacional de Meteorologia em nota informou que existe a possibilidade de queda de chuva congelada nas áreas mais altas entre Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. É uma avaliação correta dado que a linha de 0ºC a 1.500 metros passará pelo Sul e o Leste de São Paulo e a isoterma de 1ºC em 1.500 metros de altitude de 1ºC estará na altura da cidade do Rio de Janeiro.

Com elevações de mais de 2 mil metros. A possibilidade de precipitação invernal, assim, está longe de ser possível descartar. O que é mais remoto, porém, não descartável é a neve pois uma região que com frequência tem camadas de inversão térmica que desfavorecem o fenômeno mesmo com frio intenso.

Chance de acumulação no Sul do Brasil

A possibilidade de acumulação nos locais de maior altitude é real neste evento, mas é difícil estimar alturas. Na ciência meteorológica poucas coisas são tão ao mesmo tempo difíceis e complexas como se prever neve e sua acumulação. O National Weather Service dos Estados Unidos, o mais preparado e moderno centro meteorológico do mundo, por exemplo, anos atrás fez com que Nova York tivesse todas as suas atividades suspensas, inclusive o trânsito de veículos, ao prever mais de meio metro de neve para a cidade. Nevou apenas alguns centímetros.

Como visto nos mapas, o modelo WRF de alta resolução é o mais agressivo na previsão de acumulação, chegando a projetar 6 cm a 8 cm para pontos dos Aparados da Serra do Rio Grande do Sul, entre São Francisco de Paula e Bom Jesus.

Impossível, porém, fechar os olhos para outros modelos que indicam neve em muitíssimo menor quantidade e que dificilmente chegaria a mísero 1 cm. Uma previsão de acumulação, assim, é por demais dificultosa e dadas as condições pode surpreender em qualquer sentido, para mais ou para menos dependendo dos locais.

O que pode ocorrer, em nossa avaliação, é que a haverá a circulação de nuvens de maior desenvolvimento vertical da tarde para a noite alcançando a Serra. No calor, estas nuvens trazem pancadas isoladas de chuva. No frio extremo, podem provocar pancadas de neve forte isoladas.

O ar, ademais, estará incrivelmente frio em camadas da atmosfera entre 3 mil e 5 mil metros de altitude e a diferença de temperatura com níveis mais baixos favorecerá maior instabilidade, o que em casos mais extremos resulta muito raramente até em trovoadas com neve, o que no Brasil só se viu em 2005 em Santa Catarina e é excepcionalmente raro.

Por isso, consideramos a possibilidade de que ocorram períodos de neve isolada mais forte que poderia acumular rapidamente, ainda mais com a temperatura ambiente abaixo de zero (impede derretimento nas superfícies) e sem ter sido precedido por chuva forte, o que igualmente deixa os ambientes úmidos e dificulta acumulação.

Para se ver a complexidade da previsão de neve, é impossível desconsiderar neste evento elemento freqüentemente ignorado e até desconhecido por muitos no Brasil, até por quem prevê neve na mídia. Trata-se da taxa de neve por temperatura e o equivalente líquido, ou snow ratio. Nevar 1 mm com 0ºC de temperatura gera acumulação de 1 cm. Nevar 1 mm de equivalente líquido com quase -20ºC de temperatura traz acumulação de 4 cm ou 400% a mais. Por isso, em picos de áreas de montanhas ou cordilheiras a neve acumula demais e ocorrem avalanches, como nos Alpes, Rochosas, Sierra Nevada e Andes.

O ar estará extremamente frio em altitude e o frio muito intenso em superfície quando da neve na noite de quarta para quinta. Possível que alguns locais tenham neve com -3ºC a -6ºC, especialmente nos picos, e isso pode levar a uma taxa de snow ratio de até 1.2X ou 1,5X, logo aumentando o potencial de acumulação.

Por fim, na hipótese de ocorrer neve com acumulação ela pode ser potencializada pelo vento no que se denomina em snow drifting em que o vento leva os flocos para um obstáculo, acumulando mais.

Anúncios