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Porto Alegre e outros pontos da região metropolitana amanheceram com forte nevoeiro nesta quinta-feira, uma condição que, embora não seja rara, é pouco frequente no mês de outubro. Se nevoeiro não é comum nesta época do ano, ainda mais incomum que seja denso e traga uma forte redução de visibilidade como na manhã de hoje.

Visibilidade desceu a apenas 150 metros no Aeroporto Salgado Filho | FERNANDO OLIVEIRA

O nevoeiro no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, durou quatro horas e meia no final da madrugada e começo da manhã desta quinta. O primeiro registro nos boletins METAR (Meteorological Aerodrome Report) se deu às 4h da manhã e o último às 8h29.

O que chamou a atenção foi a densidade do nevoeiro para outubro. De acordo com os dados do Aeroporto Salgado Filho, no momento de maior restrição da visibilidade horizonta, ela desceu a apenas 150 metros no aeródromo, como nos dias de nevoeiro mais denso do outono e do inverno.

Os dados apontaram visibilidade de 500 metros às 4h depois de 4.000 metros às 4h, de 150 metros às 6h e novamente às 7h da manhã, de 400 metros às 8h e, finalmente, 900 metros às 8h17. Na sequência, a condição passou de nevoeiro para neblina no momento em que a visibilidade horizontou superou mil metros.


O fenômeno também foi observado na Grande Porto Alegre. Na base aérea de Canoas, o primeiro METAR das 6h já indicou nevoeiro com visibilidade de apenas 300 metros e que se manteve no informe das 7h. Às 8h da manhã, a visibilidade já havia subido para 900 metros. No informe das 9h, a condição não era mais de nevoeiro e sim de neblina com 1.500 metros de visibilidade.

Denso nevoeiro não é comum em outubro

Porto Alegre possivelmente seja uma das áreas mais propensas a nevoeiro no Brasil e as razões são de natureza geográfica. Além de estar no Sul do Brasil, onde a atuação do ar frio favorece uma maior ocorrência do fenômeno, a capital gaúcha está cercada por vários rios e tem ainda ao lado um lago (Guaíba), sem mencionar estar ao Norte da Lagoa dos Patos.

A presença de rios ainda faz com que a região de Porto Alegre seja utilizada na plantação de arroz, o que faz com que muitas áreas ao redor da cidade sejam alagadiças e de banhados. O que não falta, assim, é umidade em superfície que combinada com o resfriamento noturno nos meses mais frios do ano acaba trazendo muitos dias com neblina e nevoeiro na cidade e na área metropolitana.

Um estudo da Força Aérea Brasileira (FAB) da frequência do fenômeno no Aeroporto Salgado Filho, realizado entre os anos de 1998 e 2006, de autoria de Luiz Alexandre Fragozo de Almeida, mostrou que os meses da segunda metade do outono do inverno são os de maior incidência do fenômeno no aeródromo.

Os três meses com maior frequência de cerração no período de estudo, de acordo com a pesquisa publicada pela FAB, foram junho com 63 dias, maior com 56 e julho com 48. Na sequência, aparecem abril com 33 dias, setembro com 18 e março com 12. Outubro registrou apenas 7 dias com nevoeiro nos nove anos do estudo, ou seja, média inferior a 1 dia. O período de novembro a fevereiro tem muito baixa incidência do fenômeno.

As causas do nevoeiro

Quando o ar é resfriado pela perda noturna de radiação, surgem as condições favoráveis para a formação de bancos de nevoeiro junto aos rios, especialmente em vales, tal como nevoeiro de vapor sobre os mananciais d’água. Essas ocorrências são comuns no outono, quando a água ainda está mais quente e o ar já está sendo resfriado.

Imagem das 7h30 de hoje do satélite meteorológico GOES-16 mostra o nevoeiro e as nuvens baixas que cobriam Porto Alegre, a região metropolitana e a parte final da bacia do Rio Jacuí | METSUL

As noites ficam mais frias, a temperatura cai mais, e as águas quentes trocam umidade com a camada de ar frio que está logo acima da superfície. A frequência deste tipo de nevoeiro é, em especial, frequente com vales cortados por rios. As moléculas do manancial de água estão sempre evaporando, levando umidade para o ar.

Quanto mais quentes as águas, maior a evaporação e maior a presença de umidade no ar. Se uma noite fria e de céu claro é registrada, aproximando-se a temperatura do ponto de orvalho, o nevoeiro começa a se formar e neste tipo de situação, em regra, é raso, o que permite ver até o topo dos prédios mais altos.

No caso de hoje, um centro de alta pressão garantia estabilidade atmosférica na madrugada desta quinta-feira. Com a umidade alta resultante da chuva e garoa de ontem, a abertura do tempo com escassa nebulosidade na madrugada favoreceu queda de temperatura e proporcionou a formação da cerração na capital.

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