Algumas cidades do Sudeste do Brasil têm tido durante esta primeira semana de julho noites e madrugadas com temperatura mais baixas que as localidades mais famosas pelo frio no Sul do Brasil como a catarinense São Joaquim ou a gaúcha São José dos Ausentes.

O frio no começo do dia se faz sentir principalmente em pontos de Minas Gerais e da Região Serrana do Rio de Janeiro enquanto no Sul do país o frio vem se limitando mais ao Sul gaúcho e à Campanha por padrão de bloqueio atmosférico. Nesta quinta, o Sul gaúcho teve 2,2ºC em Jaguarão e 3,1ºC em Bagé.

Hoje, Delfim Moreira, no Sul de Minas, anotou -2,6ºC abaixo de zero. Ontem, por exemplo, Caldas teve 3,6°C e Maria da Fé mínima de 4,0°C. Mais cedo nesta semana, temperaturas ainda mais baixas foram anotadas com 2,7°C em Caldas na terça e na quarta. No Rio de Janeiro, Nova Friburgo que é famosa pelo frio na Serra Fluminense registrou 3,6°C na terça.

Não há nenhuma massa de ar frio atuando no Brasil Central e no Sudeste, então por que, afinal, as noites têm sido frias nestas cidades? Todas têm algo em comum: as estações meteorológicas estão em lugares bem altos. Caldas (MG) está a 1.100 metros, Maria da Fé a 1.250 metros e Nova Friburgo a 850 metros. Cidades que estão em uma altitude alta via de regra apresentam temperaturas mais baixas em relação às outras cidades próximas de menor altitude, mesmo sem a passagem do ar mais frio de origem polar.

Ocorre que o friozinho à noite não tem se limitado aos municípios em regiões de Serra.  Cidades do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás e Minas vem experimentado marcas ao amanhecer ao redor de 10ºC e até de um dígito. Hoje, os termômetros indicaram 7ºC em Racharia, interior de São Paulo. Rio Brilhante, no Mato Grosso do Sul, teve 10ºC. Em Goiás, 10,5ºC em Jataí.

A explicação está no perfil vertical da atmosfera. Grande parte do Brasil está sob influência de uma massa de ar seco. Quando a atmosfera está muito seca, esfria muito durante a noite e aquece bastante durante o dia. Mesmo processo que leva as regiões de clima desértico a terem muito frio no período noturno e calor à tarde com enorme amplitude térmica.

Mais ao Sul do Brasil, ocorre o contrário. Nenhuma massa de ar frio atua na Metade Norte do Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, e para piorar a atmosfera está mais úmida e ainda há a atuação desde o começo do mês de sucessivas correntes de jato em baixos níveis da atmosfera trazendo ar mais quente, o que faz com que esta primeira semana de junho termine com temperatura muito alta que o normal para esta época do ano.

Independente de altitude, no Sul do Brasil pode fazer muito frio com alta ou baixa umidade, mas desde que haja uma massa de ar frio mais forte atuando. Dias nebulosos e com chuva podem ser gelados no Sul, mas apenas sob ar polar atuando. Sem ar frio e com alta umidade, as marcas nos termômetros ficam acima da média. Com correntes de vento de Norte aportando ar quente em parte da região, ficam ainda mais acima da média.

Por isso, os dias mais gelados nas madrugadas ocorrem habitualmente sob a combinação de ar frio e perfil seco da atmosfera no Sul do Brasil, o que ocorreu muitas vezes nos meses de maio e junho neste ano, mas não tem ocorrido com frequência nas Serras do Rio Grande do Sul e Santa Catarina agora no começo de julho de temperatura muitíssimo acima da média entre a Metade Norte gaúcha e o Paraná.