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Ricardo Bourscheid

A impressionante foto ao lado é de uma clássica supercélula de tempestade em Santo Ângelo no começo da noite do último dia 11 e que trouxe granizo de grande tamanho com estragos no município das Missões. Só um dos tantos temporais que castigaram o Estado neste mês de outubro com mais de uma centena de cidades afetadas e milhares de residências e prédios danificados por vento e queda de granizo grande. Afinal, por que tantos e intensos temporais no Rio Grande do Sul durante as últimas semanas?

Ponto inicial e de fundamental importância, tempestades são comuns nesta época do ano e inexiste qualquer novidade. A primavera, como se sabe, é período do ano com alta frequência de tempo severo no Rio Grande do Sul. É estação de transição em que massas de ar frio e quente se intercalam, gerando os temporais. Frentes frias nos alcançam com massas de ar mais quentes na dianteira que no inverno ou no outono, gerando condição propícia à formação de tempestades. O número de ocorrências de vendavais e granizo costuma aumentar muito entre os meses de setembro e outubro. O texto abriu mencionando uma supercélula no dia 11. Num mesmo 11 de outubro, mas em 2000, foi que ocorreu o tornado arrasador F3 em Águas Claras, na zona rural de Viamão, na Grande Porto Alegre. Evidência de que tempestades severas sempre ocorrem nesta época do ano e fazem parte da nossa climatologia regional.

Esse mês, contudo, teve frequência de temporais intensos acima do comum nos seus primeiros vinte dias. Isso passou por incursões mais significativas de ar quente, o que é combustível para geração de instabilidade, centros de baixa pressão profundos como o que determinou a onda de tempestades severas com vendavais do dia 1º e precipitações acima da média histórica em praticamente todo o Rio Grande do Sul. A pressão atmosférica no primeiro dia do mês, marcado por violentos e destrutivos vendavais em Porto Alegre e no interior gaúcho, chegou a apenas 990 hPa. Trata-se de um valor absolutamente incomum e excepcionalmente baixo, o que levou ao episódio de vento acima de 100 km/h em muitas localidades gaúchas naquele dia.

O que esperar nas próximas semanas no Rio Grande do Sul e no Sul do Brasil? À medida que se aproximar o verão as frentes frias tendem a ser menos freqüentes e suas trajetórias serão cada vez mais oceânicas, mas incursões de ar quente serão mais comuns. O número de jornadas de calor, obviamente, aumentará. Passarão a ocorrer temporais associados ao calor e à umidade, isolados e normalmente no fim de tarde ou começo da noite. São os famosos temporais de verão, gerados por convecção, e que não raro podem ser fortes e até com danos em alguns casos. São mais comuns em dias de calor muito intenso e com altas taxas de instabilidade atmosférica. Ondas de tempestades, que atingem grande parte do Rio Grande do Sul, dependerão da atuação de sistemas frontais e ainda podem ser esperadas.


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