Moradores de diversos municípios do Rio Grande do Sul tiveram a atenção chamada no fim da tarde no domingo e ontem pela presença no céu de nuvens isoladas em forma de bigorna ou cogumelo. Estas formações têm direta relação com a forte onda de calor que assola o estado.

Nuvem vista em Sobradinho, na região do Centro-Serra, no final da tarde do domingo | IARA PUNTEL
No domingo, a temperatura máxima oficial no Rio Grande do Sul chegou a 39,1ºC em Quaraí, no Oeste. Ontem, a mesma Quaraí registrou a impressionante marca de 42,5ºC durante a tarde.
A máxima de 42,5ºC em Quaraí é a temperatura mais alta registrada até agora no Brasil neste ano de 2025 na rede de estações do Instituto Nacional de Meteorologia, superando os maior registros anteriores de 42,4ºC, também em Quaraí em 23 de janeiro, e de 42,1ºC em Porto Murtinho (Mato Grosso do Sul), no dia 17 de janeiro.
Hoje, novamente, a temperatura vai superar os 40ºC no Rio Grande do Sul e em maior número de cidades com previsão de máximas entre 40ºC e 43ºC em diversos pontos do interior gaúcho.
Justamente o calor explica a formação destas nuvens em forma de cogumelo que têm sido vistas pelo interior do estado, normalmente no fim da tarde. Elas se formam por um processo atmosférico denominado de convecção.
A convecção é um processo de transferência de calor que ocorre em fluidos, incluindo a atmosfera, devido ao movimento de massas de ar impulsionado por diferenças de temperatura e densidade.
Em dias quentes de verão, como têm ocorrido nesta semana no estado, esse fenômeno é particularmente intenso, pois o solo aquece rapidamente sob a radiação solar e transfere calor para as camadas inferiores da atmosfera.
O ar quente e menos denso ascende, criando correntes ascendentes, enquanto o ar mais frio e denso desce para ocupar o espaço deixado pelo ar que subiu. Esse ciclo contínuo resulta na formação de nuvens de desenvolvimento vertical.
À medida que o ar quente sobe, ele encontra camadas mais frias da atmosfera, levando à condensação do vapor d’água presente no ar. Essa condensação libera calor latente, intensificando ainda mais o movimento ascendente e favorecendo o crescimento das nuvens.
Inicialmente, formam-se nuvens Cumulus congestus, volumosas, com aspecto de bolas de algodão e em constante desenvolvimento. Com o contínuo suprimento de ar quente e úmido, essas nuvens podem evoluir para uma Cumulonimbus.
Estas nuvens Cumulonimbus (Cb) possuem uma estrutura característica, com grande desenvolvimento vertical que pode ultrapassar dez quilômetros ou mais de altitude. Seu topo frequentemente apresenta um formato de bigorna ou cogumelo devido à interação com a tropopausa, a camada limite entre a troposfera e a estratosfera. Ao atingir essa barreira, o ar ascendente se espalha horizontalmente, formando a clássica estrutura achatada observada em imagens de tempestades.

Nuvem em forma de bigorna (Cb) vista de Ijuí ontem | CARLOS KIST
Os Cbs são associados a fenômenos meteorológicos intensos, incluindo fortes pancadas de chuva, rajadas de vento, queda de granizo e descargas elétricas. Em alguns casos, podem gerar microexplosões, correntes descendentes extremamente violentas de vento, e dar origem a tornados.
Com o prosseguimento do calor intenso hoje, amanhã e nos dias seguintes, não apenas o Rio Grande do Sul deve presenciar estas nuvens. Santa Catarina e Paraná também terão estas nuvens. Aliás, formações localizadas de nuvens Cumulunimbus causaram chuva forte isolada e temporais localizados com vento ontem no Paraná, como em Curitiba.
A MetSul Meteorologia está nos canais do WhatsApp. Inscreva-se aqui para ter acesso ao canal no aplicativo de mensagens e receber as previsões, alertas e informações sobre o que de mais importante ocorre no tempo e clima do Brasil e no mundo, com dados e informações exclusivos do nosso time de meteorologistas.