Antártida, contrariando a tendencia de temperatura do resto do mundo, teve um inverno muito mais frio que o normal neste ano e sem precedentes em rigor na área do Polo Sul | JOHAN ORDONEZ/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O Polo Sul teve o inverno mais frio já observado desde que tiveram início as medições de temperatura por estações meteorológicas na região há 64 anos.  O frio extraordinário na região mais meridional da Antártida está em total contraste com grande parte do resto do planeta que registrou seu quarto período mais quente de junho a agosto, de acordo com a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA). O Hemisfério Norte, por exemplo, registrou seu segundo verão mais quente até hoje.

A estação meteorológica base polar de Amundsen-Scott junto ao Polo Sul registrou recordes de frio na temporada invernal de 2021 (abril a setembro) com temperatura média de -61,1°C. Desde o começo das medições em 1957 na estação antártica o recorde anterior era de 1976 com -60,6°C.

A média deste ano na base ficou 2,5°C abaixo da média dos últimos 30 anos, um fato notável para um planeta cada vez mais quente. Além disso, o frio extremo que a região experimentou neste ano elevou os níveis de gelo marinho da Antártida para o quinto mais alto já registrado em agosto.

De acordo com o pesquisador da Universidade de Wisconsin, Matthew Lazzara, em entrevista ao Washington Post, a temperatura atingiu menos de 70ºC em muitos dias na estação durante o inverno deste ano. Em 30 de setembro, a temperatura na estação Vostok da Rússia caiu para -79,3°C, um pouco abaixo do recorde mundial para a temperatura mais baixa em outubro, que é de -80°C. O recorde mundial de todos os tempos é -89,2°C, registrado na estação Vostok em 21 de julho de 1983.

BRITISH ANTARCTIC SURVEY/DIVULGAÇÃO

Por que o inverno tão frio neste ano no Polo Sul? A explicação passa por um vórtice polar muito intenso, ou seja, o cinturão de ventos fortes na estratosfera ao redor da Antártida esteve mais forte neste ano.  A força do vórtice tem conexões com o clima em superfície à medida que se estiver mais intenso que o normal aprisiona ar gelado no extremo Sul do planeta com frio mais intenso que o normal. A variação de força do vórtice polar está associada a um ciclo conhecido como Modo Anular Sul que no momento está em sua fase positiva, o que leva o vórtice a ser mais intenso. Se a fase é negativa, a corrente de jato polar consegue ondular para latitudes mais baixas. Foi o que ocorreu no final de julho e trouxe a poderosa onda de frio com neve no Centro-Sul do Brasil.

Finalmente, um forte vórtice polar também leva a uma maior redução da camada de ozônio na estratosfera, o que fortalece o vórtice polar ainda mais. O ozônio é um gás composto de três moléculas de oxigênio que se encontram no alto da atmosfera. O ozônio protege a superfície da Terra dos nocivos raios ultravioleta e sua diminuição determina um buraco maior da camada de ozônio sobre a Antártida. Isso explica que o buraco de ozônio deste ano no Sul do planeta esteja entre os maiores já observados, repetindo o padrão de 2020.