
Antártida, contrariando a tendencia de temperatura do resto do mundo, teve um inverno muito mais frio que o normal neste ano e sem precedentes em rigor na área do Polo Sul | JOHAN ORDONEZ/AFP/METSUL METEOROLOGIA
O Polo Sul teve o inverno mais frio já observado desde que tiveram início as medições de temperatura por estações meteorológicas na região há 64 anos. O frio extraordinário na região mais meridional da Antártida está em total contraste com grande parte do resto do planeta que registrou seu quarto período mais quente de junho a agosto, de acordo com a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA). O Hemisfério Norte, por exemplo, registrou seu segundo verão mais quente até hoje.
All latitude bands, except for Antarctica, observed above average temperatures over the last three months.
[Plot shows average June to August 2021 zonal-mean surface air temperature anomalies, where latitude = x-axis (not scaled by distance). Data from @NASAGISS (GISTEMPv4)] pic.twitter.com/OjHA4YiSe5
— Zack Labe (@ZLabe) September 21, 2021
A estação meteorológica base polar de Amundsen-Scott junto ao Polo Sul registrou recordes de frio na temporada invernal de 2021 (abril a setembro) com temperatura média de -61,1°C. Desde o começo das medições em 1957 na estação antártica o recorde anterior era de 1976 com -60,6°C.
A média deste ano na base ficou 2,5°C abaixo da média dos últimos 30 anos, um fato notável para um planeta cada vez mais quente. Além disso, o frio extremo que a região experimentou neste ano elevou os níveis de gelo marinho da Antártida para o quinto mais alto já registrado em agosto.
Brutal cold in Antarctica, impressive even for the coldest place on Planet Earth.
The end of September came close to the world record for lowest temperature in October (-80°C).
The all-time cold record is −89.2 °C (−128.6 °F) from Vostok Station on 21 July 1983. pic.twitter.com/i2Mo1xjoEG
— Scott Duncan (@ScottDuncanWX) October 2, 2021
De acordo com o pesquisador da Universidade de Wisconsin, Matthew Lazzara, em entrevista ao Washington Post, a temperatura atingiu menos de 70ºC em muitos dias na estação durante o inverno deste ano. Em 30 de setembro, a temperatura na estação Vostok da Rússia caiu para -79,3°C, um pouco abaixo do recorde mundial para a temperatura mais baixa em outubro, que é de -80°C. O recorde mundial de todos os tempos é -89,2°C, registrado na estação Vostok em 21 de julho de 1983.

BRITISH ANTARCTIC SURVEY/DIVULGAÇÃO
Por que o inverno tão frio neste ano no Polo Sul? A explicação passa por um vórtice polar muito intenso, ou seja, o cinturão de ventos fortes na estratosfera ao redor da Antártida esteve mais forte neste ano. A força do vórtice tem conexões com o clima em superfície à medida que se estiver mais intenso que o normal aprisiona ar gelado no extremo Sul do planeta com frio mais intenso que o normal. A variação de força do vórtice polar está associada a um ciclo conhecido como Modo Anular Sul que no momento está em sua fase positiva, o que leva o vórtice a ser mais intenso. Se a fase é negativa, a corrente de jato polar consegue ondular para latitudes mais baixas. Foi o que ocorreu no final de julho e trouxe a poderosa onda de frio com neve no Centro-Sul do Brasil.
Finalmente, um forte vórtice polar também leva a uma maior redução da camada de ozônio na estratosfera, o que fortalece o vórtice polar ainda mais. O ozônio é um gás composto de três moléculas de oxigênio que se encontram no alto da atmosfera. O ozônio protege a superfície da Terra dos nocivos raios ultravioleta e sua diminuição determina um buraco maior da camada de ozônio sobre a Antártida. Isso explica que o buraco de ozônio deste ano no Sul do planeta esteja entre os maiores já observados, repetindo o padrão de 2020.