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O Brasil enfrenta a maior deficiência hídrica no solo em ao menos uma década, o que dificulta o plantio da safra de verão em diversas regiões do país. O atraso não encontra precedentes na história recente em diversos estados.

No Mato Grosso, por exemplo, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) informou que o estado, que é o maior produtor de soja do Brasil, tinha apenas 3% da área plantada até o dia 9 deste mês, muito abaixo dos quase 19% do mesmo período do ano passado e abaixo da média histórica da data de 16,6%. O grande atraso no plantio ameaça a segunda safra na região Centro-Oeste.

No Sul do Brasil, o plantio está no nível mais atrasado em ao menos cinco anos no Paraná com apenas 16% plantados até a última semana, quando dois anos atrás o percentual chegava a quase 50%. Muitos produtores enfrentam o temor de “plantar no seco”.

É o caso também do Rio Grande do Sul, onde há uma deficiência hídrica acentuada no Noroeste e no Norte do Estado. No Oeste, produtor veterano de arroz com mais de três décadas no campo e cliente dos serviços de assessoria personalizada para produtor da MetSul, relatou que em toda a sua vida de agricultura de décadas jamais tinha visto não ter ocorrido ainda germinação pela falta de água no solo.

O período de plantio da soja estabelecido pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para o Rio Grande do Sul vai do final de setembro até o fim de dezembro e, em regra, a semeadura se intensifica depois do dia 10 de outubro, quando, segundo registros históricos, há chuvas adequadas ao manejo do solo. Não é o caso deste ano em que as precipitações no estado gaúcho não apenas têm sido escassas e quando ocorrem são por demais irregulares. Como se vê no mapa de chuva de outubro até o dia 17, o Norte e o Noroeste do Estado, além do Centro gaúcho, tiveram muito pouca chuva neste mês até o momento.

O mapa abaixo do LAPIS/Universidade Federal de Alagoas mostra a umidade do solo na segunda semana do mês de outubro e como está crítica a situação hoje para o plantio da safra de verão 2020/2021. Observa-se baixíssima porcentagem de água no solo em grande parte do país, notadamente na área central do território brasileiro. No Nordeste, Centro-Oeste e parte do Sudeste, a maior parte dos estados apresenta umidade no solo insuficiente para o desenvolvimento das plantas, abaixo da marca de 10%. Um total de 386 municípios do Brasil se encontra em emergência devido à estiagem, sendo 158 no Sul do Brasil.

A tendência é de melhora no Centro-Oeste e no Sudeste do Brasil à medida que voltou a chover e as precipitações tendem a ser diárias nestas regiões. O problema, agravado pelo alto déficit hídrico, é que a chuva precisa ser volumosa e bem distribuída, mas isso não deve ocorrer. A perspectiva é de chuva muito irregular na distribuição com volumes altos localizados e não generalizados. Deve chover mais no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, o Norte de São Paulo e parte de Minas Gerais à medida que se instala a estação chuvosa gradualmente.

O grande problema está no Sul do Brasil, em particular no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que devem seguir com chuva abaixo da média na maioria dos municípios e com precipitação escassa em alguns. Calor agora na primeira metade da semana agravará ainda mais a perda de umidade do solo. Por isso, não apenas se espera atraso ainda maior no plantio no Sul do país como provável perda de produtividade na cultura de milho. A escassez de precipitação, ademais, tem impacto nesta fase final da safra de trigo.