Ciclone que vai se formar no Sul do Brasil vai desencadear uma onda de tempestades que afetará com temporais chuva forte, vendavais e granizo ao menos oito estados nas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste na sexta-feira e no fim de semana.
Onda de tempestades vai acompanhar a formação do ciclone | GABRIEL ZAROLLI
Uma área de baixa pressão vai avançar do Nordeste da Argentina para o Rio Grande do Sul na sexta, devendo se aprofundar sobre o estado gaúcho no decorrer do dia com uma ciclogênese, nome técnico que se dá à formação de um ciclone.
No final da sexta e no começo do sábado, o centro do ciclone deve estar posicionado muito rente à costa nos litorais Norte do Rio Grande do Sul e o Sul de Santa Catarina, o que vai provocar vento forte a intenso com rajadas próximas e acima de 100 km/h em alguns pontos.
A pressão atmosférica em superfície entre sexta e sábado vai cair muito com o ciclone. Modelos numéricos indicam valores de pressão abaixo de 1000 hPa, quando o normal ao nível do mar é de 1012 hPa.
Valores de pressão abaixo de 1000 hPa, embora não raros, não são comuns. Quanto menor a pressão atmosférica, maior tende a ser instabilidade. Por isso, episódios de tempo severo costumam ocorrer com baixa pressão atmosférica.
A interação da baixa pressão com ar quente e úmido em altitude e mesmo tempo uma massa de ar frio avançando da Argentina vai criar as condições ideais para um episódio de tempo severo no Sul do Brasil.
A ciclogênese deve organizar uma linha de instabilidade na sexta-feira que vai avançar pelo Noroeste e o Norte do Rio Grande do Sul e depois alcançar Santa Catarina e o Paraná com chuva localmente forte a intensa e alta probabilidade de temporais.
Neste tipo de situação, com linha de instabilidade se deslocando em um ambiente de ciclogênese o maior risco é a ocorrências de vendavais, isoladamente fortes a severos com danos, embora possa ocorrer queda de granizo.
Onda de tempestades será maior no Sul
A sexta-feira será o dia mais crítico de instabilidade no Sul do Brasil, segundo avaliação da MetSul com base nos modelos meteorológicos. Os três estados da região devem ter chuva localmente forte a intensa e temporais no decorrer do dia.
Os maiores volumes de chuva na sexta devem se dar na Metade Norte gaúcha, em especial em pontos do Centro para o Noroeste e o Norte do estado, e em área entre o Meio-Oeste e o Planalto Sul Catarinense. Os acumulados vão passar facilmente de 100 mm em diversos municípios em poucas horas.
A baixa pressão instabiliza o tempo ainda na madrugada na Metade Oeste gaúcha. De manhã, a instabilidade aumenta demais sobre o Rio Grande do Sul à medida que o sistema avança para o território gaúcho e se aprofunda sobre o estado. Da tarde para a noite da sexta, a instabilidade prossegue com grande intensidade.
Os mapas a seguir mostram as projeções de chuva e pressão atmosférica para a madrugada, manhã, tarde e noite da sexta-feira no Sul do Brasil a partir de dados do modelo do Centro Meteorológico Europeu (clique aqui para ter acesso).
METSUL
Preocupa na sexta-feira a formação de linha de instabilidade ou squall line no ambiente ciclogenético (de formação do ciclone) que vai se organizar durante a tarde no Noroeste e no Norte gaúcho, deslocando-se na sequência por Santa Catarina e o Paraná.
A sequência de mapas abaixo mostra a projeção de refletividade do modelo WRF-ECMWF para 3h, 9h, 15h e 21h da sexta em que se observa como deve se organizar uma linha com tempestades que avançará pelo Sul do Brasil na segunda metade do dia.
METSUL
Linhas de instabilidade associadas a ciclones costumam se formar na dianteira do sistema, onde há forte contraste entre massas de ar e significativa convergência de umidade. Nessas regiões, ar quente e úmido é forçado a subir rapidamente, alimentando nuvens enormes que podem se organizar em faixa contínua de tempestades.
A estrutura convectiva é capaz de produzir ventos destrutivos em linha, além de granizo e intensa atividade elétrica. Quando o ciclone é mais profundo e a atmosfera apresenta grande cisalhamento do vento, o risco de rajadas severas aumenta e até de fenômenos severos de vento isoladíssimos como tornados ou microexplosões.
Tempestades vão alcançar o Centro do Brasil
Fortes a intensas áreas de instabilidade geradas pela ciclogênese no Sul do Brasil vão se formar e alcançar até o final da sexta, especialmente no fim da tarde e à noite, o Mato Grosso do Sul e São Paulo. Podem produzir tempestades, isoladamente severas, com vendavais e queda de granizo.
No sábado, com o ciclone já formado no oceano, a instabilidade se intensifica no Centro do Brasil com chuva localmente forte e tempestades afetando o Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A frente organizada pelo ciclone ainda leva chuva e temporais isolados no domingo para Goiás, Minas, Espírito Santo e até o Sul da Bahia.
