O Sul do Brasil terá um fim de semana com temperaturas que ainda não experimentou neste ano numa significativa onda de frio. Uma forte massa de ar frio de origem polar trará dias de temperatura muito abaixo da média com madrugadas gélidas em que as mínimas devem ficar 10ºC ou mais abaixo das médias mínimas históricas de junho e julho.
Embora não fuja ao que se está acostumado a ver nos episódios de frio mais fortes de inverno todos os anos, não é nenhum exagero dizer que este fim de semana será uma geladeira, considerando o que se espera de frio durante a noite e a manutenção da temperatura baixa mesmo à tarde e sob a presença do sol. Grande número de municípios gaúchos e catarinenses, e alguns do Paraná, deve ter temperatura abaixo de zero.
A previsão é de esfriar muito neste sábado, dia que terá temperatura baixa à tarde e muito baixa no início e, especialmente, no final do dia. Como será o dia do ingresso do ar polar, espera-se a ocorrência de vento neste sábado que aumentará ainda mais a percepção de frio com valores muito baixos de sensação térmica, até negativos nas áreas de relevo.
As madrugadas mais frias vão ocorrer no domingo e no começo da semana, quando são projetadas marcas ao redor de 0ºC e negativas em grande parte das cidades gaúchas e parte de Santa Catarina. O tempo estará aberto, o vento calmo e haverá subsidência (movimento descendente do ar) por uma alta pressão associada ao ar polar.
As menores mínimas vão ocorrer nas áreas de maior altitude. Nos Aparados da Serra, as mínimas devem ficar entre -2ºC e -5ºC, mas deve fazer até -6ºC e -7ºC nas baixadas, como na área de São José dos Ausentes. Mesmo valores menores não são descartados. Na Serra Gaúcha, mínimas entre -3ºC a 0ºC na maioria das localidades, mas com marcas até inferiores em baixadas. As mínimas cairão a valores tão baixos quanto -3ºC a -5ºC ainda em parte do Planalto Médio e da região de Soledade.
Na região mais densamente povoada do Rio Grande do Sul, Porto Alegre deve ter mínimas oficiais na estação do Jardim Botânico de 3ºC a 4ºC no domingo e a 2ºC a 3ºC na segunda, entretanto em bairros mais ao Sul e Leste da cidade de Porto Alegre a temperatura pode cair a 0ºC ou menos, o que se dará também em pontos da região metropolitana.
O frio intenso atinge quase todo o estado de Santa Catarina com marcas ao redor de 0ºC ou negativas em muitas cidades no começo do domingo e da segunda. Em baixadas do Planalto Sul, a temperatura pode despencar a valores de -5ºC a -7ºC na região de São Joaquim com chance até de registros menores. No Paraná, marcas abaixo de zero são esperadas no Planalto de Palmas.
O frio ainda se fará sentir com força na madrugada de terça, novamente com mínimas ao redor de 0ºC e negativas em muitas localidades, embora em menor número que no domingo e na segunda. Porto Alegre, por exemplo, pode ter 5ºC a 6ºC. Nos Aparados, marcas de até -3ºC.
Geada forte a severa pode trazer danos
A primeira significativa onda de frio do ano trará geada generalizada no Rio Grande do Sul, na maioria das cidades de Santa Catarina e em parte do Paraná. No sábado, a geada afeta mais áreas do Oeste, do Centro e do Sul gaúcho.
No domingo e na segunda-feira, a geada será ampla. Deve gear em quase toda a Grande Porto Alegre, em vários bairros da capital gaúcha e mesmo em algumas praias do Litoral Norte, onde gear é pouco frequente.
Muitas cidades devem ter geada forte com risco de perdas ou danos no setor hortifruti. Em áreas de relevo, a geada pode ser até localmente severa e com formação de “agulhas de gelo” (needle ice), filamentos de gelo sobre o solo em noites de temperatura excepcionalmente baixa.
Como o frio será muito intenso a extremo em localidades de maior altitude, com marcas tão baixas quanto -5ºC a -7ºC, alerta-se para o risco de congelamento. Pode se formar gelo em rodovias do Nordeste gaúcho e do Planalto Sul Catarinense e a água deverá congelar nos canos das residências nas cidades mais altas dos território catarinense e gaúcho.
Por que a onda de frio será tão forte?
O Sul do continente enfrenta um dos meses de junho mais gelados do último meio século com ar congelante vindo da Antártida. Hoje, sexta-feira, foi o 10º dia seguido que a Patagônia da Argentina enfrentou mínimas na casa entre -10ºC e -20ºC. A menor marca de hoje na Argentina foi de -11ºC em Calafate.
A mínima na cidade chilena de Punta Arenas no dia 21 chegou a -14,7ºC, a menor já anotada em junho e a segunda mais baixa da série histórica, só atrás dos -18,7ºC de 2/7/1992. Punta Arenas enfrenta o junho mais gelado desde o começo dos registros.
Agora, um ciclone extratropical a Leste e Nordeste das Malvinas impulsiona como um “motor” este ar gelado do Sul do continente para Norte e que vai alcançar o Sul do Brasil neste fim de semana, gelando o Cone Sul. A cidade de Buenos Aires pode passar o sábado todo abaixo de 10ºC mesmo com sol e Montevidéu não deve passar de 9ºC ou 10ºC com vento trazendo muito baixa sensação térmica.
Oscilação Antártica favorece a onda de frio
A chamada Oscilação Antártica despenca neste fim de junho e começo de julho com o vórtice polar perturbado e a corrente de jato polar mais ondulada, avançando sobre o Cone Sul da América do Sul com frio muito intenso a extremo.
A Oscilação Antártica tem duas fases. A positiva e a negativa. Na positiva, o cinturão de vento ao redor da Antártida se intensifica e se contrai em torno do Polo Sul. Já na fase negativa, o cinturão de vento enfraquece e se desloca para Norte, no sentido do Equador, obviamente sem atingir a faixa equatorial.
Com a maior ondulação da corrente de jato na fase negativa ocorrem eventos de frio mais intenso no Cone Sul da América com dias muito frio e até gelados no inverno no Centro da Argentina, Uruguai, Paraguai e o Centro-Sul do Brasil.
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