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A onda de calor que assola o Rio Grande do Sul chega já tem doze dias seguidos (12 a 23/1) em que as máximas superam os 40ºC e ficam até 10ºC acima da média histórica. Na Argentina, o calor segue extremo em províncias do Norte e do Nordeste do país, a onda de calor foi mais abrangente no seu começo com temperatura extremamente elevada da Patagônia ao Norte do seu território. A Argentina registra máximas acima de 40ºC todos os dias desde 9 de janeiro, ou seja, são 15 dias seguidos (9 a 24/1) com máxima nacional acima de 40ºC.

No Rio Grande do Sul, as estações do Instituto Nacional de Meteorologia registraram 41,5ºC em Quaraí no dia 12; 41,7ºC (recorde absoluto de 110 anos) em Bagé no dia 13; 40,8ºC em Bagé no dia 14; 40,6ºC em Uruguaiana no dia 15; 41,8ºC em Uruguaiana dia 16; 40,2ºC no dia 17 em Teutônia; 41,1ºC em Santa Rosa em 18 de janeiro; 41,5ºC em São Luiz Gonzaga no dia 19; 42,1ºC em Uruguaiana no dia 20; 41,8ºC dia 21 em Uruguaiana; 41,6ºC dia 22 em Uruguaiana; e 42,1ºC ontem em São Luiz Gonzaga.

A onde de calor que assola a América do Sul e castiga o Rio Grande do Sul, com isso, já é mais longa que a do ano passado no Pacífico Noroeste dos Estados Unidos e na província canadense de Colúmbia Britânica, considerada por muitos especialistas a mais intensa já registrada pela Meteorologia no planeta.


A onda de calor da América do Norte teve início em 25 de junho e perdurou até 7 de julho de 2021, mas, diferentemente do Rio Grande do Sul que suporta quase duas semanas de calor extremo, no Pacífico Noroeste o evento foi mais curto à medida que a bolha de ar quente se deslocou para Leste na fase final da onda de calor.

NOAA

Se mais longa a onda de calor atual da América do Sul, a da América do Norte do ano passado foi mais intensa. Uma análise de atribuição rápida descobriu que este foi um evento climático de 1.000 anos, tornado 150 vezes mais provável pelas mudanças climáticas. O episódio afetou o Norte da Califórnia, Idaho, o Oeste de Nevada, Oregon e Washington, nos Estados Unidos, assim como a Colúmbia Britânica e, em sua última fase, Alberta, Manitoba, Territórios do Noroeste, Saskatchewan e Yukon, no Canadá.

A onda do Pacífico Noroeste foi consequência de um domo de calor excepcional que se estabeleceu na região com marcas de temperatura sem precedentes na Colúmbia Britânica, nos Territórios do Noroeste, e no Noroeste dos Estados Unidos. O episódio desencadeou incêndios florestais enormes, alguns atingindo centenas de quilômetros quadrados de área. Um dos incêndios destruiu Centro da cidade de Lytton, na Colúmbia Britânica, um dia depois de a localidade ter estabelecido um novo recorde de temperatura máxima para o Canadá.

O calor na região também danificou a infraestrutura rodoviária e ferroviária, forçou o fechamento de empresas, interrompeu eventos culturais e derreteu as calotas de neve, em alguns casos resultando em inundações. O número de mortos é controverso, mas estimativas variam de centenas a 1.400 pessoas. Uma análise do The New York Times encontrou cerca de 600 mortes em excesso na semana em que a onda de calor atuou nos estados norte-americanos de Washington e Oregon.

Diferentemente da cúpula de calor que há duas semanas está sobre o Centro da América do Sul, o domo de calor que estacionou sobre a Colúmbia Britânica e o Noroeste dos Estados Unidos durou apenas alguns dias e começou a se mover para o Leste depois de pouco mais de uma semana. Com a bolha de ar extremamente quente rumando para Leste pelo interior da América do Norte, vários recordes de calor foram quebrados a Leste das Montanhas Rochosas. Nos dias 4 e 5 de julho, o que restava da cúpula de calor cruzou a Baía de Hudson e, enfraquecida pelas águas frias, entrou em Quebec e depois em Labrador. A área de alta pressão, então, entrou no Oceano Atlântico em 7 de julho, quando a bolha de calor finalmente se dissipou.

Onda de calor castigou o Oeste dos Estados Unidos e o Sudoeste do Canadá com marcas recordes em muitos estados e províncias no que especialistas dizem ter sido um evento extremo com período normal de recorrência de mil anos | PATRICK FALLON/AFP/METSUL METEROLOGIA

Enormes incêndios florestais atingiram o estado norte-americano do Oregon em meio à onda de calor impensável pela intensidade atingida no Noroeste dos Estados Unidos entre o fim de junho e o começo de julho de 2021 | CENTRAL OREGON FIRE/DIVULGAÇÃO

Nunca na história de mais de um século da observação do clima mundial tantos recordes de calor de todos os tempos caíram por uma margem tão grande quanto na histórica onda de calor do final de junho de 2021 no Oeste da América do Norte, efeito da maciça cúpula de calor. O Canadá quebrou seu recorde nacional de temperatura de todos os tempos em três dias consecutivos em Lytton, British Columbia, que atingiu impressionantes 49,6°Cem 29 de junho, um dia antes da cidade ser incendiada em um feroz incêndio florestal alimentado pelo calor extremo. O antigo recorde de calor canadense era 45,0°C em 5 de julho de 1937.

“Este foi o evento regional de calor extremo mais anômalo a ocorrer em qualquer lugar da Terra desde o início dos registros de temperatura. Nada se compara”, disse o historiador do clima Christopher Burt, autor do livro Extreme Weather. Apontando para Lytton, Canadá, ele acrescentou: “Nunca houve um recorde nacional de calor em um país com um extenso período de registro e uma infinidade de locais de observação que foi superado por 4ºC”, afirmou. O pesquisador internacional de registros meteorológicos Maximiliano Herrera concordou. “O que vimos é totalmente sem precedentes em todo o mundo”, disse. “É uma cascata interminável de recordes sendo quebrados”, resumiu.

Um estudo de resposta rápida do programa World Weather Attribution descobriu que as altas temperaturas diárias observadas em uma área de estudo que abrange grande parte do Oeste de Oregon, Washington e Colúmbia Britânica em junho de 2021 teriam sido “praticamente impossíveis sem as mudanças climáticas causadas pelo homem”. O estudo estimou que foi aproximadamente um evento de 1 em 1000 anos no clima de hoje, mas em um mundo com 2ºC de aquecimento global, que se projeta para daqui a duas décadas, evento semelhante poderia ocorrer aproximadamente a cada cinco a dez anos.

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