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Que o Rio Grande do Sul já está sob uma nova de calor, todos sabem. O que muita gente ainda não sabe é que este período quente não será de alguns dias. Ao contrário, será de muitos dias. Os alertas emitidos por órgãos governamentais por onda de calor no estado gaúcho são válidos até o começo da semana agora, entretanto a MetSul Meteorologia adverte que o calor vai durar muito mais.

O Oeste gaúcho desde o começo do mês é a região que mais sofrendo com o calor e que vai seguir com as máximas mais extremas. Quaraí teve neste mês até agora 37,4ºC no dia 1º; 30,0ºC no dia 2; 28,4ºC no dia 3; 33,9ºC no dia 4; 34,7ºC no dia 5; 33,4ºC no dia 6; 34,7ºC no dia 7; 37,0ºC no dia 8, 39,5ºC no dia 9; e 38,1ºC ontem.

Calor em março é absolutamente normal e ocorre todos os anos sem exceção. Não raro alguns dias nesta época do ano são de marcas até extremas. Mas desta vez é diferente. O que foge e muito ao normal é a duração deste evento além de sua intensidade em parte do Cone Sul da América. Trata-se, desta forma, de uma situação excepcional e atípica.

Estamos falando, assim, de um episódio de calor com potencial para durar até mais dez a quinze dias no Rio Grande do Sul, considerando que modelos determinísticos de previsão do tempo usados na Meteorologia possuem projeções para 10 ou 15 dias.

E estes dados indicam incrivelmente a manutenção da massa de ar quente sobre o território gaúcho ao menos até os primeiros dias do outono, que começa dia 20, mas existe a possibilidade de o calor se prolongar ainda mais sem nenhuma frente fria que rompa o ciclo de calor fora do normal.

Mapas de anomalia de temperatura diários às 21h pelo modelo meteorológico europeu para os próximos dez dias no Sul do Brasil que mostram a persistência do ar quente no Rio Grande do Sul | ECMWF/METSUL

O modelo de previsão europeu, por exemplo, indica máximas acima de 30ºC em Porto Alegre diariamente até 21 de março, o último da projeção de dez dias. Assim, estamos diante de um cenário de calor diário, em alguns momentos intenso, por no mínimo mais dez dias e que pode até se estender por mais tempo.

Na estação de Campo Bom, com dados desde 1984, até ontem eram quatro dias seguidos com mais de 30ºC e há chance deste número ser acrescido de dez ou mais. O recorde de número de dias seguidos com mais de 30ºC em março na cidade é de 14 dias, entre 12 e 25 de março de 1991.

Bolha de calor na Argentina traz calor prolongado

A causa do calor intenso e anormalmente prolongado é o que se denomina de domo ou cúpula de calor. O centro desta bolha de calor está instalado na região central da Argentina e os seus efeitos se fazem sentir também no Uruguai e no Rio Grande do Sul. O calor na Argentina atinge níveis absurdamente fora do normal para março com desvios de temperatura média para março quase inconcebíveis.

O que é a tal de bolha de calor? O verão significa clima quente – às vezes perigosamente quente – e ondas de calor extremas se tornaram mais frequentes nas últimas décadas por conta das mudanças climáticas. Às vezes, o calor escaldante fica aprisionado no que é chamado de cúpula de calor.

Áreas de alta pressão, como cúpulas de calor, têm ar descendente (subsidência). Isso comprime o ar no solo e através da compressão aquece a coluna de ar. Em suma, uma cúpula de calor é criada quando uma área de alta pressão permanece sobre a mesma área por dias ou até semanas, prendendo ar muito quente por baixo assim como uma tampa em uma panela. É, assim, um processo físico na atmosfera.

As massas de ar quente se expandem verticalmente na atmosfera, criando uma cúpula de alta pressão que desvia os sistemas meteorológicos – como frentes frias – ao seu redor. À medida que o sistema de alta pressão se instala em determinada região, o ar abaixo aquece a atmosfera e dissipa a cobertura de nuvens. O alto ângulo do sol de verão combinado com o céu claro ou de poucas nuvens aquece ainda mais o solo.

Em meio a condições de seca, como o Rio Grande do Sul e países vizinhos hoje enfrentam, o ciclo vicioso não termina aí. A combinação de calor excessivo e superfície terrestre ressecada funciona para tornar a onda de calor ainda mais extrema. É o que os cientistas denominam de mecanismo de feedback.

O que vem ainda de calor pela frente

O calor vai aumentar neste fim de semana no Oeste do Rio Grande do Sul com máximas de 38ºC a 40ºC, ocasionalmente superiores. Este sábado e o domingo serão por demais quentes na região com potencial para marcas de 40ºC ou mais em alguns pontos da região de Quaraí e da Fronteira Oeste.

A massa de ar quente não enfraquece na próxima semana no Oeste gaúcho e vai se manter intensa, entretanto as máximas em alguns dias não devem subir tanto quanto vem se anotando em alguns municípios pela ocorrência de pancadas de chuva e temporais típicos de verão. Com a atmosfera superaquecida, o risco de temporais isolados fortes será alto.

Na Grande Porto Alegre e na região dos vales, a grande maioria dos dias, ou quiçá todos, até o dia 20 deve ter marcas à tarde acima de 30ºC. As máximas, em geral, devem se situar entre 31ºC e 34ºC até o dia 15, mas entre os dias 15 e 20 a tendência é de o calor aumentar com marcas em alguns dias acima de 35ºC e que podem atingir até 37ºC a 38ºC em algumas cidades.

Nem a Serra Gaúcha, a região mais fria do estado, pela altitude, vai escapar do calor. A grande maioria das tardes ou quase todas até o final da semana que vem deve ter máximas perto ou de até 30ºC ou mais em algumas cidades da região. Somente pontos da costa e dos Aparados, acima de mil metros de altitude, devem escapar de calor mais intenso nos próximos dez dias.