Temperatura altíssima é prognosticada para Porto Alegre (foto), a região metropolitana e o interior do Rio Grande do Sul no final desta semana com marcas ao redor ou acima dos 40ºC em alguns municípios | FERNANDO OLIVEIRA

Uma grande onda de calor atinge nesta semana o Cone Sul da América do Sul. Temperatura muito alta é registrada entre a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e o Sul do Brasil. As máximas em algumas áreas destes países superam os 40ºC. Veja em perguntas e respostas o que você precisa saber sobre esta onda de calor.

A onda de calor é pior que a do último mês de janeiro?

Não, de jeito nenhum. Rio Grande do Sul, parte da Argentina e o Uruguai experimentaram uma onda de calor de proporções históricas no último verão. Janeiro foi marcado por um episódio de calor extremo que trouxe vários recordes e máximas jamais vistas em algumas cidades gaúchas, uruguaias e argentinas. O recorde oficial de calor do Rio Grande do Sul que resistiu por quase 80 anos acabou caindo.

Na rede do Instituto Nacional de Meteorologia foram 13 dias consecutivos em que as máximas bateram em 40ºC no Rio Grande do Sul em janeiro de 2022. Fez 41,5ºC em Quaraí no dia 12; 41,7ºC (recorde absoluto de 110 anos) em Bagé no dia 13; 40,8ºC em Bagé no dia 14; 40,6ºC em Uruguaiana no dia 15; 41,8ºC em Uruguaiana dia 16; 40,2ºC no dia 17 em Teutônia; 41,1ºC em Santa Rosa em 18 de janeiro; 41,5ºC em São Luiz Gonzaga no dia 19; 42,1ºC em Uruguaiana no dia 20; 41,8ºC dia 21 em Uruguaiana; 41,6ºC dia 22 em Uruguaiana; 42,1ºC dia 23 em São Luiz Gonzaga; 41,2ºC dia 24 em São Luiz Gonzaga; 39,6ºC dia 25 em São Luiz Gonzaga; e 39,5ºC dia 26 em Campo Bom.

Já estações automáticas particulares e de outros órgãos apontara marcas de 42,3ºC em Santa Rosa no dia 25 de janeiro e de 40,7ºC em Parobé no dia 26 de janeiro, quando a rede oficial não apontou máximas superiores a 40ºC. Com isso, o Rio Grande do Sul completou 15 dias seguidos em que as temperaturas máximas no território gaúcho ultrapassaram a marca dos 40ºC, o que muito provavelmente não tenha precedentes desde o começo das medições meteorológicas regulares no Estado em 1909.

No dia 27 de fevereiro, o Rio Grande do Sul registrou a maior máxima de sua história com 42,9ºC na estação do Instituto Nacional de Meteorologia em Uruguaiana. A marca passou a ser o novo recorde oficial absoluto de temperatura máxima no Rio Grande do Sul, superando os recordes anteriores de 42,6ºC em Alegrete em 19/1/1917 e em Jaguarão em 1º de janeiro de 1943. Trata-se também do novo recorde oficial de calor para fevereiro no Rio Grande do Sul. E, ainda, recorde absoluto de máxima para fevereiro e qualquer mês do ano em Uruguaiana, batendo as marcas de 42,2ºC de1986 e 42,0ºC de 1943.

Nesta onda de calor, embora se preveja temperatura muito alta e que pode atingir a marca dos 40ºC em algumas cidades, não se antecipa nem calor tão excepcional como o registrado em janeiro e tampouco um episódio de calor tão prolongado.

Qual será a área mais atingida pela onda de calor?

A resposta é Argentina. O país vizinho terá nesta quarta-feira o seu quarto dia seguido com temperatura acima de 40ºC. No domingo, os termômetros indicaram 42,5ºC em Rivadavia. Na segunda, os termômetros indicaram 43,0ºC em Rivadávia, 41,0ºC em Orán e La Rioja, 40,7ºC em Santiago del Estero, 40,5ºC em San Juan, e 40,0ºC em Tartagal, Santa Rosa e Las Lomitas.

Ontem, terça, as máximas na Argentina bateram em 43,5ºC em Rivadavia, 42,5ºC em Orán, 42,4ºC em Santiago del Estero, 42,3ºC em La Rioja, 42,2ºC em Tartagal, 42,0ºC em Las Lomitas, 41,3ºC em Villa Maria del Rio Seco, 41,0ºC em Catamarca e Córdoba, 40,6ºC em Laboulaye e 40,5ºC em Chamical.

Há possibilidade de quebra de recordes no Rio Grande do Sul?

Improvável. A maior temperatura máxima já registrada no Rio Grande do Sul em dezembro foi de 41,6°C, no município de Uruguaiana, em 31 de dezembro de 1942. O Oeste gaúcho deve ter máximas na casa dos 40ºC em alguns pontos, mas muito dificilmente estacoes oficiais que são mantidas pelo Instituto Nacional de Meteorologia registrem marca tão extrema.

Não se espera, salvo uma surpresa por condição pré-frontal, que recordes caiam de dezembro caiam na Grande Porto Alegre. A maior máxima já registrada no mês em Campo Bom desde o início dos registros em 1984 foi de 41,0ºC em 31 de dezembro de 2019. Já a maior máxima na primeira quinzena de dezembro na cidade foi de 40,0ºC, em 2 de dezembro de 1994 e 12 de dezembro de 1994.

Quais serão os piores dias de calor?

Depende da região. No caso da Metade Oeste, onde o calor é intenso desde o começo desta semana, os dias mais quentes devem ser esta quinta e a sexta-feira com máximas próximas ou acima de 40ºC no Oeste e no Noroeste gaúcho. No fim de semana, com nuvens e instabilidade, a temperatura não deve se elevar tanto na região, embora siga muito quente.

Já nos vales e na Grande Porto Alegre, onde os efeitos da onda de calor chegam tardiamente, os dias mais quentes devem ser a sexta-feira e do fim de semana com máximas de 37ºC a 39ºC na maioria dos municípios, mas que, ocasionalmente, pode tocar na casa dos 40ºC em alguma cidade ou outra.

Todas as regiões do Rio Grande do Sul terão forte a intenso calor no final da semana com marcas acima de 35ºC na esmagadora maioria dos municípios gaúchos. Mesmo algumas cidades da Serra devem ter máximas de 33ºC a 35ºC.

Como a onda de calor afetará Santa Catarina e o Paraná?

O Oeste de Santa Catarina e do Paraná serão as áreas mais atingidas pelo calor intenso nos dois estados. A elevação maior da temperatura é esperada desta quinta-feira em diante, quando as máximas passam de 35ºC em diversos municípios à medida que o ar mais quente avançará da Argentina e do Paraguai.

São esperadas máximas de 35ºC a 37ºC no Oeste catarinense e Sudoeste paranaense, mas pontos isolados podem ter até marcas superiores. Esquenta muito no final da semana também em outras cidades dos dois estados e se espera muito calor, por exemplo, no Sul catarinense no fim de semana com marcas acima de 35ºC em diversas cidades.

Calor muito intenso trará temporais?

Esta é a previsão da MetSul. Devem ser esperados temporais por conta da alta temperatura nos próximos dias. Como quanto mais quente maior é o potencial de tempo severo, há risco de que alguns temporais isolados possam ser muito fortes a severos por vento e granizo, até com possibilidade de estragos em algumas localidades. Uma vez que são ocorrências isoladas, não é possível predizer dias antes quais pontos exatos devem ter temporais severos.

Temporais isolados e pancadas de chuva já podem ocorrer no Oeste e no Sul gaúcho a partir desta quinta e mais na sexta, entretanto a possibilidade de instabilidade em maior número de pontos do território gaúcho cresce no fim de semana, sobretudo no domingo, com pancadas de chuva localmente fortes a torrenciais e temporais isolados da tarde para a noite.

Quando acaba a onda de calor?

O domingo deve ser o último dia deste episódio de calor. Na segunda-feira, uma frente fria vai avançar pelo Rio Grande do Sul com aumento de nebulosidade e chuva generalizada. Deve se esperar chuva moderada a forte ao menos em parte do dia em grande número de cidades com probabilidade alta de volumes elevados em alguns pontos. Uma vez que a frente vai avançar numa atmosfera aquecida e com muito baixa pressão atmosférica deve se esperar o registro de temporais.

A La Niña tem influência nesta onda de calor?

Certamente, a mesma La Niña que favoreceu o frio tardio na primavera no Sul do Brasil com geada e até neve criou as condições para este evento de calor. A bolha de calor está centrada na Argentina em áreas sob forte seca pela escassez de chuva dos últimos meses resultante do fenômeno de resfriamento das águas do Pacífico Equatorial.

Ondas de calor intensas ocorrem nos meses quentes do ano com ou sem estiagem, em verões secos ou chuvosos, mas, historicamente, se observa que os episódios de calor mais extremo se dão durante estiagens ou secas.

Hoje, na Argentina, são 163 milhões de hectares afetados pela seca, nas diferentes regiões do país. Do total, são 22 milhões de hectares que sofrem com uma acentuada falta de umidade para o desenvolvimento dos cultivos, segundo o último relatório de Monitoramento de Secas.

Segundo a série histórica de dados da Meteorologia argentina, a disponibilidade hídrica é a menor nos registros das estações meteorológicas da zona núcleo de produção agrícola e a segunda menor da zona central do país nos últimos 60 anos.