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O inverno que começa neste sábado, 20 de junho, às 18h44 não será rigoroso e deve apresentar muitos dias amenos ou quentes intercalados com episódios pontuais de frio mais intenso neste ano, antecipa a MetSul Meteorologia. E, repetindo o que se observou no último mês do outono, terá chuva mais regular com alívio da estiagem.

O inverno tem início ainda oficialmente em estado de neutralidade no Oceano Pacífico Equatorial, mas com as condições ingressando gradualmente em La Niña. As anomalias de temperatura da superfície do mar no começo da nova estação já serão de La Niña, mas os indicadores na atmosfera ainda se comportam como em neutralidade.

Como para que se declare um evento de La Niña são necessárias semanas seguidas de condições mais frias das águas equatoriais com anomalias de -0,5ºC ou menos e ainda alterações no perfil da atmosfera, um episódio do fenômeno, se declarado, somente pode vir a se caracterizar mais tarde no inverno.

O resfriamento em curso do Pacífico, contudo, já impacta o clima do inverno deste ano. As águas mais frias, sobretudo no Leste do Pacífico, podem levar a episódios pontuais de frio mais intenso, especialmente na segunda metade da estação, mas por outro lado impede que seja um inverno excessivamente chuvoso, o que ocorreria normalmente com um El Niño moderado a forte.

O inverno marca o período mais frio do ano no Rio Grande do Sul. As jornadas mais frias costumam ocorrer sob influência de ciclones extratropicais intensos no Atlântico Sul e que são responsáveis por impulsionar massas de ar muito gelado para o Estado. Quando o frio está acompanhado de um ciclone potente, é comum os gaúchos terem o vento Minuano, sensação térmica negativa, minimas muito baixas, geada ampla e em alguns casos neve.

Ocorre que mesmo durante o inverno são normais dias com calor em qualquer mês da estação, especialmente durante agosto e setembro, e 2019 não fugirá à regra. Já no seu começo, o inverno terá dias de temperatura acima da média para o fim de junho.

A transição de períodos amenos ou quentes para frios pode se dar bruscamente com alto risco de tempo severo na forma de temporais com vento forte e granizo, especialmente se estiver presente um fenômeno conhecido como corrente de jato de baixos níveis, que traz ar quente e vento Norte com forte intensidade antecedendo a chuva e os temporais. Essas correntes de vento quente a cerca de 1500 metros de altitude são comuns horas antes da chegada de frente fria intensa associada a um grande ciclone e podem trazer temperatura muito alta mesmo à noite.

Em todos os anos se verifica este tipo de cenário em nos casos mais extremos há formação de tornados, como se viu em diversos invernos do passado. Agosto e setembro, quando se espera maior incidência de ar quente, tendem a ser os meses de maior risco de temporais. São meses, historicamente, que marcam um aumento na frequência de tempestades tanto de granizo como de vendavais.

Em anos de Pacífico mais frio do que a média, como se espera nos próximos meses, há um aumento da probabilidade de granizo em agosto, setembro e durante a primavera. Há ainda uma maior propensão para episódios de vento muito intenso e destrutivos, seja por tornados ou vendavais.

Não significa que temporais fiquem mais freqüentes, como se dá em El Niño, mas que quando ocorrem pode ser mais fortes ou severos devido ao ingresso de massas de ar frio mais fortes tardiamente, quando ar mais quente já é mais comum, o que gera maiores gradientes térmicos e de pressão com agravamento do risco de tempo severo.

A chuva no inverno de 2020 deve variar muito no território gaúcho, mas será mais regular, acompanhando frentes frias, frentes quentes e sistemas de baixa pressão atmosférica. É altamente provável que o trimestre de inverno, junho a agosto, termine com chuva abaixo de média em alguns pontos e acima da média em algumas regiões.

Projeção de anomalia de chuva para o trimestre junho a agosto do modelo do Centro Meteorológico Canadense

Projeção de anomalia de temperatura para o trimestre junho a agosto do modelo principal do Centro Meteorológico Americano

Projeção de anomalia de chuva para o trimestre junho a agosto do modelo NEMO do Centro Meteorológico Europeu

Projeção de anomalia de chuva para o trimestre junho a agosto do modelo do Centro Meteorológico da Universidade da Flórida

Projeção de anomalia de chuva para o trimestre junho a agosto do modelo do Centro Meteorológico da Universidade da Flórida

Projeção de anomalia de chuva para o trimestre junho a agosto do modelo principal da NASA

Projeção de anomalia de chuva para o trimestre junho a agosto do modelo principal do Centro Meteorológico NCAR (EUA)

Projeção de anomalia de chuva para o trimestre junho a agosto do modelo ensemble do Centro Meteorológico Americano

Projeção de anomalia de chuva para o trimestre junho a agosto do modelo principal do Centro Meteorológico Mediterrâneo

Projeção de anomalia de chuva para o trimestre junho a agosto do modelo principal do Centro Meteorológico Alemão

Projeção de anomalia de chuva para o trimestre junho a agosto do modelo principal do Centro Meteorológico Francês

Conforme a análise da MetSul, a Metade Sul gaúcha é a região com maior propensão para ter chuva acima dos valores médios históricos conta de prováveis episódios de bloqueio atmosférico que podem deixar a Metade Norte com alguns períodos de tempo mais seco e quente. Apesar disso, mesmo a Metade Norte tende a registrar alguns eventos com chuva volumosa no decorrer da estação.

A maior regularidade da chuva e volumes mais altos que a média devem trazer um alívio adicional no quadro de estiagem. O inverno é a estação com chuva mais regular e com melhor distribuição geográfica no ano. No caso deste ano, espera-se que o Sul gaúcho seja a região que tenha o maior alívio do déficit hídrico acumulado nos últimos meses.

É importante enfatizar que a, despeito de ser verdade que El Niño é o fenômeno que traz mais risco de enchentes no Estado no inverno, estas podem ocorrer mesmo com Pacífico frio ou em La Niña porque episódios pontuais de chuva excessiva no inverno do Rio Grande do Sul pode ocorrer independente das condições oceânico-atmosféricas do Pacífico Equatorial. Há diversos precedentes históricos aqui no Estado de cheias de rios no inverno, especialmente em setembro, sob condições de La Niña.

Quanto à temperatura, a MetSul projeta um inverno de temperatura acima da média e com grande variabilidade térmica. Isso, atenção, não significa a ausência de frio no Rio Grande do Sul e no Sul do Brasil. Os episódios de frio mais intensos é que tendem a ser pontuais.

Há um relativo consenso dos modelos de clima quanto à tendência do inverno ser mais quente que o normal.

Projeção de anomalia de temperatura para o trimestre junho a agosto do modelo principal do Centro Meteorológico Europeu

Projeção de anomalia de temperatura para o trimestre junho a agosto do modelo principal do Centro Meteorológico Francês

Projeção de anomalia de temperatura para o trimestre junho a agosto do modelo principal do Centro Meteorológico Americano

Projeção de anomalia de temperatura para o trimestre junho a agosto do modelo principal do Centro Meteorológico Alemão

Projeção de anomalia de temperatura para o trimestre junho a agosto do modelo principal do Centro Meteorológico do Mediterrâneo

Junho e julho, historicamente, são os meses de temperatura mais baixa enquanto agosto e setembro devem ter dias frios, com períodos até gelados, mas o número de jornadas de temperatura amena ou de calor aumenta.
Tradicionalmente estes dois meses, agosto e setembro, registram dias de forte a intenso calor que lembram jornadas de verão com marcas perto ou acima de 35ºC e em 2020 não deve ser diferente.

E esses episódios com alta temperatura costumam preceder eventos de tempo severo no Sul do Brasil, atestando a percepção popular que calor no inverno costuma preceder tempestades e às vezes de grande intensidade.

A alternância de calor e frio é maior nos meses de agosto e setembro, o que tende a levar a bruscas mudanças de temperatura com vento e não raro com tempestades severas. Em anos de Pacífico mais frio e de possível transição para La Niña, como será 2020, essas mudanças radicais podem ser ainda mais comuns com aumento da probabilidade de incursões mais fortes de ar polar na segunda metade da estação e no ínício da primavera.

E a neve e geada? A história do clima gaúcho mostra muitos invernos que não chegaram a ser rigorosos, mas tiveram uma ou duas ondas de frio poderosas, até com grandes nevadas, caso de agosto de 1965. A neve é fenômeno que somente pode ser previsto em curto prazo, dias ou horas antes, mas em anos passados que tiveram características similares às que se prevê houve maior propensão para eventos de neve no Sul do Brasil principalmente em agosto (maior número de casos na segunda metade do mês) e em setembro, sendo alguns significativos.

Já a geada ocorrerá mesmo com incursões de ar frio mais fracas, mas será mais ampla na presença de massas de ar polar de maior intensidade. Julho, pela maior frequência de dias frios esperada, deve ter um maior número de dias com geada que agosto e setembro. Por outro lado, como alertado, com o Pacífico frio há um risco agravado de episódios de frio mais intenso tardios e, conseqüentemente, de geada tardia que pode impactar tanto o fim da safra de inverno como o começo da safra de verão.