Especialistas debatem a situação que levou um Airbus da empresa Latam a pousar com muitas avarias no Aeroporto Internacional de Assunção depois de enfrentar uma forte tempestade de chuva, raios e granizo por uma frente fria no final da quarta-feira sobre o Paraguai, o que a imprensa de Assunção descreveu como um “voo de terror”. Passageiros reclamaram do comandante e um chegou a descrevê-lo como louco por ter voado dentro da nuvem de tempestade.

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“Estou tremendo. Já quando estávamos perto de Assunção começou a terrível turbulência, as pessoas começaram a entrar em pânico e o piloto disse para nos prepararmos para um pouso forçado e adotarmos a posição de impacto”, disse a passageira Paola Thomen em entrevista à emissora de rádio 1080 AM, do Paraguai.

O avião da empresa aérea Latam partiu de Santiago do Chile e deveria pousar durante a tarde da quarta-feira no Aeroporto Silvio Pettirossi, de Assunção. Ao tentar pousar encontrou mau tempo e alternou pela tempestade para Foz de Iguaçu, no Paraná. Ao retornar do Brasil três horas depois para Luque, na Grande Assunção, onde está o aeroporto da capital paraguaia, voltou a enfrentar mau tempo e sofreu danos com a tempestade.

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O comandante da aeronave chegou a declarar emergência, mas o aparelho com 48 passageiros pousou em segurança. Conforme a imprensa de Assunção, o avião pousou na capital paraguaia sem um motor funcionado, com para-brisas comprometido pelo granizo e ainda com o radome (“nariz”) destruído.

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Vídeo gravado por um passageiro registrou a turbulência severa durante o voo da empresa Latam sobre o Paraguai. A aeronave ingressou no sistema de intensa instabilidade que estava sobre o país por conta de uma frente fria que avançava pela região. No vídeo, passageiros gritam com a violenta turbulência. “Por favor, santo Deus, que bárbaro”, um dos passageiros do avião é ouvido.

A aeronave deveria ter pousado em Luque às 17h25 de quarta-feira, porém, devido à situação meteorológica, o voo desviou para o Leste do país e pousou em Foz de Iguaçu, onde permaneceu por algumas horas. O voo, então, seguiu de volta para o seu destino final programado e sob condições ainda piores que horas antes tinham impedido o pouso em Assunção.

Marcial Guillermo Gómez, um dos passageiros que estava dentro do avião, conversou com o jornal ABC Color de Assunção e relatou que embarcou por volta das 15h da quarta-feira. De acordo com ele, foram momentos de tensão já na primeira tentativa de pousar na capital paraguaia.

“Quando saímos de Santiago sabia que íamos chegar com uma tempestade. Ainda assim, o comandante disse que teríamos tempo bom em rota. Estivemos em Foz três horas e meia ou quatro. Alguns que estavam indo para São Paulo desceram”, disse Gómez. Por fim, o passageiro conta que saiu de Foz do Iguaçu por volta das 21h45 e pousou às 23h”.

Em suas redes sociais, ele protestou contra o piloto e atacou duramente a empresa aérea: “Esses da Latam são assassinos. Quase caímos tentando pousar no meio de uma tempestade brutal, desviaram o vôo para Foz, e depois nos colocaram de volta na mesma p… de tempestade para chegar a qualquer custo. É criminoso como eles brincam com a vida das pessoas”, escreveu em tweet acompanhado de vídeo gravado durante o voo com intensa atividade de raios.

O que dizem os especialistas

De acordo com o expert em aviação Lito Sousa, do canal Aviões e Músicas, que afirmou em live que a tempestade “destruiu” a aeronave da Latam, o piloto corretamente declarou emergência pelas avarias na aeronave e conseguiu chegar em segurança ao seu destino graças ao pouso por meio de instrumentos.

Lito explica o motivo para o radome (nariz da aeronave) não ter resistido à força do granizo. “Ele não é feito de material metálico como o resto da fuselagem e sim de fibra de vidro porque no seu interior está o radar. “A antena do radar emite uma onda de rádio que vai refletir nas gotículas de água que vai retornar e aí mostrar em diversas cores ao piloto se ele pode passar por ali por onde está passando. Se o radome fosse de metal, não funcionaria”.

Citando uma avaliação da empresa Airbus, Lito destaca que o radar é de grande ajuda para os pilotos, mas que a decisão de voar em condições adversas se baseia na avaliação geral da tripulação. O comentarista de aviação observa que os radares meteorológicos onboard de aviões possuem suas limitações e que o granizo se desacompanhado de chuva pode parecer menos ameaçador para o piloto.

AIRBUS/REPRODUÇÃO

O meteorologista da MetSul Meteorologia Luiz Fernando Nachtigall, especialista em Meteorologia Aeronáutica e que foi chefe de prognósticos dos aeroportos Salgado Filho e Galeão, observa que as tempestades que atingiam o Paraguai não eram de granizo seco e estavam acompanhadas de chuva pesada em muitos pontos ao longo de toda a extensão da frente fria, de forma que inevitavelmente formações pesadas apareceram no radar.

NASA/NOAA

“O piloto fez um grande desvio ao sair de Foz do Iguaçu, rumando para o Norte do Paraguai antes de descer para o Sul rumo à cidade de Assunção. É possível que tenha recebido alguma informação por rádio sobre diminuição da instabilidade em Luque depois do temporal do fim da tarde, mas no caminho e ao se aproximar encontrou as tempestades que já tinham passado pelo aeroporto e que avançavam para Norte acompanhando a frente fria”, destaca Nachtigall.

“O que víamos sobre o Paraguai nos radares de superfície e satélites mostrava uma situação extremamente perigosa para voar”, diz. “Havia um alinhamento de células de tempestade de muito difícil desvio porque formavam uma verdadeira linha contínua de tempestade em rota, condição que será objeto da investigação aeronáutica”, observa Nachtigall.

A palavra da empresa

A empresa Latam enviou uma nota para a MetSul com a posição da companhia aérea. A nota diz: “A LATAM Airlines Paraguai informa que o voo LA1325, que operava a rota Santiago-Assunção em 26/10, precisou alternar pouso para o aeroporto de Foz do Iguaçu às 18h43 (hora local) devido às más condições meteorológicas em Assunção. Com a melhora das condições em Assunção, a aeronave retomou a sua rota para a capital paraguaia, mas enfrentou condições climáticas severas durante o voo, o que exigiu um pouso de emergência em Assunção às 23h09 (hora local)”

Segue a nota da Latam: “Não houve feridos entre os passageiros e a tripulação, que foram imediatamente atendidos pelas equipes de solo quando chegaram ao Paraguai. As condições climáticas do voo causaram danos na fuselagem da aeronave e impactaram as operações”.

Segundo o comunicado, “para a linha aérea, qualquer evento relacionado à segurança de voo é considerado grave. Seguindo os regulamentos aeronáuticos, a LATAM Airlines Paraguai está colaborando com a investigação das autoridades competentes sobre o incidente. Lamentamos a situação vivida por nossos passageiros. A LATAM Airlines Paraguai está em contato com todos os clientes deste voo para prestar o apoio necessário”.