
Número de queimadas disparou no bioma Amazônia neste fim de agosto com até mais de 3 mil focos de calor em único dia, conforme as medições feitas por satélites | CARL DE SOUZA/AFP/ARQUIVO/METSUL METEOROLOGIA
O número de queimadas aumentou de forma dramática nos últimos dias na Amazônia. É o que mostram os dados de monitoramento por satélite realizados há mais de duas décadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O principal bioma do país chegou a ter mais de 3 mil focos de calor identificados por satélite em um único dia.
Os focos de calor entre os dias 1º e 23 de agosto registrados pelo Inpe chegaram a 21.649. O número está abaixo da média mensal de 26.299 (média 1998-2021), o que poderia sugerir tendência de agosto terminar com menos fogo que os padrões históricos.
Ocorre que nos últimos dias os números de queimadas deram um salto na região. Somente nos últimos sete dias com dados, entre os dias 17 e 23, os satélites registraram 13.217 focos de calor. Os dados do Inpe apontaram 2.233 focos nos dias 17, 914 no dia 18, 1.554 no dia 19, 1.609 em 20 de agosto, 1.665 no dia 21, 3.358 no dia 22 e 1.884 focos de calor no dia 23. Para se ter ideia, os 3.358 focos do dia 22 superam as médias históricas de cinco meses do ano.
O estado do Amazonas, entre os dias 1º e 23, somou 5.901 focos de calor. O número está muito acima da média histórica mensal de agosto de 3.341. Somente no dia 22 foram 1.171 focos de calor observados por satélites. Já o Pará registra uma sequência de dias com altíssimo número de focos de calor. Foram 1.332 no dia 17, 1.124 no dia 19, 1.112 no dia 21, e 1.126 no dia 22.

Elevada concentração de monóxido de carbono resultante de queimadas cobre neste momento a região amazônica e principalmente o estado do Amazonas | SISTEMA COPERNICUS
De acordo com o Instituro de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o número de focos de calor no dia 22 superou o chamado “Dia do Fogo”, o que investigações da Polícia Federal mostrou ter sido uma ação coordenada para começar vários incêndios ao mesmo tempo no estado do Pará.

IPAM
Os piores anos de queimadas na Amazônia em agosto se deram de 2002 a 2007. Em 2002, agosto terminou com 43.484 focos. Em 2003, 34.765. Já em 2004, 43.320. Em 2005, o recorde da série histórica do mês com 63.764. Em 2006, 34.208. E, por fim, 2007 com 46.385 focos de calor em agosto. Em 2011, o menor número em agosto com 8.002 focos.
Os meses de agosto a outubro marcam o pico das queimadas a cada ano no bioma amazônico. Diferentemente de outros biomas, quase todos os episódios de fogo na região amazônica são iniciados propositalmente pela natureza tropical e úmida da floresta.
Florestas, como da Europa e dos Estados Unidos, não são de natureza tropical e pela característica de vegetação, possuem maior combustibilidade, o que torna comparações com a Amazônia indevidas. A Europa registra a maior área queimada desde o começo das medições por satélite em meio a sucessivas ondas de calor e a pior seca em meio milênio.
O que são focos de calor nas queimadas da Amazônia
Os focos de calor são monitorados pelo Centro de Pesquisa do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mediante análise das imagens de diferentes satélites (NOAA, GOES, AQUA, TERRA e METEOSAT) que rastreiam a superfície terrestre diariamente ou várias vezes por dia.
Foco de calor é qualquer temperatura registrada pelos satélites acima de 47°C. Isso quer dizer que a relação de um foco de calor versus queimada não é direta nas imagens de satélite. Ou seja, nem sempre um foco de calor vem a ser uma queimada. Um foco indica a existência de fogo em um elemento de resolução da imagem (pixel), que varia de 375 m x 375 m até 5 km x 4 km, dependendo do satélite.
Neste pixel pode haver uma ou várias frentes de fogo ativo distintas que a indicação será de um único foco ou ponto, explica o INPE. E a instituição ainda esclarece que as contagens de focos são excelentes indicadores da ocorrência de fogo na vegetação e permitem comparações temporais e espaciais para intervalos maiores que 10 dias. Mas não devem ser consideradas como medida absoluta da ocorrência de fogo, que certamente é maior do que a indicada pelos focos informados.