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Especialistas do clima alertam para a urgente necessidade de redução do uso de combustíveis fósseis e a migração para veículos elétricos a fim de evitar consequências desastrosas para o clima mundial | MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL/EBC

O mundo tem três anos para frear suas emissões de gases de efeito estufa e deve se preparar para abandonar os combustíveis fósseis, alertaram nesta segunda-feira os especialistas de clima da Organização das Nações Unidas (ONU) que propõem mudanças radicais na nossa maneira de viver.

Após uma longa negociação, os especialistas do clima da ONU publicaram um guia com propostas para conter o aquecimento global, um desafio que consideram decisivo para o futuro da humanidade. Em um contexto de alta nos preços de energia, os especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) acreditam que até 2050 o carvão deve ser abandonado totalmente, com uma redução de pelo menos 60% no uso de petróleo, e de 70%, o do gás.

As emissões de dióxido de carbono (CO2) devem ser reduzidas até 2025 para que o futuro da humanidade seja “viável”. Para que o aquecimento do planeta não gere mudanças irreversíveis, restam apenas três anos para que essas emissões se estabilizem e depois comecem a cair drasticamente.

“Estamos diante de uma encruzilhada”, explicou o chefe do IPCC, Hoesung Lee. “As decisões que tomarmos agora podem garantir um futuro viável. Temos as ferramentas e o conhecimento necessários para limitar o aquecimento”, acrescentou. Com os compromissos atuais, o objetivo de aumento máximo de 1,5°C na temperatura média do planeta está “fora de alcance”, explicou o relatório. “As nações têm que mostrar sua coragem”, pediu o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken.

“Alguns governos e líderes empresariais dizem uma coisa, mas fazem outra. Para ser sincero, eles mentem. E os resultados serão catastróficos”, declarou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em uma mensagem de vídeo após a divulgação do relatório.

Nos últimos meses, o IPCC divulgou as duas primeiras partes de uma trilogia de avaliações científicas gigantescas. Milhares de páginas descrevem o efeito estufa, que aquece o planeta, e o que isso significa para a vida e a fauna. O terceiro relatório descreve o que fazer a respeito.

Mas a resposta tem amplas ramificações políticas, pois as soluções climáticas afetam praticamente todos os aspectos da vida moderna e exigem investimentos ainda desconhecidos. Apenas 10% da eletricidade produzida no mundo em 2021 provém da energia solar e eólica, segundo o centro de análise Ember.

As propostas mais radicais defendem a redução drástica do transporte aéreo, obrigar os usuários a abandonar os veículos com combustíveis tradicionais em favor dos elétricos, refundar a cadeia alimentar, reduzir o consumo de carne, repensar a forma como as casas são construídas, etc.

As negociações em torno deste novo relatório foram longas, mais de duas semanas, linha por linha. Os países em desenvolvimento reivindicam especialmente seu direito de continuar elevando o padrão de vida de suas populações, que compõem a grande maioria do planeta. O relatório reconhece que os lares que representam os 10% com maior renda do mundo acumulam 45% das emissões de gases de efeito estufa. Dois terços desses 10% vivem nos países desenvolvidos.

O mundo deve acelerar a implementação de tecnologias de absorção de CO2 da atmosfera, ainda pouco exploradas, e que nunca foram utilizadas de forma massiva, garantem os climatologistas. “Ter políticas públicas, infraestruturas e tecnologia para poder mudar nosso estilo de vida e nossos comportamentos” é essencial, explica o grupo de especialistas.

O planeta já atingiu +1,1°C, o que, segundo especialistas do IPCC, tem causado eventos climáticos extremos no mundo. Ao mesmo tempo, o preço da gasolina está batendo recordes. O impacto na inflação é devastador e o crescimento econômico que deveria ter acontecido após as grandes restrições causadas pela pandemia não foi registrado.