Fumaça escura cobre um complexo hoteleiro durante grande incêndio florestal que consumiu uma região de resorts mediterrâneos na costa Sul da Turquia, perto da cidade de Manavgat, em 29 de julho de 2021. Pelo menos três pessoas foram mortas e mais de 100 feridos enquanto os bombeiros lutavam contra as chamas. Os incêndios em meio a uma onda de calor recorde foram um dos principais extremos no clima mundial em 2021 | ILYAS AKENGIN/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O planeta seguiu muito quente e com temperatura perto do topo do ranking dos anos mais quentes em 2021, apesar de o ano não ter sido recorde em aquecimento pela influência do fenômeno La Niña que tem efeito de resfriar o globo ou, no caso dos dias atuais, atenuar a escalada da temperatura planetária.

O menor aquecimento não impediu o planeta de ter tido no ano passado uma série de extremos e desastres como inundações devastadoras, secas, incêndios florestais gigantes e ondas de calor sem precedentes. Foi o que revelaram hoje em anúncios coordenados para o mesmo horário a NOAA, a agência climática dos Estados Unidos, a NASA, a agência espacial norte-americana, e a Berkeley Earth, a área de clima da Universidade de Berkeley.

De acordo com a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA), depois de dois anos consecutivos (2019 e 2020) classificados entre os três mais quentes já registrados, a Terra ficou menos quente em 2021. Mas não muito. De acordo com uma análise de cientistas dos Centros Nacionais de Informações Ambientais da NOAA (NCEI), 2021 ficou em sexto lugar na lista dos anos mais quentes já registrados, desde 1880.

A temperatura média da superfície terrestre e oceânica da Terra em 2021 foi 0,84ºC acima da média do século 20. Também marcou o 45º ano consecutivo (desde 1977) com temperaturas globais subindo acima da média do século 20. Os anos de 2013-2021 estão todos entre os dez anos mais quentes já registrados.

A temperatura da superfície terrestre e oceânica do Hemisfério Norte também foi a sexta mais alta já registrada, com 1,09ºC acima da média, segundo a NOAA. “Observando apenas as áreas terrestres do Hemisfério Norte, a temperatura foi a terceira mais quente já registrada, atrás de 2016 (segunda mais quente) e 2020 (a mais quente)”, informou a agência.

O calor latente dos oceanos (OHC), que descreve a quantidade de calor armazenado nos níveis superiores do oceano, foi recorde em 2021, superando o recorde anterior estabelecido em 2020. Os sete maiores índices de calor nos oceanos ocorreram nos últimos sete anos (2015-2021). O aquecimento oceânico pode contribuir para o aumento do nível do mar.

A cobertura média anual de gelo marinho no Ártico foi a nona menor cobertura média anual no registro de 1979-2021. Os últimos sete anos (2015-2021) tiveram uma extensão anual de gelo marinho que se classificou entre as 10 menores já registradas, de acordo com dados do National Snow and Ice Data Center (NSIDC). Na Antártida, a cobertura anual de gelo marinho estava ligeiramente abaixo da média, a 18ª menor já registrada.

Houve um número acima da média de ciclones tropicais em todo o mundo em 2021, com um total de 94 tempestades nomeadas. Este valor está empatado com 1994 como o décimo maior número de tempestades nomeadas no registro de 41 anos. No entanto, houve apenas 37 ciclones tropicais com força de furacão em todo o mundo, o número mais baixo já registrado, superando o agora segundo menor recorde de 38, estabelecido em 2009.

O balanço da NASA

A temperatura média global da superfície da Terra em 2021 empatou com 2018 como a sexta mais quente já registrada, de acordo com análises independentes feitas pela NASA, em conjunto com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA).

Continuando a tendência de aquecimento de longo prazo do planeta, as temperaturas globais em 2021 ficaram 0,85ºC acima da média do período de referência da NASA, de acordo com cientistas do Goddard Institute for Space Studies (GISS) da NASA em Nova York.

A NASA usa o período de 1951-1980 como linha de base para ver como a temperatura global muda ao longo do tempo. Os últimos oito anos são os anos mais quentes desde que os registros modernos começaram em 1880, diz a agência espacial.

De acordo com o registro de temperatura da NASA, a Terra em 2021 estava 1,1ºC mais quente do que a média do final do século 19, o início da revolução industrial.

“A ciência não deixa margem para dúvidas: a mudança climática é a ameaça existencial do nosso tempo”, disse o administrador da NASA, Bill Nelson. “Oito dos 10 anos mais quentes do nosso planeta ocorreram na última década, um fato indiscutível que ressalta a necessidade de ações ousadas para salvaguardar o futuro do nosso país – e de toda a humanidade. A pesquisa científica da NASA sobre como a Terra está mudando e ficando mais quente guiará comunidades em todo o mundo, ajudando a humanidade a enfrentar o clima e mitigar seus efeitos devastadores”, afirmou o administrador da NASA.

“A mudança climática que vemos é o resultado das atividades humanas – principalmente queima de combustíveis fósseis – adicionando gases de efeito estufa como o dióxido de carbono à atmosfera, onde retêm mais calor. Desde cerca de 1850, os humanos aumentaram o CO2 atmosférico em quase 50%”, escreveu a agência.

“Sentimos os efeitos de um clima mais quente em 2021, com um verão quente recorde no território continental dos Estados Unidos, atingindo temperaturas vistas pela última vez durante o Dust Bowl em 1936. Ondas de calor levaram áreas do Noroeste e Sudoeste do país a recordes”, alertou.

“Em todo o mundo, vimos incêndios, inundações e secas recordes. Tanto o Pacífico quanto o Atlântico viram ciclones tropicais intensos, com outra temporada no Atlântico quase recorde. Tempestades como o furacão Ida e o ciclone Tauktae se intensificaram rapidamente antes de atingir a terra firme”, concluiu a NASA.

No comunicado, a NASA enfatiza que o planeta já vê os efeitos do aquecimento global: o gelo do mar Ártico está diminuindo, o nível do mar está subindo, os incêndios florestais estão se tornando mais graves e os padrões de migração de animais estão mudando. Compreender como o planeta está mudando – e com que rapidez essa mudança ocorre – é crucial para a humanidade se preparar e se adaptar a um mundo mais quente.

Estações meteorológicas, navios e bóias oceânicas em todo o mundo registram a temperatura na superfície da Terra ao longo do ano. Essas medições terrestres da temperatura da superfície são validadas com dados de satélite do Atmospheric Infrared Sounder (AIRS) no satélite Aqua da NASA. Os cientistas analisam essas medições usando algoritmos de computador para lidar com incertezas nos dados e controle de qualidade para calcular a diferença de temperatura média global da superfície para cada ano.

A NASA compara essa temperatura média global com seu período de referência de 1951-1980. Essa linha de base inclui padrões climáticos e anos excepcionalmente quentes ou frios devido a outros fatores, garantindo que ela englobe variações naturais na temperatura da Terra. Muitos fatores afetam a temperatura média em um determinado ano, como os padrões climáticos La Nina e El Niño no Pacífico tropical. Por exemplo, 2021 foi um ano de La Nina e os cientistas da NASA estimam que pode ter esfriado as temperaturas globais em cerca de 0,06ºC do que a média teria sido.

O que diz a Berkeley Earth

A Berkeley Earth, assim como NASA e NOAA, igualmente concluiu que 2021 foi nominalmente o 6º ano mais quente desde o início das observações diretas com temperatura 1,2°C acima do pré-industrial.

As temperaturas em 2021 foram mais baixas do que em 2020, em parte devido a um evento persistente de La Niña. As temperaturas em 2021 foram semelhantes a 2015 e 2018 e, dadas as incertezas, esses 5º, 6º e 7º anos classificados estão todos essencialmente empatados, destacou. No entanto, os últimos sete anos se destacam como os sete anos mais quentes desde o início das medições instrumentais.

Embora não seja um ano recorde, a maior parte da superfície da Terra teve temperaturas bem acima do que era típico em meados do século 20. A maior área de resfriamento relativo ocorreu no Pacífico Oriental como resultado do evento La Niña do ano passado. Em 2021, 8% da superfície da Terra observou um novo recorde de temperatura média anual. Em terra, isso afetou particularmente a Ásia Oriental, o Oriente Médio e o Noroeste da África. A Berkeley estima que 1,8 bilhão de pessoas vivam em áreas que experimentaram ano quente recorde em 2021.

No total, 25 países parecem ter estabelecido novos recordes para sua temperatura média anual, incluindo China, Coréia do Sul, Bangladesh, Arábia Saudita e Nigéria. A temperatura média nacional da China atingiu 2,0 °C acima da pré-industrial pela primeira vez em 2021. “Geralmente, esperamos e observamos que as áreas terrestres estão aquecendo um pouco mais do que duas vezes mais rápido que as áreas oceânicas. Em 2021, foi nominalmente o 5º ano mais quente em terra e o 7º mais quente nos oceanos”, afirmaram os cientes da universidade da Califórnia.

No final de 2020, um evento de La Niña moderado se desenvolveu. Este fenômeno, o oposto de um El Niño, está associado ao resfriamento do Pacífico equatorial oriental. O resfriamento associado no final de 2020 e início de 2021 contribuiu para as condições médias relativamente mais frias em 2021.

Como o La Niña voltou no final de 2021, a Berkeley espera que 2022 tenha uma temperatura semelhante a 2021. “Nossa previsão implica que 2022 estará quase certo entre os dez anos mais quentes, mas há uma chance de cerca de 50% de que não fique acima do 5º no geral”, informou.

Apesar das condições um pouco mais frias em 2021, a tendência de longo prazo tem sido de aquecimento, impulsionado principalmente pelas emissões humanas de gases de efeito estufa. Na taxa recente de aquecimento, o mundo atingirá 1,5°C acima do pré-industrial ao redor de 2033 e 2,0°C em torno de 2060, segundo a previsão da universidade.