A Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos, a NOAA, o centro meteorológico e climático do governo norte-americano, anunciou hoje (14) que um evento do fenômeno El Niño está em andamento no Oceano Pacífico Equatorial e que sua intensidade é muito fraca, sendo provável que os seus impactos no clima ao redor do mundo não sejam significativos. Segundo a NOAA, os critérios oceânicos e atmosféricos para a declaração de um evento do fenômeno foram alcançados agora e que há 55% de probabilidade de que o El Niño persista até o inverno.
O anúncio do centro climático norte-americano, contudo, não é um consenso.
A região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, é a utilizada para a classificação de El Niño ou La Niña. Os critérios oceânicos para a declaração de um evento de El Niño são preenchidos quando a anomalia média trimestral de temperatura da superfície do mar é igual ou superior por três meses seguidos. Isso foi alcançado em novembro, dezembro e em janeiro. Mas não basta que o oceano alcance tais patamares para que se configure um evento de El Niño. Tanto o oceano como a atmosfera devem se comportar em modo de El Niño. É o que, tecnicamente, se chama de acoplamento do oceano com a atmosfera em que as condições Niño de um e outro interagem se reforçando e sustentando o fenômeno.
E é nesse ponto que reside a controvérsia.
O Centro Meteorológico da Austrália (BoM), que assim como a NOAA é uma referência mundial em monitoramento do Pacífico, destaca no seu último boletim que o oceano está em neutralidade e que El Niño é uma possibilidade para os próximos meses. Conforme os australianos, os padrões de nebulosidade, pressão atmosférica e vento na faixa equatorial não são os que se poderia se esperar estivesse presente um El Niño.
Um dos principais indicadores é o chamado Índice de Oscilação Sul ou SOI em Inglês que é calculado pela diferença de pressão atmosférica entre o Taiti e Darwin. Valores positivos sustentados acima de +7 acompanham os eventos de La Niña e negativos sustentados de -7 ou menos acompanham os eventos de El Niño.
Ocorre que a média da SOI de 30 dias está hoje levemente negativa, típica de neutralidade, e a média de 90 dias é positiva, ou seja, incompatível com El Niño. Em janeiro, a SOI chegou a ser de +10, absolutamente incongruente com El Niño. E, se não bastasse, nos últimos dias houve resfriamento de muitas áreas no Pacífico Equatorial. Na região Niño 3.4, a principal, as anomalias são hoje de +0,3ºC, logo abaixo do patamar mínima de +0,5ºC para que haja a designação de um El Niño.
Nas últimas semanas, eventos extremos ao redor do planeta são conflitantes quanto aos impactos do fenômeno. A chuva extrema de janeiro no Oeste gaúcho, Uruguai e Centro da Argentina está dentro de um padrão histórico de El Niño. Assim como a chuva intensa que atinge nesta semana a Califórnia. Por outro lado, enchentes na Austrália e o padrão de frio deste inverno até agora nos Estados Unidos não são condizentes com um cenário de El Niño.
Acreditamos que o anúncio da NOAA na data de hoje guarde correlação com episódio de vento de Oeste muito intenso e incomum que os modelos estão prevendo pros próximos dez a quinze dias no Pacífico Central. Esses eventos são comuns quando da instalação de um El Niño e reforçam o aquecimento das águas superficiais, impulsionando uma Onda Kelvin, o deslocamento de águas mais quentes abaixo da superfície do mar de Oeste pra Leste. Logo, o nosso entendimento é que os norte-americanos declararam um El Niño baseados mais em expectativa do que a realidade do dia de hoje.
A esmagadora maioria dos modelos climáticos indica a continuidade do aquecimento do Oceano Pacífico nos próximos meses. Em março se ingressa no chamado de período de barreira de previsão em que os modelos climáticos até junho costumam ter um índice de acerto menor quanto a perspectivas de comportamento do Pacífico.
Já as tendências de chuva (mapas acima) indicam para o Sul do Brasil precipitação acima da média com períodos de muito acima da média (excessos com risco de enchentes) nos próximos meses, antecipando-se que o outono tende a ser mais chuvoso do que o normal com algumas semanas de chuva muito volumosa e que podem superar médias históricas mensais em curto intervalo.