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A agência de tempo e clima do governo dos Estados Unidos segue acreditando em um episódio de La Niña, embora haja crescentes dúvidas que um episódio do fenômeno seja declarado. Ontem, a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA) publicou sua atualização mensal, indicando mais de 70% de chance de La Niña no começo de 2025.

Gráfico de probabilidade de La Niña

NOAA

De acordo com a atualização mensal, para o trimestre outubro a dezembro as probabilidades são de 57% de La Niña, 43% de neutralidade e 0% de El Niño. Já para o trimestre de novembro de 2024 a janeiro de 2025 o indicativo da NOAA é de 74% de probabilidade de La Niña, 26% de neutralidade e 0% de El Niño.

Para o trimestre climatológico de verão, de dezembro a fevereiro, as probabilidades de acordo com a NOAA são de 72% de La Niña, 28% de neutralidade e 0% de El Niño. No trimestre de janeiro a março de 2025, as estimativas informadas foram de 61% de La Niña, 38% de neutralidade e 1% de El Niño. Em fevereiro a abril, 46% de La Niña, 52% de neutro e 2% de El Niño.

Já para o trimestre climatológico de outono de 2025, que compreende os meses de março a maio, as estimativas da NOAA são 33% de La Niña, 64% de neutralidade e 3% de El Niño. Para o trimestre abril a junho de 2025, os valores informados foram 26% de La Niña, 67% de neutralidade e 7% de El Niño.

Finalmente, no trimestre de maio a julho do próximo ano, 23% de La Niña, 65% de neutralidade e 12% de El Niño. No trimestre de inverno de 2025, de junho a agosto, a estimativa da NOAA é 20% de La Niña, 60% de neutralidade e 20% de El Niño.

Houve uma marcada mudança em relação ao boletim de outubro nas probabilidade para este último trimestre do ano. No mês passado, a NOAA estimava 71% de probabilidade de La Niña para o trimestre atual de outubro a dezembro e reduziu o valor agora para 57%, aumentando o de neutralidade de 29% para 43%. Contudo, manteve a estimativa acima de 70% para La Niña no trimestre de verão.

Em publicação, a NOAA destaca que “é muito tarde para a La Niña se formar”. A agência norte-americana observa que em sua série histórica de 75 anos do Pacífico, somente dois episódios de La Niña se formaram no trimestre outubro a dezembro.

Qual a situação atual

Hoje, de acordo com o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, publicado no começo desta semana, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central-Leste (região Niño 3.4) está em -0,3ºC.

NOAA

O valor está na faixa de neutralidade (-0,4ºC a +0,4ºC) depois de ter registrado -0,2ºC na semana anterior. Nas últimas quatro semanas, a média foi de -0,32ºC, ou seja, aquém do patamar mínimo de -0,5ºC para a declaração de um evento de La Niña. Nas últimas oito semanas, a partir de cálculo pela MetSul, a média foi de -0,35ºC, logo solidamente em terreno de neutralidade, conforme os dados.

Qual a previsão da MetSul

Se a La Niña vier a ser declarada, o que consideramos cada vez mais duvidoso, a oficialização do começo do fenômeno se daria muito mais tardiamente do que o habitual, já que os eventos surgem normalmente no inverno ou mais tarde no começo da primavera.

Aliás, a tendência, de acordo com o nosso entendimento na MetSul Meteorologia, é de continuidade da fase neutra do Oceano Pacífico ao menos no curto prazo. Embora a NOAA estime probabilidades de perto de 60% de La Niña no curto prazo, não estamos convencidos na MetSul Meteorologia de uma probabilidade tão alta.

Temos há muito tempo avaliado que a NOAA tem superestimado as probabilidades de La Niña por meses e não  foi surpresa alguma que na atualização deste mês as probabilidades de La Niña foram reduzidas para este último trimestre.

O que enxergamos para os próximos aponta dois possíveis cenários e são dois justamente porque as condições que esperamos são muito limítrofes, numa faixa muito perto da transição da fase fria e neutralidade, ao redor de -0,5ºC de anomalia.

No primeiro cenário, crescentemente menos provável, um evento se instala agora no final da primavera e o começo do verão, mas seria muito fraco e breve com possibilidade ainda de aquecimento do Pacifico Leste na costa peruana que contraporia os efeitos do resfriamento no Pacífico Central.

Já no segundo cenário, que ao nosso ver é cada vez mais provável, o Pacífico segue em neutralidade, mas com anomalias de temperatura do mar negativas e perto de valores de La Niña, borderline, mas sem um caracterização de um evento do fenômeno que exige vários trimestres.

Mesmo se os norte-americanos da NOAA vierem a declarar um declarar um evento de La Niña, muito provavelmente os australianos não o farão. Isso porque o patamar mínimo para La Niña da agência norte-americana (NOAA) é de -0,5ºC enquanto para a agência de Meteorologia da Austrália (BoM) é de -0,8ºC, o que não acreditamos será atingido numa média trimestral.

O que é o fenômeno La Niña e como impacta o Brasil

O fenômeno tem impactos relevantes no sistema climático global, sendo caracterizado por temperaturas abaixo do normal na superfície do Oceano Pacífico equatorial central e oriental. Essa condição contrasta com o El Niño, sua contraparte quente, e faz parte do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que influencia os padrões climáticos em todo o mundo.

Durante um evento La Niña, as águas do oceano Pacífico equatorial central e oriental ficam mais frias do que o normal. Isso tem efeitos significativos nos padrões de vento, precipitação e temperatura ao redor do globo. A última vez em que a fase friaesteve presente foi entre 2020 e 2023 com um longo evento do fenômeno que trouxe sucessivas estiagens no Sul do Brasil e uma crise hídrica no Uruguai, Argentina e Paraguai.

No Brasil, os efeitos variam de acordo com a região. O Sul do país geralmente experimenta menos chuva enquanto o Norte e o Nordeste registram um aumento das precipitações. Cresce o risco de estiagem no Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, embora mesmo com a La Niña possam ocorrer eventos de chuva excessiva a extrema com enchentes e inundações.

Além da chuva, o fenômeno também influencia as temperaturas em diferentes partes do mundo. No Sul do Brasil, o fenômeno favorece maior ingresso de massas de ar frio, não raro tardias no primeiro ano do evento e precoces no outono no segundo ano do episódio. Por outro lado, com estiagens, aumenta a probabilidade de ondas de calor e marcas extremas de temperatura alta nos meses de verão no Sul.

Em escala global, quando o fenômeno está presente há uma tendência de diminuição da temperatura planetária, o que nos tempos atuais significa menos aquecimento da Terra. O aquecimento do planeta, entretanto, foi tamanho recentemente que a temperatura média do planeta hoje em um evento de La Niña forte tende a ser mais alta que em um evento de forte El Niño décadas atrás.

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