Vários setores da província argentina de Mendoza (fotos abaixo do Twitter) amanheceram hoje cobertos por neve. A acumulação de neve é expressiva em algumas localidades (10 centímetros ou mais) como em San Rafael e Penitentes. Nevou na Sierra de la Ventana, na província de Buenos Aires, onde os cumes ontem estavam completamente brancos (área pode ter forte nevada neste fim de semana) O frio foi extremo no país vizinho nesta sexta-feira. As mínimas mais baixas ocorreram na região patagônica. Fez -13,7ºC em Esquel, -11,5ºC em Maquinchao, -10,5ºC em Bariloche, -9,7ºC em Perito Moreno e -8,5ºC em Neuquén. Já na Grande Buenos Aires, a mínima no Aeroporto Internacional de Ezeiza foi de 1,0ºC abaixo de zero.


No Uruguai, as mínimas desta sexta-feira foram de -1,0ºC em Mercedes, 0,0ºC em Salto, 1,5ºC em Rivera, 1,6ºC em Durazno, 1,6ºC em Artigas, e 2,0ºC em Treinta y Tres, Paysandu e Paso de los Toros. As mínimas não caíram mais, como já prognosticado, devido à ação do vento. Ontem, quando da chegada do segundo pulso de ar polar, o Uruguai teve fortes rajadas de vento. Estação particular na costa de Montevidéu chegou a acusar 120 km/h, mas nos bairros as rajadas oscilaram entre 60 e 75 km/h. Em Punta del Este, como em ocasiões passadas de vento intenso por ciclone ou fortes erupções de ar polar, a ventania levou grande quantidade de espuma do mar pra avenida da orla. As incríveis imagens foram registradas pelo repórter fotográfico amigo Ricardo Figueredo, da Punta Press, um dos melhores do Uruguai, e que enviou à MetSul as fotos. 


Houve inúmeros relatos de precipitação de “agua nieve” ontem por rádio-amadores e redes sociais no departamento uruguaio de Maldonado, entretanto não são críveis ante as condições locais. É provável que os fenômenos observados na região tenham sido sleet (chuva congelada) ou graupel (grãos pequenos de gelo brancos e opacos). A temperatura ontem não era condizente com neve misturada à chuva. Fazia entre 7ºC e 9ºC em Laguna del Sauce. Ademais, havia a presença de nuvens de maior desenvolvimento vertical na área, do tipo cumuliformes, que favorecem pancadas de graupel ou sleet em atmosferas muito frias. O fim de tarde em Punta del Este, em bela foto remetida por Antonio Bilhoto para a MetSul pela nossa página no Facebook, mostra que o céu estava carregado e com sol ao mesmo tempo, o que proporcionou a formação de um arco-íris.


No Rio Grande do Sul, o segundo pulso de ar polar da semana chegou ainda ontem e trouxe forte declínio da temperatura após uma quarta-feira em que a temperatura passou de 26ºC no Estado. O Chuí registrava 7ºC com rajadas de 80 km/h no fim da tarde. Hoje, o sul gaúcho amanheceu gélido e com baixa sensação térmica. A mínima no Estado foi de 1,0ºC abaixo de zero na estação da MetSul em Morro Redondo. Fez ainda 0,0ºC em Livramento, 0,3ºC em Canguçu, 0,7ºC em Quaraí, 1,0ºC em Caçapava do Sul e Encruzilhada do Sul, 1,5ºC em Bagé, 2,3ºC em Dom Pedrito e 2,6ºC em Jaguarão. Porto Alegre registrou mínima de 6,3ºC após uma madrugada e final de quinta-feira com vento e baixa sensação térmica. Observe com o jato polar que estava anteontem na Patagônia e ontem em Buenos Aires (ver posts anteriores da MetSul) agora alcança o Sul gaúcho.


A MetSul reitera o alerta sobre frio extremo no Cone Sul e no Brasil como poucas vezes se sentiu nos últimos anos. O frio mais intenso hoje e amanhã segue no Sul do Estado. A advertência maior é para o período entre domingo e quinta-feira da próxima semana por conta de um terceiro pulso de ar gelado que nos alcançará neste fim de semana e que será muito mais forte que os dois primeiros. A MetSul não descarta temperatura nos Aparados da Serra de -6ºC a -8ºC na primeira metade da semana, ocasionalmente menores em alguns pontos, e marcas ao redor de 0ºC e/ou negativas em quase todo o Estado, inclusive em Porto Alegre. O que nos impactará será um verdadeira “tempestade de inverno” (winter storm na expressão americana), o que será objeto de um comentário posterior em publicação específica do colega meteorologista Eugenio Hackbart. Os dias inteiros serão gelados com muito frio e máximas muito baixas até à tarde. Haverá estações em pontos mais altos do Sul do Brasil que devem ter máximas, repetimos máximas, abaixo de zero. Há um alto risco de geada negra pelo vento Minuano que soprará forte a intensamente no começo da semana e que pode trazer sensação térmica negativa na Capital e de até 15ºC abaixo de zero ou menos nos Campos de Cima da Serra. É desaconselhável acampar no Parque dos Aparados da Serra durante a próxima semana e a permanência no local exigirá roupas especiais de natureza polar, tais como usadas em bases na Antártica e pelos militares no cume do Morro da Igreja. Muito alto também o risco de hipotermia para população desabrigada de rua em todo o Sul do Brasil. Alerta-se ainda para o risco de formação de gelo na pista em rodovias do Planalto, Alto Uruguai, Serra Gaúcha e dos Aparados, assim como nas partes mais elevadas de Santa Catarina e do Paraná.


Projeção de neve do modelo numérico ETA do Serviço Meteorológico Nacional da Argentina até o dia 24/7

A neve, como sempre, segue sendo a questão mais tormentosa de previsão. A MetSul crê ser muito alta a probabilidade de nevar na província de Buenos Aires e no Uruguai neste domingo e no começo da semana com chance de acumulação, sobretudo na Argentina. No Sul do Brasil, a janela para a neve se abre no final do domingo e permaneceria até a quarta-feira. Neste momento o cenário está longe de estar definido quanto à neve no Sul do Brasil, mas a probabilidade de nevar nas partes altas do Sul do Brasil é muito alta. A nossa crença, ademais, é que a neve pode até atingir os três estados do Sul. Há alguns cenários que ainda não estão suficientemente claros e que merecerão uma análise nossa mais detalhada em boletins no fim de semana. São eles: 1) possibilidade de um evento de neve mais amplo com registro do fenômeno em muitas áreas do Sul do Brasil, 2) chance de nevar em áreas de menor ou média altitude (nível do mar a 500 metros) do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, 3) queda de graupel ou chuva congelada (sleet) em muitos locais baixos ou ao nível do mar do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, 4) neve em locais pouco afeitos ao fenômeno como o Paraguai, o Oeste paranaense, Missiones na Argentina e quiçá até pontos altos do Sudoeste do Mato Grosso do Sul. São cenários que diante dos dados dos modelos são possíveis, mesmo que remotamente, mas que carecem ainda de um refinamento maior de dados para uma previsão específica ou detalhada. Fato é que estamos diante de significativo evento de ar frio e que pode gerar fenômenos em locais onde eles são de baixíssima recorrência. (Colaborou Alexandre Aguiar)