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Um violento temporal com vendaval atingiu a cidade de São Paulo na tarde de ontem (12) com diversos impactos, incluindo a morte de um taxista, falta de energia elétrica em dezenas milhares de residências, queda de grande número de árvores e problemas no transporte público.

Automóvel destruído após ser atingido por uma árvore de grande porte na cidade de São Paulo | MIGUEL SCHINCARIOL/AFP/METSUL

Por volta das 16h30, áreas de instabilidade formaram chuvas de forte intensidade que atingiram a capital paulista. O Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) da Prefeitura de São Paulo emitiu estado de atenção para alagamentos às 16h38, abrangendo as zonas Norte, Sul, Oeste, Centro e as marginais Pinheiros e Tietê.

Posteriormente, às 17h07, as zonas Leste e Sudeste da cidade também foram incluídas no alerta do Centro de Gerenciamento de Emergências da prefeitura paulistana.

A chuva intensa, acompanhada de granizo, provocou a queda de árvores em diversos bairros. Uma dessas ocorrências resultou na morte de um taxista na Avenida Senador Queirós, na Sé, região central da cidade. A árvore de grande porte caiu sobre o veículo, causando o óbito do motorista.

Além disso, a tempestade causou a interrupção do fornecimento de energia elétrica em várias regiões. A Enel, concessionária responsável pelo serviço, informou que mais de 170 mil imóveis ficaram sem luz na capital paulista, com a região Oeste sendo a mais afetada.

De acordo com levantamento da Prefeitura de São Paulo, mais de 340 árvores caíram pela chuva e o vento da tarde de ontem, a maior parte na área central da capital paulista.

Foram registradas 7 quedas de árvores na zona Leste, 9 na zona Norte, 6 zona Sul e 321 nas zona Centro-Oeste. Nesta manhã de quinta, o Corpo de Bombeiros ainda atendia ocorrências nos bairros Butantã, Consolação, Pinheiros, Água Rasa, Santa Cecília e Jardim Paulista.

A terceira árvore mais antiga da cidade de São Paulo caiu durante a tempestade severa da tarde de ontem. A árvore, um chichá, tinha aproximadamente 200 anos e 30 metros de altura, e ficava no Largo do Arouche. A espécie é nativa da Mata Atlântica e usada em reflorestamento.

A região da Sé, onde o taxista morreu, foi a segunda área mais afetada pelo temporal, com o registro de 106 quedas de árvores (32% do total da cidade).

Como consequência do grande número de queda de árvores, muitas vias ficaram com o trânsito interrompido. Na manhã de hoje, 63 vias da capital ainda estavam interditadas, dentre elas as avenidas Doutor Arnaldo e a Avenida Tiradentes.

Além do vendaval, o temporal trouxe chuva forte e queda de granizo em alguns bairros, mas os efeitos maiores da tempestade se deram pelas rajadas intensas em parte da cidade.

Vento foi mais forte que o medido em estações meteorológicas

As rajadas de vento nas áreas mais afetadas pela tempestade severa da tarde de ontem foram muito mais fortes que as registradas por estações meteorológicas na cidade de São Paulo.

De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), o maior valor de vento foi observado em Santana-Carandiru, na zona Norte, onde as rajadas chegaram a 62,9 km/h às 17h20. O Aeroporto Campo de Marte registrou 61,0 km/h às 17h03.

Na rede do Instituto Nacional de Meteorologia, a estação da zona Sul de SESC-Interlagos teve rajada máxima de vento de 36 km/h enquanto na estação do Mirante de Santana, na zona Norte, o vento foi a 48 km/h.

MIGUEL SCHINCARIOL/AFP/METSUL

MIGUEL SCHINCARIOL/AFP/METSUL

MIGUEL SCHINCARIOL/AFP/METSUL

MIGUEL SCHINCARIOL/AFP/METSUL

Dezenas de vídeos analisados pela MetSul Meteorologia e a extensão dos danos que se observou com quedas de centenas de árvores não deixam dúvida, contudo, que o vento foi muito superior ao observado em estações meteorológicas.

Uma vez que se tratou de uma tempestade bastante localizada, o campo de vento forte a intenso foi limitado em abrangência, afetando com severidade bairros da zona central de São Paulo e parte da zona Oeste.

A Defesa Civil de São Paulo fez a avaliação de que o vento passou de 100 km/h nos bairros mais castigados pelo vendaval, conclusão que é a mesma da MetSul Meteorologia a partir dos danos registrados e os muitos registros em vídeo da tempestade severa.

Possibilidade de microexplosão não pode ser descartada

O temporal que atingiu a cidade de São Paulo foi muito localizado por uma célula de tempestade que se formou por convecção moderada decorrente do calor que fazia nas horas precedentes ao tempo severo.

Antes do temporal, a capital paulista teve horas de calor com temperatura acima da média de março e máximas que chegaram a 31,1ºC em SESC-Interlagos e 31,9ºC no Mirante de Santana.

Imagem do satélite GOES-16 do estado de São Paulo no momento do temporal na capital paulista | METSUL

Esses temporais comuns nesta época do ano se dão com a combinação de calor e alta umidade. De dia, o aquecimento solar aquece a superfície da terra, fazendo com que o ar quente e úmido suba rapidamente para a atmosfera em processo conhecido como convecção. O ar em ascensão encontra camadas mais frias, o que provoca a condensação do vapor d’água em nuvens de chuva e tempestades.

A partir da análise dos vídeos que mostram vento muito intenso e destrutivo, o caráter localizado do vento de grande intensidade e a maior concentração dos danos numa área limitada da cidade com muito alto número de queda de árvores, a MetSul não descarta que uma microexplosão atmosférica tenha atingido a área central de São Paulo.

JONATHAS COSTA

MIGUEL SCHINCARIOL/AFP/METSUL

Uma microexplosão atmosférica, também conhecida como downburst, é um fenômeno meteorológico caracterizado por intensas rajadas descendentes de vento que atingem a superfície e se espalham radialmente.

Esse evento pode ser extremamente perigoso, causando danos semelhantes aos de tornados, mas com um padrão distinto. Enquanto os tornados possuem um movimento rotacional, a microexplosão apresenta ventos retos e divergentes.

O fenômeno ocorre quando há uma forte corrente descendente dentro de uma nuvem de tempestade. O ar frio e denso desce rapidamente devido ao resfriamento causado pela evaporação da chuva ou pelo derretimento do granizo.

Ao atingir o solo, essa corrente se espalha violentamente em todas as direções, podendo gerar ventos superiores a 100 km/h e causar estragos significativos em um raio de poucos quilômetros.

Existem dois tipos principais de microexplosões: úmidas e secas. As úmidas ocorrem em tempestades com alta umidade, sendo acompanhadas por chuvas intensas. Já as secas acontecem em regiões mais áridas, onde a precipitação pode evaporar antes de atingir o solo, tornando os ventos ainda mais traiçoeiros.

No caso da área central de São Paulo há um agravante. Trata-se de uma região com um grande número de prédios altos. Isso faz com que o vento já muito forte ganhe ainda mais força, formando verdadeiros corredores de vento intenso, aumentando o potencial de quedas de árvores e outros estragos.

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