O amanhecer tranquilo, cinzento e úmido com frio fora de época da manhã de ontem na Serra Gaúcha se transformaria às 9h13 da manhã, quando uma pequena aeronave com 10 pessoas a bordo caiu e explodiu sobre prédios comerciais na Avenida das Hortênsias, em Gramado, sem deixar sobreviventes.
Forte nevoeiro cobria a região e a visibilidade era muito restrita. A investigação do Cenipa, da Força Aérea Brasileira, que já se iniciou, vai se debruçar inevitavelmente sobre as condições meteorológicas e se elas permitiam voar.
Canela (SSCN) não tem instrumentação ou boletins meteorológicos como em aeródromos maiores, casos de Caxias do Sul e de Porto Alegre. Naquele momento, frente fria avança pelo Nordeste do Rio Grande do Sul com abundante nebulosidade e chuva de variada intensidade entre a Serra, Grande Porto Alegre e o Litoral.
Na Serra, além da chuva, como costumeiro, havia nevoeiro. A estação do Instituto Nacional de Meteorologia, junto ao Aeroporto de Canela, anotou 3,8 mm entre 8h e 9h da manhã e mais 1,6 mm entre 9h e 10h. Assim como a chuva, o vento era fraco.
Logo, a Meteorologia na investigação focará em teto e visibilidade horizontal no quesito Meteorologia. Vídeos mostram que imediatamente ao levantar, o avião ingressou em denso banco de nevoeiro, logo o minuto único e final do voo foi com o piloto dentro de nuvem, sem visibilidade e referências.
Conforme o aeroclube de Canela, só é permitido voar sob condições visuais, e não havia. Os mínimos operacionais são 5.000 mil metros de visibilidade horizontal e 1.000 pés (300 metros) de teto. Quando da decolagem, visibilidade e teto eram muito inferiores. Além disso, na Serra, a visibilidade varia rapidamente.
Somente o relatório final indicará as causas, mas uma das linhas de investigação do triste episódio e que dilacerou famílias e deixou feridos em terra será, com certeza, se após a decolagem e o ingresso no nevoeiro houve desorientação espacial do piloto, pela falta de visibilidade. Foi um dos fatores apontados no relatório final da investigação do acidente em 2014 que vitimou em Santos (SP) o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.
Luiz Fernando Nachtigall é Meteorologista da MetSul e especialista em Meteorologia Aeronáutica pela FAB, tendo comandado as operações de previsão do tempo dos aeroportos de Porto Alegre e Galeão (Rio de Janeiro)
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