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Os primeiros números do clima de 2025 divulgados pelo Sistema Copernicus da União Europeia não surpreendem os mais pessimistas, mas para grande parte da comunidade científica dedicada ao clima os dados soam como um alarme a mais de que há um problema sério no clima e que ele está se agravando.

É fato que a curva de temperatura do planeta é ascendente há décadas por influência de condições naturais e principalmente de emissões de gases de efeito estufa, sobretudo de origem humana (antropogênica).

Esta curva de elevação da temperatura planetária, entretanto, ano a ano, não é uma constante.Por exemplo, 2016 foi mais quente que 2015 no mundo, mas 2017 não foi mais quente que 2016 no planeta. Ocorrem pequena oscilações anuais para cima e para baixo na tendência de longo prazo de aquecimento.

Estas oscilações são determinadas principalmente pelas ocorrências dos fenômenos El Niño e La Niña. Sabidamente, quando o El Niño está presente o planeta aquece mais. Quando há La Niña, o aquecimento é menor.

Por isso, os dados que hoje foram divulgados são preocupantes. Com um evento intenso de El Niño, os anos de 2023 e 2024 foram os mais quentes desde o começo dos registros modernos de temperatura na Terra. Aliás, foram muito quentes no mundo a ponto de gerar um intenso debate cientifico se o aquecimento global estava acelerando ou não.

Sem El Niño desde o outono do ano passado e com condições de La Niña presentes no Pacífico Equatorial desde o final de 2024, a tendência a partir do que se viu no passado era que o começo de 2025 não fosse tão quente na média de temperatura mundial como o começo de 2024, quando o El Niño de 2023-2024 estava no seu auge.

Mas não foi o que ocorreu. Os dados divulgados pelo Copernicus hoje mostram que, a despeito de não ter El Niño por mais de meio ano e de o Pacífico estar sob La Niña, o mundo teve um janeiro de temperatura média global recorde, superando 2024 que era o período de pico de influência do El Niño no aquecimento planetário.

Ou seja, de forma clara e direita: ao menos pelo teoria e o histórico de impacto do Pacífico no clima, não era para janeiro de 2025 ter sido tão quente no mundo. E foi mais quente que o janeiro do auge do grande evento de El Niño terminado no ano passado.

De acordo com o conjunto de dados ERA5 do Copernicus, janeiro de 2025 foi o mais quente já registrado globalmente com uma temperatura 0,79°C acima da média de janeiro entre 1991-2020 e uma temperatura média global de 13,23°C. Em relação ao período pré-industrial (1850-1900), foi 1,75°C mais quente.

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Foi o 18º mês em um intervalo de 19 meses em que a temperatura média global da superfície do ar esteve mais de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Doze desses meses, entre setembro de 2023 e abril de 2024, além de outubro de 2024 a janeiro de 2025, registraram anomalias substancialmente superiores a 1,5°C, o limite previsto no Acordo de Paris para uma média de longo prazo, variando entre 1,58°C e 1,78°C.

Já os meses de maio, junho, agosto e setembro de 2024, assim como julho e agosto de 2023, ficaram próximos de 1,5°C, oscilando entre 1,50°C e 1,54°C. Pequenas diferenças entre conjuntos de dados podem alterar o número exato de meses considerados acima desse limiar.

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A média global de temperatura para o período de fevereiro de 2024 a janeiro de 2025 ficou 0,73°C acima da média de 1991-2020 e 1,61°C acima do nível pré-industrial estimado.

Tal valor ficou só 0,03°C abaixo do recorde de anomalia média global de temperatura, que foi de 0,76°C acima da média de 1991-2020, registrado nos três períodos de média móvel de 12 meses encerrados em junho, julho e agosto de 2024.

O novo recorde anual foi muito superior aos picos anteriores, que atingiram no máximo 0,46°C acima da média de 1991-2020, registrados nos períodos de 2015/16 e 2019/20.

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As variações na temperatura do ar em janeiro de 2025 foram significativas em diferentes regiões do planeta. Na Europa, a Rússia ocidental registrou as maiores anomalias de temperatura, com temperaturas altas diárias recordes.  A Escandinávia, o Sul e Leste da Europa e Turquia também experimentaram temperaturas acima da média. Na Espanha, Valência teve seu janeiro mais quente em 150 anos de medições, com 26,9°C. Em contrapartida, algumas regiões tiveram temperaturas abaixo da média, incluindo Islândia, Reino Unido, Irlanda e Norte da França.

Fora da Europa, as temperaturas estiveram muito acima da média no Nordeste do Canadá, incluindo Terra Nova, Labrador, Quebec e a Baía de Hudson, onde a concentração de gelo marinho foi anormalmente baixa. Também estiveram bem acima da média o Noroeste do Canadá, Alasca e Sibéria.

A maior parte da África, o Sul da América do Sul e a Austrália também registraram temperaturas acima da média, sendo que esta última teve seu segundo janeiro mais quente desde o início dos registros em 1910. A Antártida apresentou temperaturas predominantemente superiores à média.

Enquanto algumas regiões do planeta experimentaram calor extremo, outras registraram temperaturas abaixo da média. Nos Estados Unidos, o Sul do país enfrentou temperaturas baixas recordes e nevascas históricas. Outras áreas com temperaturas abaixo da média incluíram Chukotka e Kamchatka, no extremo Leste da Rússia, a Península Arábica e o Sudeste Asiático continental, onde a Tailândia teve condições mais frias do que o normal.

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