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Atingidos há exatamente um ano pelo maior desastre da história do Rio Grande do Sul com a enchente do fim de abril e maio de 2024, os gaúchos viram nos últimos dias pelo noticiário da MetSul e da imprensa uma repetição das imagens que testemunhamos doze meses atrás com cidades inundadas e pessoas sendo resgatadas na Argentina.

Enchente na Argentina

ARMADA ARGENTINA

Um episódio de chuva extrema atingiu a província de Buenos Aires entre os dias 15 e 18 deste mês com enchente. Os volumes em algumas localidades se aproximaram de 500 mm em apenas três dias, quando nesta época do ano as médias históricas estão entre 80 mm e 100 mm na região. Por isso, o episódio está sendo tratado como um dos mais graves eventos de chuva excessiva da história recente da província de Buenos Aires, o que levou às enchentes graves em diversas localidades.

Segundo dados do Serviço Meteorológico Nacional da Argentina (SMN), os acumulados de chuva registrados na rede oficial foram altos em vários pontos da província, incluindo a Grande Buenos Aires. Merlo teve o maior volume, com 209 mm, seguido por Ezeiza com 187 mm, Cidade de Buenos Aires (Villa Ortúzar) com 181 mm, Morón com 179 mm e San Fernando com 178 mm. Também se destacaram os dados de 162 mm no Aeroparque de Buenos Aires, 158 mm em El Palomar, 139 mm em La Plata, 138 mm em San Miguel e 126 mm em Moreno.

Já os dados de estações particulares indicaram volumes ainda mais elevados em diversas localidades. Os maiores acumulados foram observados em San Antonio de Areco (463 mm), Zárate (423 mm), Campana (403 mm), Arrecifes (363 mm) e Salto (354 mm). INTA Outras cidades com altos volumes entre as estações particulares incluem Capitán Sarmiento (291 mm), Chacabuco (231 mm), Escobar (248 mm), La Matanza (224 mm) e Exaltación de la Cruz (278 mm). Esses dados foram coletados entre 0h do dia 15 e 3h do dia 18 de maio.

Já um levantamento da Defesa Civil da província de Buenos Aires apontou acumulados também de 400 mm a 500 mm.  Os maiores volumes foram registrados em San Antonio de Areco, com impressionantes 463 mm, seguido por Zárate com 423 mm, Campana com 403 mm, Arrecifes com 363 mm e Salto com 354 mm.

Já segundo o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) da Argentina, que da mesma forma publicou um balanço da chuva, as fortes chuvas e tempestades atingiram o Leste da região Pampeana e o chamado Litoral, com os acumulados mais intensos concentrados no Norte da província de Buenos Aires. Em algumas localidades, os volumes superaram os 250 mm no período, com destaque para Zárate, que registrou 445 mm, e San Antonio de Areco, com 432 mm.

INTA

As consequências da enchente na Argentina foram devastadoras nas áreas mais atingidas. Mais de sete mil pessoas foram desabrigadas ou desalojadas em pelo menos 21 municípios, incluindo Campana, Salto e Rojas. Mil tiveram que ser resgatadas. Cidades inteiras ficaram submersas, com ruas transformadas em rios e moradores utilizando barcos para se deslocar.

Se o que choveu na Argentina entre os dias 15 e 18 deste mês tivesse caído na Metade Norte do Rio Grande do Sul, as consequências seriam mais um desastre climático no estado gaúcho, mas um ano depois da catástrofe o evento de chuva extrema se deu cerca de mil quilômetros ao Sul.

O desastre na Argentina é um aviso. Enchentes grandes podem ocorrer mesmo sem a presença do fenômeno El Niño, que costuma trazer muita chuva no Sul do Brasil, no Centro da Argentina e Nordeste da Argentina, e no Uruguai.

Neste momento, o Oceano Pacífico está em condição de neutralidade, ou seja, sem El Niño ou La Niña. A ausência da fase quente (Niño) não é uma garantia de que a região do Cone Sul está livre da ocorrência de extremos que normalmente ocorreriam sob El Niño. Trata-se de uma falsa sensação de segurança.

Neutralidade é frequentemente confundida com normalidade, mas pode trazer tanto extremos de El Niño como de La Niña. Assim, tanto na precipitação como na temperatura os sinais podem ser mistos.

Com isso, não se está a dizer que a enchente na Argentina é uma aviso de que está prestes a vir uma grande enchente de novo, mas sim de que se trata de um aviso que o risco existe mesmo sem El Niño.

O fenômeno agrava o risco de eventos extremos de chuva e de enchentes no Sul do Brasil, mas em qualquer dos estados do Pacifico (Niño, Niña e neutro) podem se dar episódios de chuva excessiva com cheias de rios.

Um exemplo de grande enchente sem El Niño foi a cheia do Taquari de julho de 2020, após o ciclone bomba, quando a cota atingiu 27,55 metros no porto de Estrela. É uma das maiores cheias das últimas décadas do Taquari.

Como já tivemos oportunidade de destacar, o firme entendimento da MetSul Meteorologia é que não se deve questionar se haverá ou não uma nova grande enchente no futuro, pois haverá. Assim, não é uma questão de “se” e sim de “quando”. A grande questão é o “quando”, para o qual não se tem uma resposta.

Não há qualquer estudo que mostre quando exatamente haverá uma repetição do ocorrido em 2024 porque impossível prever. Qualquer afirmação que fixe data, como, por exemplo, em 30 anos, é absolutamente especulativa.

O que se pode prognosticar é que, diante das mudanças climáticas, o tempo de intervalo ou recorrência entre estes eventos tende a diminuir. O planeta seque aquecendo e de forma mais acelerada nos últimos anos. Quanto mais aquecer, menor será o intervalo entre estes episódios extremos.

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