“Mayotte acabou”, lamenta tristemente Moussa Hamidouni, de um bairro precário do arquipélago francês no Oceano Índico, em Pamandzi. Ao seu redor, o cenário é apenas de ruínas, vegetação arrancada e desolação, enquanto alguns trabalham entre os escombros para recuperar o que ainda pode ser salvo e outros tentam reconstruir.
La Vigie, que domina a comuna de Pamandzi, ficou subitamente exposta após a passagem do ciclone Chido, o mais devastador em quase um século naquela área do Oceano Índico. As cabanas de chapa e madeira foram espalhadas por ventos de mais de 200 km/h. As árvores estão dilaceradas.
“Quando voltei aqui, fiquei perdido”, conta o funcionário hospitalar de 44 anos, que foi requisitado durante a catástrofe e só conseguiu chegar em casa depois. Ao se aproximar a 100 metros de sua residência, “não sabia mais onde estava”, continua ele.
De sua casa de alvenaria, uma das poucas ainda de pé, onde crianças pulam corda — usando um cabo elétrico arrancado como corda —, a imensidão da destruição é impressionante.
Nos escombros ao redor, algumas roupas secam — as poucas posses que alguns conseguiram salvar. O som de marteladas ecoa. São as vítimas tentando reconstruir suas cabanas.
“Mayotte acabou”, alarma-se Moussa Hamidouni, que, com ferramentas na mão, tenta recuperar vigas. “Porque não é só o meu bairro. Toda Mayotte está assim.” Do norte ao sul da ilha, afirma ele, “não há mais árvores de pé. Até as sementes, tudo foi perdido”.
Segundo um balanço provisório do Ministério do Interior, o ciclone causou 31 mortes e deixou 1.373 feridos, embora as autoridades prevejam um número muito maior de vítimas.
Em La Vigie, onde viviam milhares de pessoas, os bangas (habitações precárias) foram reduzidos a nada, e agora é possível enxergar a faixa do lago separando Petite-Terre, onde fica Pamandzi, de Grande-Terre, onde o olho do ciclone passou, causando danos imensos.
“Sinto agora todo o calor que triplicou”, testemunha sua esposa, Nasreddine Akilaby, funcionária da Cruz Vermelha. “Quando o sol está forte, sentimos isso porque não há mais árvores”.
Essa mãe de quatro filhos recorda seu filho de 8 anos, encolhido “em posição fetal” enquanto os blocos de concreto do andar superior de sua casa em construção caíam um após o outro durante o ciclone.
“Tivemos a impressão de que era um terremoto”, continua ela, dizendo-se “feliz” por sua família ter saído ilesa e por haver “muita ajuda mútua e solidariedade” entre as vítimas de Chido.
Na casa de Nasreddine e Moussa, agora vivem três famílias vizinhas que perderam tudo. Uma delas lamenta a morte de um homem atingido por uma árvore. Amada Bakar conta ter transportado o corpo dele em um lençol até o sopé de La Vigie.
Com o olhar perdido, esse trabalhador da construção civil está sentado diante das ruínas de sua cabana, onde viveu por cinco anos e que ele não terá dinheiro para reconstruir.
Enquanto sua esposa e os dois filhos estão abrigados no hospital, este comorense, que vive há mais de quinze anos em Mayotte, mas está em situação irregular, agora dorme ao relento, em um colchão velho.
“Não tenho para onde ir”, lamenta ele. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas da França (Insee), 77% da população de Mayotte vive abaixo da linha da pobreza, cinco vezes mais que a média nacional.
Os comorenses, que compõem quase metade dos 320.000 habitantes da ilha, vivem principalmente em habitações informais destruídas pelo ciclone Chido. Saïda Asoumani Soubrata, comorense de 18 anos e já bacharel, obteve sua primeira autorização de residência no ano passado.
Ela poderia ter escapado dessa situação, pois, no início do ano letivo, estava inscrita em uma universidade parisiense, mas seu visto nunca chegou, lamenta. Desde o ciclone Chido, seu cotidiano é apocalíptico: “Vivemos na rua porque não temos para onde ir. Pegamos nossos colchões, colocamos no chão e dormimos. Para podermos acordar de manhã e tentar reconstruir algo”.
Mas, ao anoitecer, o sono não vem, porque os “gritos” e os choros de seus parentes, presos como ela por quatro horas sob os escombros, ainda ecoam em sua mente. E, acima de tudo, há a visão de seu pai e seu irmão mais novo, levados pelos ventos e que desapareceram subitamente de sua vista durante o ciclone. “É isso que mais me choca”. (Por Joris Fioriti/AFP em Mayotte)
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