Uma das mais tristes e dolorosas páginas da história do Rio Grande do Sul completa dez anos neste 27 de janeiro de 2023 com centenas de famílias e uma comunidade ainda à espera de justiça uma década depois da abertura de uma ferida na alma que jamais desaparecerá.
Passavam das 2h da madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 quando um incêndio que teve início no teto da boate Kiss pelo uso de pirotecnia durante uma apresentação musical colocaria Santa Maria no centro do mundo naquele dia por uma razão terrível.
A tragédia ceifou as vidas de 242 jovens. Destes, 101 eram estudantes da Universidade Federal de Santa Maria. Entre eles, dois colegas nossos do curso de Meteorologia da UFSM, que saíram de casa para se divertir, como todos os jovens fazem, para mergulhar numa arapuca do destino de fogo e fumaça tóxica que impediria as suas voltas para casa.
Era um jovem casal de namorados que experimentaria na boate Kiss precocemente o fim de suas vidas. Mariana Macedo e Lincon Turcato Carabagiale se conheceram no curso de Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (USFM).
Ele aguardava a formatura e acabara de ser aprovado no mestrado da Universidade de São Paulo (USP), uma das mais concorridas do Brasil. O jovem era natural de Ijuí e havia concluído há duas semanas o estágio no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), também na capital paulista.
O então chefe da Meteorologia do Inpe, o argentino Gustavo Escobar, recorda uma das paixões do estudante, o futebol e sua paixão pelo Grêmio. “Brinquei com ele sobre nossas afinidades de cores, afinal sou Racing”, comenta o meteorologista ao falar que o aluno usava camisetas do Grêmio nas aulas.
Mariana, 19 anos, cursava o quarto semestre de Meteorologia. Seu professor ainda no começo do curso, Ernani Nascimento, descreve-a como uma aluna alegre. “Estava sempre sorridente, por onde passava”.
Natural do município de São Gabriel, pouco antes da tragédia Mariana havia participado do Projeto Chuva, iniciativa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais que no final do ano de 2012 esteve no Rio Grande do Sul. Interessada por Agrometeorologia, Mariana participou da montagem das rádio-sondagens. Os colegas resumem a amiga como uma pessoa meiga e afável.
Lincon e Mariana, assim como as demais 240 vítimas daquele brutal e dilacerante 27 de janeiro de 2013, jamais deixarão as nossas memórias. Como resistirá o desejo por justiça e conforto, se possível, aos familiares e amigos. Jamais esqueceremos! Nunca!!!!!