O investimento em energia solar deve ultrapassar o em petróleo pela primeira vez neste ano no mundo à medida que os gastos com energia limpa superam os de combustíveis fósseis, informou a Agência Internacional de Energia (IEA) em um relatório nesta semana. Trata-se de uma excelente notícia com a piora do cenário de mudanças no clima e que ocorre no meio de um debare no Brasil sobre exploração de petróleo na margem equatorial do Rio Amazonas.
Embora esse seja um fato bem-vindo, a Agência Internacional de Energia alertou que o investimento em combustíveis fósseis está aumentando quando deveria estar caindo rapidamente para alcançar emissões líquidas zero de gases estufa até 2050.
“A energia limpa está avançando rapidamente e mais rápido que muitas pessoas imaginam”, disse o diretor executivo da IEA, Fatih Birol, em comunicado que acompanhou o lançamento do último relatório da agência sobre investimentos em energia.
“Isso fica claro nas tendências de investimento, onde as tecnologias limpas estão se afastando dos combustíveis fósseis”, acrescentou.
Espera-se que o investimento anual em energia limpa tenha aumentado 24% em relação a 2021, para mais de US$ 1,7 trilhão em 2023, segundo a IEA. O ganho dos combustíveis fósseis foi de 15% no mesmo período.
O investimento em energia limpa e combustíveis fósseis era igual há apenas cinco anos. Mas uma combinação de fatores, em particular os altos preços do petróleo e do gás e a preocupação com o abastecimento, fez com que os gastos com energias renováveis disparassem.
“Um exemplo brilhante é o investimento em energia solar, que deve ultrapassar pela primeira vez a quantidade de investimento na produção de petróleo”, disse Birol.
A IEA espera que o investimento em energia solar, essencialmente painéis fotovoltaicos, chegue a US$ 380 bilhões este ano, enquanto o investimento em exploração e extração de petróleo deve chegar a US$ 370 bilhões. “Isso coroa a energia solar como uma verdadeira superpotência energética”, disse Dave Jones, chefe de insights de dados do think tank de energia Ember.
O baixo preço da geração de energia solar ajudará a impulsionar os esforços de descarbonização à medida que a adoção de carros elétricos ganha ritmo. Mas a recuperação do investimento em petróleo e gás, que deve retornar aos níveis de 2019 este ano, coloca o setor ainda mais longe da trajetória zero da IEA em 2050.
A IEA diz que o investimento geral em combustíveis fósseis em 2023 deve ser mais do que o dobro do valor que o setor deveria gastar em 2030. Para o carvão, atingiu seis vezes o valor. A IEA também observou que o investimento em energia limpa está concentrado em nações avançadas e na China, enquanto os maiores aumentos no investimento em combustíveis fósseis estão nos países do Oriente Médio.
“A ironia é que alguns dos lugares mais ensolarados do mundo têm os níveis mais baixos de investimento em energia solar, e esse é um problema que precisa de atenção”, disse Jones.
A agência também descobriu que as principais empresas de energia, em sua maioria, não estão colocando fundos consideráveis na transição para a energia verde. Apenas 5% de seu fluxo de caixa no ano passado foi para projetos de baixo carbono e energias renováveis ou captura de carbono, apenas cerca de um quarto do valor que foi pago aos acionistas.