O incêndio denominado de Dixie Fire, em agosto do ano passado, na Califórnia, foi um dos piores da história dos Estados Unidos e um dos mais graves no mundo em 2021 | JUSTIN SULLIVAN/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Os incêndios florestais duplicaram em todo o mundo nos últimos 20 anos, particularmente nas florestas boreais, “provavelmente” por causa das mudanças climáticas, de acordo com um estudo publicado ontem. A situação é especialmente dramática em países como a Rússia, que experimentou incêndios sem precedentes no ano passado, enquanto o fenômeno “El Niño” exacerbou a perda de massa florestal na América Latina,

É o que explica o relatório conjunto da Global Forest Watch (GFW), World Resources Institute (WRI) e da Universidade de Maryland. Em comparação com 2001, nas últimas duas décadas os incêndios varreram cerca de 3 milhões de hectares por ano, o equivalente à área da Bélgica. Cerca de 70% da superfície devorada pelas chamas está concentrada nas florestas mais ao Norte, nas regiões da Rússia, Canadá e Alasca, os maiores depósitos de carbono do planeta.

A Rússia perdeu 53 milhões de hectares nas últimas duas décadas, o equivalente à área da França. Mas a situação também é dramática no Brasil, que perdeu 9,5 milhões de hectares nesse período, o equivalente a 15% do total mundial. “Dois terços dessas perdas ocorrem em florestas primárias, que são importantes reservas de carbono e biodiversidade”, explica o texto. A Bolívia perdeu 1,6 milhão de hectares nestas duas últimas décadas.

Pesquisadores da Universidade de Maryland usaram satélites para determinar a área queimada. Os incêndios representam, segundo o estudo, cerca de um quarto da perda total de massa florestal desde o início do século no mundo. O restante é causado por desmatamento ou causas naturais (tempestades e inundações).

A perda de florestas devido a incêndios aumentou 4% a cada ano em todo o mundo, ou seja, mais 230.000 hectares. E cerca de metade desse aumento se deve a incêndios maiores em florestas boreais, “provavelmente o resultado do aquecimento nas regiões do Norte”, acrescentam os pesquisadores.

Na Europa, o serviço de monitoramento por satélite Copernicus alertou na semana passada que os incêndios florestais atingem níveis recordes este ano. Dezenas de milhares de hectares foram perdidos na França, Espanha e Portugal. As mudanças climáticas são “provavelmente um fator primário” nesse aumento.

As ondas de calor, que secam as florestas e as fragilizam diante da ameaça das chamas, são cinco vezes mais prováveis hoje que há um século e meio. E os incêndios exacerbam simultaneamente as emissões de gases de efeito estufa, causando um “ciclo de retroalimentação”.

“Nessas regiões boreais, o CO2 se acumulou no solo por centenas de anos e foi protegido por uma camada úmida”, disse à agência AFP o analista da GFW James McCarthy. “Esses incêndios, mais frequentes e mais graves, queimam essa camada superior e liberam esse CO2”, acrescenta.

A dinâmica, alerta o estudo, pode fazer com que as florestas boreais deixem de ser reservas de carbono no médio prazo. Os pesquisadores pedem aos governos que fortaleçam a proteção florestal e combatam o desmatamento. “As florestas são uma das melhores defesas contra as mudanças climáticas”, explicou McCarthy.