Anúncios

Guaíba subiu muito desde ontem com chuva forte e ventania de Sul | FERNANDO OLIVEIRA

O nível do Guaíba subiu muito durante a madrugada de hoje em Porto Alegre e atinge uma das maiores cotas observadas oficialmente na cidade desde a enchente de 1941, superando alguns dos picos de cheias das grandes enchentes do Super El Niño de 2015-2016, quando o Guaíba passou por uma série de cheias de grande porte.

O nível do Guaíba estava em 2,40 metros às 21h de quarta, mas subiu acentuadamente durante a madrugada de hoje e atingia 2,65 metros na leitura da régua do Cais Mauá, junto ao Centro da capital, às 6h da manhã desta quinta-feira. Trata-se de uma cota já crítica para as ilhas da cidade com mais de metro de água em pontos do arquipélago.

A chuva volumosa, de 100 mm a 150 mm que caiu na Grande Porto Alegre, contribuiu para a forte alta, mas o principal fator para a elevação acentuada é o vento que se intensificou no final da quarta e nas primeiras horas de hoje.

Fortes rajadas de vento do quadrante Sul na Lagoa dos Patos por conta de ciclone acabaram por gerar um efeito esperado de represamento com consequente alta pronunciada do nível. As rajadas ficaram entre 70 km/h e 80 km/h sobre a lagoa e passaram de 60 km/h em Porto Alegre.

O nível medido no começo da manhã de hoje de 2,65 é um dos mais altos da série histórica de cheias em Porto Alegre desde 1941. Somente é superado pelas cotas atingidas em grandes cheias de 1967 e 2015. Trata-se da quarta maior marca nos últimos 82 anos, igualando o pico de 2016.

Como a tendência é de alta ainda, a perspectiva é que o Guaíba nesta quinta-feira atinja o maior nível desde a grande cheia de outubro de 2015, quando a cota quase encostou nos 3 metros, o ponto em que a água transborda no Cais Mauá. Naquela oportunidade, a água atingiu o cais pelas ondas geradas pelo vento e a passagem de embarcações.

O Guaíba deve seguir subindo hoje à medida que aumenta a vazão do Jacuí e de outros rios que desembocam no Delta após a chuva excessiva das últimas 24 a 48 horas. O vento do quadrante Sul ainda persiste e mantém o efeito de represamento.

Guaiba em cotas acima de 2,60 metros, mesmo não transbordando, já pode causar problemas na cidade fora das ilhas e na área central. As experiências de 2015 e 2016 mostram que ao passar de 2,60 metros as águas podem começar a sair pelas bocas de lobo e a rede de esgoto em bairros como São Geraldo e Navegantes, especialmente nas proximidades da Voluntários da Pátria. Nas cheias de 2015, pela rede de esgoto, houve alagamentos na Rodoviária e perto da sede do TJRS da Borges de Medeiros.

O Guaíba em patamar tão alta acaba gerando um efeito cascata na Grande Porto Alegre. Represa o Sinos e traz inundações em Canoas, igualmente gera o represamento do Gravataí e agrava o risco de inundações entre Cachoeirinha e Gravataí, e o represamento do Gravataí pelo Guaiba eleva o nível do Gravataí com represamento do Arroio Feijó na zona Norte de Porto Alegre e em Alvorada.

No momento, não se observa risco iminente de transbordamento no Centro de Porto Alegre, onde a cota de extravasamento no cais é de 3,00 metros e na Avenida Mauá de 3,20 metros, mas o cenário é de extrema atenção devido à cota já perto de 2,70 metros e a tendência ainda de alta que se observa.

O cenário é misto para os próximos dias. A vazão do Jacuí, principal contribuinte, vai aumentar muito com a chegada do grande volume que caiu de chuva no Centro do estado. O Taquari, o segundo maior contribuinte, por outro lado, observa alta, mas não teve muita chuva em suas cabeceiras e bacia na Serra. O vento passa a ser do quadrante Norte amanhã e no fim de semana, cessando o represamento, e não há expectativa de chuva até segunda.