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A Grande Porto Alegre teve uma condição muito rara de ser observada na região durante a madrugada desta quinta-feira. Houve ocorrência de raios com trovoadas mesmo com a temperatura muito baixa e frio abaixo de 10ºC na área metropolitana. Estações meteorológicas registravam no momento das trovoadas temperatura entre 8ºC e 9º C.

Raios entre 4h e 5h desta quinta na Lagoa dos Patos e no Sul da Grande Porto Alegre | METSUL

O mapa mostra os raios registrados entre 4h e 5h da manhã desta quinta-feira e que foram captados pelo sensor Global Lightning Mapper (GLM) a bordo do satélite GOES-19 da NOAA/NASA.

Como se observa no mapa, os raios se deram sobre as águas mais aquecida da Lagoa dos Patos e ainda no extremo Sul de Porto Alegre e de Viamão, que estão próximos do setor Norte da lagoa.

Nos últimos 30 anos, conforme a nossa memória na MetSul Meteorologia, é possível dizer que foram raríssimas as vezes em que se observou a ocorrência de trovoadas com temperatura tão baixa, inferior a 10ºC na área da capital.

Trovoadas são fenômenos atmosféricos associados a raios que ocorrem em especial nas nuvens do tipo Cumulonimbus, que se formam a partir de ar quente e úmido subindo rapidamente na atmosfera (convecção). Por isso, é raro haver trovoadas em dias frios: o frio dificulta justamente esse processo essencial para a formação das nuvens de tempestade.

Para que uma trovoada ocorra, é necessário haver instabilidade atmosférica. Isso significa que o ar quente e úmido próximo à superfície precisa subir rapidamente, encontrando ar mais frio em níveis mais altos da atmosfera.

Esse contraste gera correntes ascendentes fortes, responsáveis por alimentar a nuvem de tempestade e produzir os relâmpagos e trovões. No entanto, quando o ar está frio já desde a superfície, como ocorre em dias de inverno, em regra falta justamente este combustível necessário para iniciar o processo.

Além disso, o frio costuma estar associado a massas de ar mais secas e estáveis, o que reduz ainda mais a chance de trovoadas. Mesmo quando há precipitação em ambientes frios — como neve ou garoa congelada — ela tende a ser gerada por nuvens estratiformes, que não têm desenvolvimento vertical suficiente para gerar descargas elétricas.

Apesar disso, trovoadas com frio não são impossíveis. Elas podem acontecer, por exemplo, quando ar muito frio em altitude encontra uma superfície ainda relativamente quente, como pode ocorrer sobre o mar ou lagoas.

Também há um fenômeno chamado de “thundersnow” ou neve com trovoada, que é bastante incomum e costuma ocorrer nos Estados Unidos em poucas ocasiões.

Para que a neve com trovoadas ocorra é preciso que o ar suba com força e rapidez, formando nuvens espessas com partículas de gelo que colidem entre si, gerando eletricidade. Normalmente essas condições aparecem em áreas onde há sistemas de baixa pressão muito intensos, como ciclones extratropicais, ou quando o ar frio passa sobre superfícies mais quentes como lagos.

Imagem do canal de vapor do satélite GOES-19 das 5h desta quinta-feira mostra o vórtice do ciclone no Leste e no Nordeste do Rio Grande do Sul | METSUL

Não houve neve, mas eram justamente estas as condições presentes na madrugada desta quinta-feira no Sul da Grande Porto Alegre. As trovoadas ocorreram no Norte da Lagoa dos Patos e áreas próximas e sob a influência do vórtice de um ciclone extratropical rente à costa que trazia forte instabilidade e levantamento vertical do ar na atmosfera.

O ciclone extratropical segue trazendo vento por vezes com rajadas fortes a intensas  chuva em alguns momentos moderada a forte, ocasionalmente torrencial em alguns pontos, com a manutenção ciclônica na manhã desta quinta-feira entre o Norte da Lagoa dos Patos, a Grande Porto Alegre e o Litoral Norte.

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